Um míssil soviético está destruindo os helicópteros da Ucrânia; o problema é que não é russo: vem do Ocidente

Apesar das sanções, a Rússia continua encontrando formas de empregar tecnologia estrangeira

Drone russo / Imagem: Kyiv City State Administration
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Foram tantas as ocasiões em que a Ucrânia interceptou um drone russo, o abriu e descobriu que, de russo, ele só tinha o nome, que parecia difícil que Kiev voltasse a se surpreender com um “unboxing” do inimigo. Ocorre que a Ucrânia vem, há semanas, pedindo ajuda para combater um míssil russo muito especial.

E, quando conseguiu interceptar um, a surpresa surgiu mais uma vez.

Um Shahed modificado

O aparecimento na frente ucraniana de um novo drone russo Geran-2 armado com um míssil ar-ar marcou uma nova virada na evolução do conflito e na adaptação constante de Moscou a um campo de batalha cada vez mais dominado por sistemas não tripulados. Segundo a inteligência militar ucraniana, esse modelo (derivado do Shahed-136 iraniano) foi visto pela primeira vez equipado com um míssil soviético R-60, projetado originalmente nos anos 1970 para caças de combate.

Não se trata de uma mera curiosidade técnica, mas de uma tentativa deliberada de introduzir uma ameaça direta contra helicópteros e aeronaves ucranianas dedicadas a tarefas de defesa aérea e interceptação de drones, ampliando o papel do Geran-2 para além do ataque suicida clássico contra alvos em terra.

O objetivo principal dessa modificação, segundo a avaliação ucraniana, foi degradar a eficácia da aviação tática de Kiev, obrigando-a a operar com maior cautela diante de enxames de drones. De fato, essa adaptação tem sido uma verdadeira dor de cabeça para os helicópteros de Kiev.

Como? Ao integrar um míssil R-60 de guiagem infravermelha e com alcance aproximado de 10 km, a Rússia introduz a possibilidade de que um drone, tradicionalmente vulnerável, possa contra-atacar se detectar um helicóptero ou uma aeronave próxima por meio de suas câmeras. Isso representa uma troca clara: o míssil ocupa espaço e peso, o que reduz a carga explosiva interna do drone e, portanto, sua capacidade destrutiva contra alvos terrestres. Em contrapartida, aumenta sua sobrevivência potencial e seu valor como ferramenta de dissuasão aérea.

Relatório do RU sobre a atualização do Shahed com o míssil Relatório do RU sobre a atualização do Shahed com o míssil

As peças “aliadas”

Um dos elementos mais sensíveis do relatório do GUR é a constatação, ao dissecar essa evolução, de que esse novo Geran-2 contém a maior parte de seus componentes fabricados fora da Rússia, incluindo na equação elementos provenientes de EUA, Reino Unido, Alemanha, Suíça, China, Japão e Taiwan.

Esse padrão está longe de ser novo, mas volta a evidenciar as limitações das sanções internacionais. Apesar dos controles de exportação e das restrições tecnológicas, componentes de uso civil (chips, sensores, sistemas eletrônicos) continuam chegando à indústria militar russa por meio de mercados cinzentos, intermediários ou países que contornam ou aplicam de forma frouxa as normas de controle.

A Ucrânia vem alertando há tempos sobre a dimensão do problema. Em um dos ataques massivos deste outono, o presidente Volodymyr Zelensky afirmou que haviam sido identificados mais de 100 mil componentes de origem estrangeira em um único lote de 550 drones e mísseis lançados pela Rússia.

O número ilustra não apenas a persistência das brechas no regime de sanções, mas também a escala industrial que Moscou alcançou na produção e adaptação de drones, apoiando-se em tecnologias que, em teoria, deveriam estar fora de seu alcance.

Campo de testes

Embora o uso de drones armados com mísseis ar-ar seja chamativo, o fato é que isso não é completamente inédito nesta guerra. A Ucrânia também experimentou a integração de mísseis superfície-ar em drones navais, conseguindo derrubar aeronaves russas sobre o mar Negro.

O conflito se transformou, assim, em um laboratório em tempo real, no qual ambos os lados testam combinações improvisadas de plataformas baratas e armamentos herdados, adaptando-os a novas missões com rapidez surpreendente.

A introdução desse Geran-2 armado coincide com um investimento sustentado da Rússia em operações com drones, tanto na produção nacional quanto na criação de novas infraestruturas de lançamento.

Para além do impacto imediato no campo de batalha, a mensagem é estratégica: Moscou busca complicar cada camada da defesa ucraniana, mesmo ao custo de sacrificar parte do poder destrutivo de seus drones, e demonstra que, apesar das sanções, continua encontrando formas de combinar tecnologia estrangeira, armamento herdado e produção em massa para sustentar seu esforço de guerra.

Imagem | Kyiv City State Administration

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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