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Há anos, o Japão assiste ao colapso gradual de sua natalidade; agora, enfrenta o resultado: o "Problema 2025"

A população do Baby Boom da metade do século 20 está prestes a ultrapassar os 75 anos — como isso afetará a economia e a sociedade do país?

População japonesa envelhece e a economia vai sofrer / Imagem: Woody Yan (Unsplash)
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

O Japão tem um enorme desafio populacional pela frente, uma bomba-relógio demográfica alimentada por uma taxa de natalidade que vem diminuindo até atingir níveis historicamente baixos, o aumento da expectativa de vida e um peso cada vez maior da população idosa. Isso não é novidade. Contudo, há algum tempo, economistas e políticos japoneses olham com crescente preocupação para uma data-chave, o ponto de inflexão a partir do qual esse envelhecimento começará a cobrar seu preço no país.

E esse momento já chegou.

O "Problema 2025"

Embora ainda falte muito para 2025 acabar e seja cedo para saber se a natalidade japonesa seguirá a curva descendente da última década, os demógrafos suspeitam há tempos que este não será um ano fácil. E o motivo não está tanto nas taxas de fertilidade e mortalidade em si, mas no que isso representa. Esse ano marcará o ponto em que os japoneses nascidos durante o Baby Boom do final dos anos 40 (1947-1949) ultrapassarão os 75 anos. E isso representa um verdadeiro desafio por várias razões. De fato, no país, já se fala há algum tempo no "Problema 2025".

O Japão não é a única nação que enfrenta os ventos do inverno demográfico, embora por lá eles soprem com mais força do que o habitual. Para começar, os japoneses não percebem a terceira idade como a maioria dos países. Para eles, o comum é que as pessoas que completaram 65 anos se mantenham na categoria "genki", a das pessoas saudáveis e ativas. Como lembrou a revista The Economist há alguns meses, mais de 50% das pessoas entre 65 e 69 anos e mais de um terço dos que têm entre 70 e 74 continuam trabalhando.

Mais ainda, no grupo populacional entre 65 e 74 anos, apenas cerca de 3% dos japoneses necessita de cuidados de enfermagem. A vida deles é tão ativa que a Associação Gerontológica do país chegou a propor incluir essa faixa etária numa nova categoria, a dos "pré-idosos". A situação muda após os 75.

Depois dessa barreira, apenas 12% dos japoneses continuam trabalhando e a porcentagem da população que necessita de cuidados dispara. São os "idosos avançados", o horizonte que agora enfrentam os milhões de japoneses nascidos durante o Baby Boom do final dos anos 40. E, junto com eles, toda a sociedade japonesa.

Por que isso é um problema?

Porque, como os especialistas vêm alertando há tempos, essa mudança demográfica vai aumentar a pressão sobre o sistema de aposentadorias e de atenção médica no Japão. E isso ocorrerá em um país envelhecido, acostumado a ver a cada ano um novo mínimo histórico de natalidade, e onde a população em idade ativa vem diminuindo de forma clara desde o início do século.

O resultado é o que especialistas como Takado Komine, do Instituto para Estudos de Política Internacional (IEPI), apelidaram a situação de "Problema 2025", uma crise com múltiplas faces e consequências que afetam a sociedade e a economia.

Em uma análise recente sobre o fenômeno, a Europa Press cita alguns dos pontos nos quais o "Problema 2025" se fará sentir. O primeiro, recordando um relatório do IEPI, provavelmente será nos serviços de atenção geriátrica. O organismo considera que é "quase certo" que, a partir deste ano, médicos e enfermeiros lidarão com "um aumento repentino" no número de pessoas que precisam de cuidados, o que resultará, por sua vez, em "uma carga significativamente maior para a força de trabalho".

A previsão é que isso resulte em déficit de pessoal e maior pressão sobre os sistemas de proteção social. Em 2018, o governo já fez as contas e concluiu que, entre 2025 e 2040, os custos gerais da seguridade social, incluindo as aposentadorias, vão disparar quase 60%. Tudo isso enquanto o peso da população com mais de 65 anos não para de aumentar no país.

O relatório também aponta o desafio que isso representará para as grandes áreas urbanas, onde se concentra um maior volume de pessoas idosas. O governo já começou a agir para solucionar o problema, mas o desafio é considerável e vem acompanhado de ameaças, como o risco de gerar uma crise de desigualdade entre as pessoas mais velhas.

O problema é realmente grave. Basta revisar alguns números para compreendê-lo. No ano passado, nasceram no Japão 721 mil bebês, o dado mais baixo desde que o país começou a coletar estatísticas. Só em 1949 (em pleno Baby Boom) estima-se que nasceram 2,69 milhões de bebês, o mesmo número que agora ultrapassará a marca dos 75 anos. Segundo o The Economist, espera-se que a população acima dessa idade chegue perto dos 22 milhões. Há uma década, esse número era pouco mais de 17 milhões.

Imagem | Woody Yan (Unsplash)

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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