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A NASA estava errada desde 1986: uma revisão da missão Voyager 2 revelou que Urano não é como se pensava

A ideia de que Urano é um mundo estranho e energeticamente morto acaba de ser derrubada

Os cientistas demonstraram que Urano realmente emite mais calor do que recebe do Sol / Imagem: NASA/Erich Karkoschka
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Victor Bianchin

Redator
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Victor Bianchin é jornalista.

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Urano, o planeta que orbita de lado, sempre foi o esquisitão do nosso Sistema Solar. Desde que a sonda Voyager 2, da NASA, sobrevoou o planeta em 1986, os astrônomos enfrentam um mistério desconcertante: diferentemente de seus “primos” gasosos Júpiter, Saturno e Netuno, Urano parecia não ter uma fonte interna significativa de calor. Parecia, na aparência, um mundo inerte e energeticamente morto. Mas essa ideia acaba de ser derrubada.

Antes de tudo, um pouco de contexto. Em janeiro de 1986, a sonda Voyager 2 se tornou a primeira e única nave a visitar Urano, nos presenteando com as imagens mais icônicas do planeta e dados que formaram a base de tudo o que sabemos sobre ele. Um dos dados mais importantes foi seu balanço energético, o calor que ele emite em relação ao que recebe do Sol.

Os planetas gigantes têm uma massa imensa, o que lhes permite reter uma quantidade considerável do calor da sua formação e liberá-lo ao longo de bilhões de anos. Esse fluxo de calor interno é evidente em Júpiter, Saturno e Netuno. No entanto, os dados do instrumento IRIS da Voyager 2 contaram uma história muito diferente sobre Urano.

Segundo um estudo de 1990, o planeta emitia uma quantidade de energia quase idêntica à que recebia do Sol: o fluxo de calor interno era estatisticamente indistinguível de zero. Urano tornou-se assim a anomalia do Sistema Solar: um gigante gelado que, por alguma razão, havia se resfriado muito mais rápido ou se formado de maneira completamente diferente dos outros planetas.

Ele não estava morto

Um novo estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Houston finalmente resolveu o mistério. Após analisar décadas de dados, os cientistas demonstraram que Urano realmente emite mais calor do que recebe do Sol. Não é o planeta inerte que pensávamos, mas um mundo dinâmico com um motor interno que, embora modesto, está muito presente no balanço energético.

O erro não estava nas medições da Voyager 2, mas na interpretação de uma única fotografia no tempo. É aqui que entra o novo estudo liderado por Xinyue Wang e Liming Li, da Universidade de Houston. Em vez de basear-se apenas no sobrevoo de 1986, a equipe reuniu e analisou dados de um período muito mais longo (de 1946 a 2030), abrangendo quase uma órbita completa de Urano, que dura 84 anos terrestres.

Urano é um planeta de extremos. Seu eixo de rotação está inclinado em 97,7 graus, o que faz com que ele praticamente role sobre sua órbita. Isso, somado à órbita notavelmente longa, provoca estações extremas que duram cerca de 21 anos cada, com um hemisfério banhado por luz solar contínua enquanto o outro permanece em uma escuridão gelada.

Os pesquisadores descobriram que esse ciclo sazonal é a chave de tudo. A energia solar que o planeta absorve não é constante, mas varia significativamente ao longo do seu ano. As análises de 1986, feitas perto do solstício de inverno do hemisfério norte, não capturaram a imagem completa. Ao fazer a média do balanço energético ao longo de toda a órbita, os resultados são inequívocos: Urano emite consistentemente 12,5% mais energia do que recebe do Sol.

Urano agora se encaixa muito melhor nos modelos de formação dos planetas gigantes. Ele tem um motor interno, embora mais fraco que o de seus vizinhos, o que sugere que sua evolução foi mais parecida com a dos outros do que se pensava. Essa descoberta não apenas muda nossa compreensão sobre como os planetas gigantes se formam e evoluem, mas também chega no momento certo, já que tanto a NASA quanto a China preparam missões para visitá-lo.

Se a pergunta é por que a Voyager 2 obteve uma imagem tão enganosa do planeta, a resposta é simplesmente azar. Nos dias que antecederam o sobrevoo de 1986, o Sol bombardeou Urano com uma tempestade geomagnética incomumente forte. Esse fenômeno comprimiu a magnetosfera do planeta, fazendo com que a nave capturasse dados em um dia de condições extremas.

Imagem | NASA/Erich Karkoschka

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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