Na Itália, agricultores estão tão fartos dos turistas que estão instalando catracas nas montanhas

  • Grupo de agricultores da região das Dolomitas instalou catraca em trilha.

  • Milhares de turistas passam pela região e moradores dizem estar fartos do lixo e dos danos às propriedades.

Imagens | Robert J. Heath (Flickr), Karen (Flickr)
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PH Mota

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PH Mota

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Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

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Há muitos lugares onde se esperaria encontrar uma catraca. Em museus, aeroportos, estações de metrô, bibliotecas, academias, banheiros, estádios... A lista é longa e extensa. Mas onde provavelmente ninguém esperaria ver uma catraca de acesso é nas Dolomitas, as montanhas escarpadas dos Alpes Orientais italianos. Afinal, por que uma cerca metálica no meio do campo?

Se você fizer essa pergunta aos agricultores de Seceda, a resposta é: para manter os turistas longe. É por isso que eles instalaram uma catraca em uma rota movimentada da região.

Paisagem inesperada

Os Alpes nos dão paisagens de cartão-postal, mas não é o que se pode na rota panorâmica Odle de Seceda, uma montanha nas Dolomitas localizada em Val Gardena. Além de encostas verdes, picos íngremes e pores do sol cinematográficos, desde o início de julho há um novo elemento na região que altera a paisagem: uma catraca de metal, com suas barras, seu porta-moedas e uma placa que diz "Entrada para a famosa rota das rochas €$ 5", pouco mais de R$ 30.

Original Imagem | The Zmora (Flickr)

Quem a colocou lá?

Um grupo de agricultores locais, cansados de ver o movimento contínuo de turistas em busca de fotos para o Instagram ou da melhor selfie. O Telegraph especifica que a iniciativa partiu de quatro proprietários de terras que a trilha atravessa. Não é apenas o fato de a área receber milhares de visitantes na alta temporada (até pouco tempo atrás, falava-se em 8 mil num único dia), o que por si só já exerce uma pressão considerável sobre o meio ambiente — é que esse fluxo, denunciam os proprietários, vem acompanhado de "danos" às suas terras e lixo.

"As autoridades precisam entender que, enquanto as operadoras de teleféricos recebem grandes quantias de dinheiro pela invasão de turistas, nós não ganhamos nada. E, no entanto, temos que arcar com o custo dos danos às nossas terras e do lixo deixado por visitantes desrespeitosos", diz Georg Rabanser, proprietário de um dos terrenos atravessados pela trilha. Daí a decisão de instalar uma catraca com pedágio de cinco euros (crianças e moradores locais estão isentos) e uma pessoa responsável por controlar o acesso e exigir o pagamento da taxa.

Catraca removível

A iniciativa dos agricultores italianos poderia ter passado despercebida, se a catraca não tivesse gerado considerável polêmica no país. Poucos dias após a divulgação da notícia, o dispositivo já havia sido removido, então os caminhantes subiram novamente sem problemas (nem pedágios) até o mirante de Odle. Mas não foi o fim da história, como mostrou o jornal Il Post, que noticiou que a catraca entrou novamente em operação com seu polêmico imposto.

Objetivo: lançar um SOS

Seus promotores decidiram reinstalá-la para alcançar o que sempre buscaram: despertar a consciência das administrações públicas para que busquem soluções para o intenso fluxo de turistas, "trilhas abandonadas e prados cheios de lixo". "Foi um pedido de ajuda. Estávamos esperando um chamado das autoridades provinciais. Mas nada. Só lemos comunicados de imprensa, rumores, nada de concreto."

"Nem sequer recebemos cartas de advertência, então seguimos em frente. A província precisa entender que, enquanto as instalações [turísticas] lucram muito com os visitantes, nós temos despesas e prejuízos, além de resíduos abandonados e prados arruinados por hordas de turistas", conclui Rabanser.

O debate, claro, está longe de estar resolvido. Os proprietários dos terrenos por onde passa a trilha alegam que suas terras sofrem com a avalanche de turistas, mas a situação é muito mais complexa. A lei italiana permite o livre acesso a locais como as Dolomitas, embora existam certos lugares no país, como a popular Via dell'Amore, em Cinque Terre, que cobram uma taxa de acesso.

Em segundo plano, há um debate ainda mais amplo, com implicações que vão além de Seceda: se os agricultores locais têm permissão para instalar catracas, os proprietários de outros terrenos atravessados por trilhas turísticas terão o mesmo direito?

Campo de catracas?

"Não quero que o Tirol do Sul se torne um território de catracas", insiste Carlo Alberto Zanella, do Clube Alpino Italiano. "É impensável que todos os proprietários de terras atravessadas por trilhas comecem a cobrar pedágios para acesso." As catracas também não são a única maneira de evitar que os turistas danifiquem o meio ambiente. Além disso, as autoridades já contrataram mais engenheiros florestais para impedir que os visitantes saiam das trilhas ou usem drones.

Imagens | Robert J. Heath (Flickr), Karen (Flickr) e The Zmora (Flickr)

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