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Japão está desesperado para reativar sua taxa de natalidade, então em Tóquio eles tiveram uma ideia: creches gratuitas

  • Governadora anunciou semana de trabalho de quatro dias para apoiar a taxa de natalidade

  • "Não há tempo a perder", alerta o líder sobre a grave crise demográfica que o Japão está vivendo

Benefícios em creches podem ajudar taxa de natalidade no Japão, acredita governo | JoshBerglund19 (Flickr)
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

O Japão se acostumou a olhar para suas estatísticas demográficas com o coração na mão. Especialmente aquelas que têm a ver com a taxa de natalidade. Em 2023, o país encadeou seu oitavo ano consecutivo com queda de nascimentos, registrando um declínio de 5,1% que arrastou sua taxa de natalidade para mínimos históricos. Em Tóquio, eles decidiram que é hora de buscar soluções. Estão fazendo isso enfatizando a conciliação entre trabalho e vida familiar. Depois de sua primeira mudança, focada na semana de trabalho de quatro dias, ela agora quer se concentrar em creches.

Como? Oferecendo-as de graça.

Creches liberadas

Se os planos do governo de Tóquio forem adiante e acabarem se concretizando, no ano que vem criar filhos será mais barato para as famílias da cidade. A governadora Yuriko Koike anunciou que quer oferecer creche gratuita a todas as crianças em idade pré-escolar.

A medida seria aplicada a partir de setembro, coincidindo com um dos semestres em que o ano letivo é dividido, e será aplicada sem distinção. Será aplicável tanto aos primogênitos quanto aos segundos e sucessivos filhos de uma família.

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"Não há tempo a perder"

No momento, a imprensa japonesa não dá mais detalhes, nem especifica quanto custará a medida, mas citou alertas da própria Koike, no cargo desde 2016 e que ocupou outras responsabilidades na administração japonesa, como a de Ministra do Meio Ambiente ou da Defesa.

Sem panos quentes, Koike reconheceu que o país enfrenta "uma crise" devido ao declínio de sua taxa de natalidade que não parece "que vá desaparecer" por si só. Por isso, insistiu na urgência de buscar soluções. "Não há tempo a perder."

Uma nova medida?

Sim, e não. Se a proposta for adiante, o The Japan Times explica que Tóquio se tornaria pioneira a nível nacional, expandindo o acesso gratuito à creche para todos os lares. Mas a abordagem não é exatamente nova.

No início de 2023, o Governo Metropolitano de Tóquio já adotou uma medida semelhante justamente para facilitar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, aliviando o fardo econômico da criação de filhos, embora com uma nuance importante: na tentativa óbvia de incentivar a taxa de natalidade, a creche gratuita foi limitada aos segundos filhos de até dois anos de idade, deixando de fora o primogênito.

Redobrando o esforço

Agora, as autoridades de Tóquio querem dar um passo adiante e estender a isenção de custos também aos primeiros filhos de cada família. A mudança é interessante porque reflete até que ponto o Japão está intensificando seus esforços para sair da crise de natalidade em que está atolado há anos.

Antes de 2023, as administrações já ofereciam subsídios para pagar grande parte dos cuidados com as crianças mais novas, entre zero e dois anos, mas os limitavam a domicílios que atendessem a certos requisitos. Por exemplo, para receber apoio para a criação do segundo filho, o primeiro tinha que ter uma certa idade e a renda familiar também era valorizada. Tóquio quer educação gratuita. E generalizada.

Creches e muito mais

Não é a primeira medida promovida por Tóquio para reativar sua taxa de natalidade. Há poucos dias, Yuriko Koike anunciou outra mudança que busca melhorar sua demografia por meio do equilíbrio entre vida pessoal e profissional: oferecer uma semana de trabalho de quatro dias aos funcionários do governo. A nova política entraria em vigor a curto prazo, em abril, e os funcionários que a aproveitarem desfrutarão de três dias de folga por semana, o que a priori deve facilitar a criação dos filhos para eles.

"Revisaremos os estilos de trabalho com flexibilidade, garantindo que ninguém tenha que abandonar sua carreira devido a eventos da vida, como parto ou creche", proclamou a governadora durante um discurso na Assembleia Metropolitana de Tóquio, no qual também apontou alguma outra proposta com o mesmo propósito: tornar a jornada de trabalho mais flexível para funcionários com filhos na escola. "É hora de Tóquio assumir a liderança na proteção e melhoria das vidas, meios de subsistência e economia do nosso povo durante tempos difíceis para o país."

O problema é tão sério assim?

O Japão não é a única nação com dados de nascimentos preocupantes. A Coreia do Sul também tem problemas sérios que ameaçam até mesmo o futuro de suas forças armadas e o outrora poderoso motor demográfico chinês parece ter chegado ao limite, acumulando dois anos consecutivos de censos em queda nos nascimentos.

A situação no Japão é, no entanto, particularmente delicada. Estatísticas publicadas em junho revelam que em 2023 nasceram no país pouco mais de 727 mil bebês, 5,6% a menos que no ano anterior. O número também marca a menor taxa de natalidade desde que o Japão começou a compilar estatísticas ​​sobre o assunto, no final do século XIX.

Imagens |  JoshBerglund19 (Flickr) e Note Thanun (Unsplash)

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