Obcecada em superar a China, a NASA acaba de fazer o impensável com sua missão lunar Artemis II: adiantá-la

  • Os Estados Unidos tentarão retornar à órbita lunar já em 5 de fevereiro de 2026;

  • Artemis II retornará à Terra em uma trajetória diferente para evitar os problemas da Artemis I

Imagem | NASA
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Fabrício Mainenti

Redator

Parecia que o programa Artemis estava destinado a ser adiado repetidas vezes, mas a mais recente iniciativa da NASA revela a enorme pressão geopolítica do momento. Artemis II, a missão com a qual os Estados Unidos retornarão à órbita lunar pela primeira vez em mais de 50 anos, não está mais programada para abril de 2026. A janela de lançamento foi adiantada para 5 de fevereiro.

Uma declaração de intenções

Este adiantamento de dois meses não é uma simples recalibração do cronograma da missão Artemis. É a resposta velada da NASA à sensação de que os Estados Unidos estão ficando para trás em relação ao metódico programa lunar da China.

A NASA reconhece que "há um desejo de que sejamos os primeiros a retornar à superfície da Lua", e Artemis II é um primeiro passo. A missão sem pouso havia sido adiada de 2024 para 2025 e, posteriormente, para "não antes de abril de 2026". Agora, a janela de lançamento abre dois meses antes: 5 de fevereiro de 2026, com a data prevista definida como "no máximo em abril de 2026".

Resolvendo os fantasmas da Artemis I

Para entender por que esse avanço é significativo, precisamos lembrar a razão da Artemis II ter sido adiada. A principal causa foi o escudo térmico da espaçonave Orion. Após o retorno da missão não tripulada Artemis I, em 2022, os engenheiros da NASA se depararam com uma surpresa perturbadora: o escudo da Orion havia perdido pedaços de material protetor. Os gases gerados pelo calor da reentrada não se dissiparam como esperado, criando uma sobrepressão que arrancou fragmentos do escudo.

Após quase dois anos de investigação, a NASA afirma ter compreendido e resolvido o problema com "a máxima confiança". A solução, no entanto, é bastante simples: modificaram a trajetória da nave espacial em seu retorno à Terra para evitar a reprodução das altas temperaturas que causaram a falha. Além disso, a NASA corrigiu outras pequenas falhas, como os vazamentos de hidrogênio líquido que prejudicaram as tentativas de lançamento da Artemis I.

A segunda corrida espacial

"O governo nos pediu para reconhecer que estamos no que é comumente chamado de uma segunda corrida espacial", disse Lakiesha Hawkins, administradora adjunta da NASA, esquivando-se do assunto. Seu atual chefe, Sean Duffy, administrador interino da agência e secretário de transportes de Trump, tem uma retórica mais direta: "Vamos chegar à Lua antes dos chineses". O temor em Washington é que a China, que planeja enviar seus primeiros astronautas à superfície lunar em 2030, atrapalhe a missão americana Artemis III.

Enquanto o programa Artemis acumulava atrasos (em grande parte devido ao lento desenvolvimento da nave espacial Starship, da SpaceX, necessária para o pouso lunar da Artemis III), o programa chinês avançava de forma constante e silenciosa. Especialistas em capacidades espaciais da China, como Dean Cheng, chegaram a afirmar que é "bem provável que os chineses pousem na Lua antes da NASA". Antecipar o Artemis II (a etapa anterior sem pouso lunar) é a maneira da NASA mostrar que ainda está no jogo.

O que é a Artemis II?

Seu principal objetivo é certificar que a sonda Orion e o foguete SLS podem transportar humanos com segurança à Lua. Durante dez dias, os astronautas americanos Reid Wiseman, Victor Glover e Christina Koch, assim como o canadense Jeremy Hansen, orbitarão a Lua sem pousar, seguindo uma trajetória de retorno livre que os trará de volta à Terra.

A missão também tem um significado simbólico significativo. Eles serão os primeiros humanos em mais de 50 anos a deixar a órbita baixa da Terra, viajando mais longe do que qualquer outro humano na história, a mais de 9 mil quilômetros do lado oculto da Lua. Desse ponto de vista único, eles conduzirão observações geológicas cruciais, fotografando crateras e fluxos de lava antigos. Eles podem até ser os primeiros humanos a ver com seus próprios olhos a Bacia Leste, uma estrutura gigantesca na fronteira entre os lados próximo e distante da Lua. Suas descrições e dados serão vitais para o pouso lunar da Artemis III.

A grande ironia

O lançamento antecipado da Artemis II é um movimento calculado. A NASA está mostrando ao mundo que superou seus problemas técnicos e está pronta para acelerar. Artemis II não é apenas um passo em direção à Lua; é uma corrida em uma disputa geopolítica pelo controle dos recursos lunares.

A grande contradição é que, enquanto a NASA acelera o sobrevoo da Artemis II, sua missão principal, o pouso na Lua da Artemis III, programado para 2027, continua em sérios apuros. Há poucos dias, o painel consultivo de segurança da agência emitiu um alerta contundente: eles duvidam muito que a versão modificada da Starship, da SpaceX, esteja pronta a tempo. A estimativa deles é que ela possa acumular um atraso de "anos". Portanto, o resultado dessa corrida espacial permanece em aberto.

Imagem | NASA

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