O BRICS, bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros países emergentes, está desenvolvendo a criação de um sistema próprio de pagamentos instantâneos, chamado de BRICS Pay, como se fosse um “pix do Brics”. A iniciativa, ainda em fase de testes, tem por objetivo facilitar transferências internacionais entre os países do bloco, reduzir custos e oferecer mais segurança nas transações.
Apesar de ainda não ser um projeto oficial, a proposta já está chamando atenção de outros países. Ao criar uma alternativa que diminui a dependência do dólar, o BRICS incomoda diretamente os Estados Unidos e virou alvo de críticas do presidente Donald Trump.
O que é o pix do BRICS?
O BRICS Pay é uma plataforma de pagamentos criada para permitir transferências rápidas, seguras e mais baratas entre os países do bloco. A proposta surgiu da Rússia, mas vem sendo discutida no Conselho Empresarial dos BRICS, onde cada país apresenta ideias para aproximar os sistemas financeiros.
Apesar de ser chamado de “Pix global”, o projeto não é uma moeda única e nem substitui os sistemas já existentes, como o pix brasileiro. Na verdade, o BRICS Pay é uma ferramenta complementar, pensada para aumentar a eficiência nas transações entre os 11 países que hoje fazem parte do grupo, entre eles Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos, que ingressaram em 2024.
Por enquanto, não há consenso oficial entre os governos. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), que representa o Brasil, afirmou em nota que o tema segue em nível “exploratório” e depende de diálogo com reguladores nacionais, como o Banco Central.
Como o pix do BRICS funciona?
O BRICS Pay ainda está em fase de testes, mas o lançamento da novidade está previsto para o final de setembro de 2025. Em entrevista para a revista EXAME, Andrey Mikhaylishin, membro da força-tarefa de pagamentos e fintechs do grupo, disse que já existem testes-piloto em andamento com parceiros-chave.
Mas, na prática, como funciona o pix do BRICS? O sistema utiliza o Decentralized Cross-border Messaging System (DCMS), uma tecnologia descentralizada inspirada no blockchain. Diferente do modelo centralizado do SWIFT, esse formato distribui a validação das mensagens financeiras em vários pontos da rede, o que aumenta a segurança e reduz custos.
Outra novidade seria a interoperabilidade com o Pix brasileiro. A ideia é criar um “gateway” que permita, por exemplo, que um turista pague um restaurante em São Paulo usando a carteira digital do seu país, ou que um brasileiro faça compras no exterior apenas escaneando um QR code.
Entenda por que o pix do BRICS é uma ameaça ao governo Trump
A criação do BRICS Pay está dando o que falar nos Estados Unidos. Para os países pertencentes ao bloco, o BRICS Pay significa eficiência e economia, mas para os Estados Unidos, representa menos dólar em circulação internacional. Isso porque a plataforma permitiria que países do bloco realizem transações diretamente entre si, o que, consequentemente, reduziria a dependência da moeda norte-americana.
O presidente Donald Trump classificou o BRICS como um “grupo antiamericano”, afirmando que qualquer iniciativa que reduza o uso do dólar enfraquece os EUA, representando uma ameaça ao país. Vale lembrar que, recentemente, o presidente norte-americano impôs tarifas de 10% sobre as importações brasileiras e determinou uma investigação sobre o Pix, acusando o sistema de discriminação contra empresas norte-americanas. As medidas reforçam a estratégia do governo Trump de reagir sempre que percebe risco à posição dominante da moeda americana.
Ou seja, na prática, o debate sobre o BRICS Pay vai muito além de uma inovação econômica. Ele está no centro de uma disputa geopolítica que coloca de um lado as economias emergentes, buscando maior autonomia, e de outro os Estados Unidos, tentando preservar a força do dólar como moeda global.
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