O que a SpaceX conquistou com a Starship é incrível: o problema é que isso foi feito às custas da saúde de funcionários

A SpaceX é incomparável. A velocidade com que monta seus foguetes, realiza testes e faz iterações em seus projetos está muito à frente da concorrência. Mas isso tem um custo oculto: uma taxa de feridos quatro vezes maior que a de seus rivais, lembrando os índices de segurança de 30 anos atrás.

Contexto

A Starbase é a base da Starship, o local onde a empresa aeroespacial de Elon Musk fabrica e testa o gigantesco foguete Starship com a ambição de lançar milhares de naves espaciais a Marte nas próximas décadas.

Embora o programa tenha alcançado feitos tecnológicos impensáveis, seu ritmo frenético e cronogramas acelerados estão cobrando um alto preço humano, especialmente quando se comparam os riscos assumidos pela SpaceX com a cautela habitual da indústria espacial.

Seis vezes mais acidentes de trabalho

Dados oficiais analisados pelo TechCrunch revelam que a Starbase sofre seis vezes mais acidentes de trabalho do que a média do setor, tornando-se a fábrica de foguetes com maior risco de lesões nos Estados Unidos.

A sede da SpaceX registrou uma taxa de lesões quatro vezes maior que a de seus concorrentes e semelhante aos números de 30 anos atrás, quando os protocolos de segurança eram menos rigorosos.

Números públicos

Os índices foram extraídos do banco de dados da Administração de Segurança e Saúde Ocupacional dos EUA (OSHA) e utilizam uma métrica padronizada: a Taxa Total de Incidentes Registráveis (TRIR), que calcula o número de lesões em um ano para cada 100 trabalhadores em tempo integral. São dados públicos que a SpaceX é obrigada a reportar.

A TRIR da Starbase em 2023 foi de 5,9. Ou seja, para cada 100 funcionários, houve quase seis lesões registráveis. Em comparação, a média para o setor de fabricação de veículos espaciais foi de 0,7. E a média para todo o setor espacial foi de 1,6.

Retrocesso de 30 anos

Embora a TRIR da Starbase tenha melhorado para 4,27 em 2024, ainda é comparável ao que o setor apresentava há 30 anos. Em 1994, a taxa média era de 4,2. Na Starbase, com 2.690 funcionários em 2024, mais de quatro lesões por 100 funcionários representaram 3.558 dias de trabalho restrito e 656 dias de licença médica.

A Starbase não é apenas um ponto fora da curva em comparação com o restante da indústria, mas também dentro da própria SpaceX. Nenhuma das demais instalações da empresa se aproxima dos números do sudeste do Texas, exceto pelas operações arriscadas de recuperação de foguetes offshore (com um TRIR de 7,6).

Enquanto a Starbase registrou 4,27 em 2024, a fábrica de foguetes Falcon em Hawthorne, Califórnia, registrou 1,43 — um número mais próximo ao de concorrentes como a Blue Origin (1,09 em sua fábrica na Flórida) ou a United Launch Alliance (1,12 em sua fábrica no Alabama). Por outro lado, a fábrica de terminais da Starlink em Bastrop registrou 3,49; a fábrica de satélites em Redmond, 2,89; e a fábrica de motores em McGregor, 2,48.

Agindo rápido e quebrando coisas

A filosofia de Elon Musk funciona quando aplicada a foguetes, mas falha quando aplicada à segurança de seus funcionários. O que Musk diz? Que a mídia tradicional mente. Ou pelo menos foi isso que ele afirmou quando a Reuters noticiou que a SpaceX não havia relatado ferimentos, incluindo amputações, membros esmagados e uma morte causada por uma rajada de vento que arremessou um funcionário de um caminhão.

O que a NASA diz? Os contratos da NASA com a SpaceX incluem cláusulas específicas que permitem à agência intervir em caso de “violação grave de segurança”, como uma sanção “repetida” da OSHA. A alta taxa de TRIR, por si só, não é suficiente para acionar essas cláusulas.

Imagem | SpaceX