Tendências do dia

Já sabemos quem vai beber todo o café que o Brasil não exportará para os EUA por causa das tarifas: a China

  • A China se tornou o principal player no consumo de café no mundo.

  • O Brasil é o principal produtor de café e, com a ameaça de tarifas de Trump, se torna o maior fornecedor de cafeína para a China.

Parceria comercial entre China e Brasil é a saída para as taxas abusivas aplicadas por Trump | Imagem: Shwangtianyuan, Takeaway, Poon SHUISHOU Simmonz
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Igor Gomes

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Igor Gomes

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Subeditor do Xataka Brasil. Jornalista há 15 anos, já trabalhou em jornais diários, revistas semanais e podcasts. Quando criança, desmontava os brinquedos para tentar entender como eles funcionavam e nunca conseguia montar de volta.

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Sem contar a água, o café seria a bebida mais consumida no mundo. Isso se deve aos seus benefícios para o corpo, ao seu teor de cafeína e até mesmo aos seus efeitos psicológicos. E um país que recentemente "descobriu" o café é a China. De fato, o consumo disparou a tal ponto que, em meio à crise tarifária dos EUA, tornou-se uma tábua de salvação para o maior produtor mundial de café.

Em resumo

Nos últimos meses, a indústria do café vivenciou uma "tempestade perfeita" que elevou significativamente o preço das variedades Arábica e Robusta. Os motivos? Vários: tempestades e secas que afetaram a colheita, dificuldades de transporte e uma demanda difícil de atender. O fator mais recente a se somar a essa situação foram as tarifas de Donald Trump.

A ameaça de tarifas sobre os principais produtores de café já vinha pairando há algum tempo, mas, como aponta a Reuters, uma tarifa de 50% sobre alguns produtos brasileiros finalmente entrou em vigor em 6 de agosto. Atualmente, o Brasil vende cerca de oito milhões de sacas de café anualmente para os EUA, respondendo por um terço da demanda global do país a cada ano, em um comércio avaliado em US$ 4,4 bilhões. Resta saber o que acontecerá agora que comprar esse café ficará mais caro.

Aproximando-se da China

O Brasil não só vende muito café para os Estados Unidos: também exporta suco de laranja e uma grande quantidade de carne bovina, entre outros produtos. Mas a China não está tão distante do país sul-americano em termos de comércio. Aliás, em geral, é seu principal parceiro comercial. Eles compram soja (70% da soja que o Brasil exporta vai para a China), minério de ferro vital para as enormes indústrias de aço e construção do "Gigante Asiático", petróleo, carne, celulose e outros produtos como açúcar, madeira e algodão.

Em junho deste ano, o Brasil exportou 440.034 sacas de café para os EUA, em comparação com 56.000 sacas exportadas para a China. No entanto, o número mudará a partir de agora, pois, como confirma a Reuters, a China aprovou a exportação de 183 novas empresas brasileiras de café para o mercado chinês.

Sede de café

Isso será bom para o Brasil, mas também deve influenciar o preço de uma xícara na China, onde o consumo de café disparou na última década. Estima-se que o consumo tenha crescido a taxas de dois dígitos desde 2010, com um crescimento médio anual de mais de 20%, bem acima da média global de apenas 2%.

Em 2023, cerca de 5,8 milhões de sacas foram consumidas, e estima-se que até 2025 esse número suba para 6,3 milhões, o dobro do registrado em 2019. Embora o consumo per capita seja menor do que em outros países, estima-se que cerca de 400 milhões de pessoas bebam café regularmente. E esse número continua crescendo.

As cafeterias estão crescendo rapidamente

A maioria desses novos consumidores são jovens adultos entre 25 e 44 anos que reúnem uma série de características em comum. São moradores de grandes cidades com altos níveis de educação e renda. E essa crescente popularidade do café se deve, em grande parte, à abertura de milhares de novas cafeterias e cafés.

Estima-se que o boom das cafeterias na China tenha aumentado mais de 50% nos últimos dois anos, com Xangai se tornando a capital mundial das cafeterias, com cerca de 9.500 lojas. E tudo isso se traduz em um mercado cujo valor continua a crescer, passando de US$ 38 bilhões em 2023 para US$ 43 bilhões em 2024.

Mudanças no paladar

Outros fatores influenciam o crescimento desse setor, como a urbanização, a ascensão da classe média e a influência ocidental, com marcas como Starbucks e concorrentes nacionais como Luckin Coffee transformando a bebida em uma espécie de "tendência" entre as gerações mais jovens.

E a própria "cultura do café" também está plantando suas sementes. Estima-se que o café instantâneo e a bebida consumida junto com outros cafés, como um drinque misto, ainda predominem, mas o café especial e o consumo de bebidas com grãos moídos na hora também estão ganhando espaço, conquistando mais de 40% do mercado de café chinês até 2023.

Em suma, a "sede por café" na China não apenas redefine os hábitos de consumo, mas também pode ser uma tábua de salvação econômica para os produtores brasileiros diante de um cenário internacional incerto. Resta saber se os consumidores americanos estarão dispostos a pagar mais pelo café ou se, como apontam figuras do setor como a cúpula do Grupo Lavazza, esses consumidores já estão se afogando no preço de uma xícara.

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