O avião supersônico X-59, da Nasa, finalmente voou, reacendendo a esperança de operação comercial civil

O projeto busca reduzir o ruído do estrondo sônico e estabelecer as bases para uma nova regulamentação

O avião supersônico X-59 / Imagem: Lockheed Martin
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Atualmente, o voo supersônico civil é uma lembrança distante, uma façanha que deixou mais perguntas do que certezas após o fim do Concorde. A indústria passou a se concentrar em eficiência e autonomia, e o sonho de cruzar continentes mais rapidamente ficou guardado, em parte porque o ruído do estrondo sônico o tornava um privilégio limitado e polêmico. Hoje, esse sonho volta a aparecer, não com promessas grandiosas, mas com um objetivo muito concreto: demonstrar que é possível voar mais rápido que o som sem incomodar quem está em terra.

Esse retorno já não é apenas uma intenção registrada em documentos, nem um protótipo estático. Em 28 de outubro de 2025, o X-59 deixou o solo pela primeira vez em Palmdale, Califórnia, e pousou pouco depois no Centro Armstrong da Nasa, em Edwards. A decolagem foi deliberadamente contida, pensada para validar sistemas e o comportamento básico em voo. Após o pouso, a Lockheed Martin afirmou que “o X-59 realizou exatamente o previsto”, sinal de que o projeto entra na fase em que os testes substituem maquetes e promessas.

O projeto que pretende mudar meio século de regras do ar

O X-59 é um demonstrador tecnológico desenvolvido pela NASA em parceria com a Lockheed Martin para tentar resolver o maior obstáculo do voo supersônico civil: o ruído. Seu design busca produzir um “impacto” muito mais suave do que o estrondo que, por décadas, limitou essas aeronaves.

Alguns elementos essenciais para esse objetivo são a fuselagem longa e estilizada, a cabine posicionada no meio do corpo e um sistema de visão externa em 4K (em vez de janela frontal), são. Ele não pretende ser um avião comercial, mas sim gerar os dados que poderão permitir isso algum dia.

O primeiro voo foi prudente por design. A Nasa havia previsto que a decolagem inicial se concentraria em verificar a integração dos sistemas, a estabilidade e as comunicações, sem ainda alcançar altas velocidades ou altitudes extremas. Segundo o planejamento, foi um circuito em baixa altitude e baixa velocidade para validar o essencial: se a aeronave responde, se a telemetria funciona e se os controles se comportam como esperado. O supersônico virá depois, quando o programa avançar para a próxima fase de testes.

O caminho até esse primeiro voo foi longo. A Nasa lançou o projeto em 2016 e, inicialmente, havia previsto a decolagem para 2020, um prazo que acabou sendo adiado após desafios técnicos identificados em 2023. O avião foi apresentado oficialmente em janeiro de 2024 nas instalações da Skunk Works e, ao longo de 2025, completou testes de motor, verificações de integração e ensaios de taxiamento. Em 10 de julho daquele ano, o piloto de testes Nils Larson realizou o primeiro taxiamento em baixa velocidade, sinal de que a fase em solo estava chegando ao fim.

Agora, o programa entra em modo progressivo. Primeiro, serão realizados voos adicionais de verificação e, em seguida, a velocidade e a altitude serão gradualmente aumentadas até atingir o regime supersônico previsto, com um teto de Mach 1,4, segundo a folha de rota oficial. A Nasa e a Lockheed Martin coletarão dados aerodinâmicos e acústicos durante essa etapa na base de Edwards. No futuro, o avião sobrevoará áreas habitadas para avaliar a reação do público, um elemento-chave para levar os resultados aos reguladores.

Além da tecnologia, o desafio do supersônico passa pela regulamentação. Nos EUA, voos de passageiros a mais de Mach 1 sobre terra são proibidos desde 1973, quando o Congresso impôs a medida devido ao impacto acústico. Outros países aplicam restrições similares. O programa Quesst busca fornecer evidências científicas que permitam reconsiderar essas regras, não com base em hipóteses, mas em medições verificáveis. Se a Nasa conseguir demonstrar que o ruído do X-59 é tolerável, a aviação civil poderia recuperar parte do terreno perdido após o Concorde.

Convém não confundir o X-59 com um protótipo de futuro avião de passageiros. Ele é, antes de tudo, um banco de testes. Não transportará civis nem será colocado à venda: sua função é gerar evidências sobre a viabilidade de um voo supersônico silencioso. A Nasa pretende que os dados acústicos e sociais sirvam como referência para ajustar a regulamentação. A partir daí, se a indústria considerar que o cenário é favorável, poderão surgir projetos comerciais inspirados nesse experimento, mas esse horizonte ainda está distante.

A partir de agora, cada voo fornecerá informações que permitirão saber se a aposta do X-59 tem potencial além da pesquisa. A chave não estará na velocidade máxima, mas na pegada sonora e na resposta social gerada pelos testes em comunidades reais. Só então os reguladores decidirão se é o momento de revisar normas que permaneceram quase inalteradas desde os anos setenta. O projeto não promete um novo Concorde, mas sim a possibilidade de abrir um caminho que até agora parecia fechado.

Imagens | Lockheed Martin (1, 2)

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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