Este calhamaço de 410 páginas virou sucesso editorial ao falar sobre algo muito específico: como superar o apocalipse

Este requintado lançamento editorial reúne o conhecimento necessário para a humanidade se reconstruir

The Book / Imagem: Divulgação
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Victor Bianchin

Redator
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Victor Bianchin é jornalista.

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O livro The Book. The Ultimate Guide to Rebuilding a Civilization, do coletivo Hungry Minds, pode parecer mais um guia para sobrevivencialistas, mas é muito, muito mais do que isso. Trata-se de uma enciclopédia ilustrada que relata as descobertas cruciais ocorridas ao longo da nossa história. Mas não é apenas um livro de instruções.

Essa obra, ainda sem edição em português (mas disponível em inglês e espanhol) é, antes de tudo, um tomo imponente que rejeita qualquer pretensão de portabilidade: pesa mais de dois quilos e suas dimensões (aproximadamente 24 × 35 centímetros) fazem dele mais uma peça de museu do que uma leitura de mesa.

São 410 páginas que reúnem mais de 700 ilustrações originais em 23 capítulos temáticos, seguindo um percurso progressivo: desde conhecimentos básicos de sobrevivência (obter água, acender fogo, identificar plantas comestíveis) até conquistas complexas como navegação, aviação, festivais culturais ou psicoterapia.

Como surgiu

Em dezembro de 2020, enquanto o mundo ainda navegava pela incerteza da pandemia, um coletivo de artistas lançou no Kickstarter uma proposta aparentemente absurda: criar uma enciclopédia visual para reconstruir a civilização humana após um colapso apocalíptico. A resposta superou as expectativas, com mais de 21 mil apoiadores e 2,3 milhões de dólares arrecadados: foi o terceiro projeto editorial mais bem-sucedido da história da plataforma de financiamento coletivo. Desde então, foram vendidos cerca de 300 mil exemplares no mundo todo, alcançando muito além do seu nicho inicial de livros ilustrados.

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A pergunta sobre como reativar a civilização após um cataclismo não é nova. O astrobiólogo britânico Lewis Dartnell publicou em 2014 Abrir em caso de apocalipse, um manual que se tornou best-seller, embora adotasse uma abordagem técnica e textual, explicando processos químicos e princípios físicos. A The Long Now Foundation — fundação liderada por Brian Eno e dedicada a fomentar o pensamento em escala civilizacional, dentro de um marco temporal de 10 mil anos como contraponto à cultura acelerada atual — incorporou a obra ao projeto Manual for Civilization.

A Hungry Minds oferece uma abordagem radicalmente diferente. Enquanto Dartnell fornece instruções práticas, o coletivo criou um guia visual que remete aos códices medievais. A ideia ocorreu durante o confinamento de 2020, quando seus responsáveis se perguntaram: se tudo parasse, que conhecimento essencial mereceria ser preservado? Com a incorporação de Artur Stelmakh, especialista em campanhas de financiamento coletivo, os autores transformaram essa inquietação filosófica em um projeto editorial viável.

Quem é a Hungry Minds?

Um estúdio criativo descentralizado e sem sede física: seus integrantes (artistas, ilustradores, cientistas e historiadores) trabalham de diferentes pontos do planeta. O ilustrador Lev Kaplan, veterano da publicidade, assumiu a direção artística do livro e passou meses refinando cada ilustração. Ao time inicial se somaram professores universitários especialistas em disciplinas específicas, além de redatores, editores e revisores que verificaram a precisão de cada dado.

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O resultado funde referências históricas que incluem, por exemplo, o enigmático Manuscrito Voynich do século 15, considerado o códice mais misterioso do mundo. A classificação conceitual se inspira na Summa Technologiae, do polonês Stanisław Lem.

O mercado dos livros-objeto

Enquanto a indústria do entretenimento migra para formatos digitais (streaming, arquivos para download, ebooks), os livros ilustrados de grande formato demonstram uma saúde comercial. Segundo dados reunidos pela The Bookseller, as vendas de monografias artísticas em grande formato tiveram um aumento de 70% no mercado britânico, desafiando a tendência geral do setor. Nos Estados Unidos, ocorreu um fenômeno semelhante: as livrarias independentes aumentaram seus pedidos de títulos de viagem em 23%, design em 20% e arte em 12%, sempre referentes aos grandes formatos.

Esse fenômeno responde a uma demanda que os arquivos digitais não satisfazem: a experiência tátil e visual do livro. O financiamento coletivo tem parte da responsabilidade nisso, ao democratizar projetos editoriais que editoras tradicionais considerariam inviáveis. The Book foi publicado originalmente dessa forma, sem o respaldo de uma grande companhia. 

A Hungry Minds levou a experiência ainda mais longe, expandindo o conceito do livro com uma instalação pop-up experiencial em Manhattan, transformando o livro em uma instalação imersiva.

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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