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As pessoas começaram a formar fila para tocar o traseiro de uma estátua de urso em Madri; o motivo: buscar sorte

Redes sociais impulsionaram a mania de turistas de tocar no monumento

Turistas não resistem a apalpar estátua de urso em Madri / Imagens: TikTok
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Há pouco tempo, a prefeitura de Dublin fez algo incomum: colocou escolta na estátua de uma mulher para evitar que os turistas apalpassem seus seios. Antes disso, o governo irlandês chegou a cogitar elevar o monumento, dedicado a Molly Malone, para deixar seu generoso busto de bronze (descolorido após anos e anos de toques) fora do alcance das carícias dos visitantes.

O caso de Molly Malone não é único. Se você se aproximar da Puerta del Sol, bem no coração de Madri, na Espanha, também poderá notar como a célebre estátua do Urso e do Medronheiro, que enfeita a praça há quase 60 anos, tem as nádegas e uma pata com coloração dourada pelo toque constante de turistas e moradores.

Um urso com duas cores

Poucos lugares são mais emblemáticos em Madri do que a praça Puerta del Sol. E poucos pontos são mais icônicos na praça (e na cidade como um todo) do que a famosa estátua do Urso e do Medronheiro, uma obra do escultor Antonio Navarro que enfeita a área desde janeiro de 1967 — embora, desde então, já tenha mudado de localização várias vezes. No entanto, se você for vê-la hoje, é provável que dois detalhes relativamente recentes chamem sua atenção.

Para começar, é provável que você encontre turistas fazendo fila para tirar fotos ao lado do urso. Se prestar atenção, verá também que o animal está com duas cores. A maior parte da estátua tem um tom escuro, mas uma das patas e a cauda são mais claras, quase douradas. Na verdade, ambos os detalhes estão relacionados. O animal “desbotou” em grande parte por causa do toque constante dos visitantes.

Por que as pessoas apalpam a cauda e a pata do urso da Puerta del Sol? Basicamente, pelo mesmo motivo que apalpam os seios de Molly Malone. Uma busca rápida nas redes mostra que há quem acredite que alcançar a cauda trará sorte e ajudará a pessoa a voltar a Madri. Outras versões garantem que o certo é tocar o calcanhar do urso, ou que o objetivo muda de acordo com a origem de quem o apalpa: se você é de Madri, deve ir direto à cauda; se for visitante, tem que tocar a pata.

Coisa de superstição, como também ocorre com a estátua de Malone e outras esculturas muito tocadas, como o Porcellino de Florença, que também tem o focinho polido por causa do manuseio dos turistas, ou os testículos do famoso touro de Wall Street. Há até lendas ainda mais extravagantes, como a que afirma que mulheres que entregam uma flor, beijam e tocam o pênis da estátua de Victor Noir, em um cemitério de Paris, desfrutarão de amor e sexo.

A chave: a imitação

Superstições à parte, a explicação para o fato de as pessoas acariciarem esculturas é muito mais simples (e mundana). Pelo menos no caso do urso madrilenho. A pista foi dada em 2023 pelo perfil Madrid_Secreto no TikTok: as pessoas sentem o impulso de tocar estátuas e, com o passar do tempo, isso acaba deixando uma marca na superfície dos monumentos — algo que chama a atenção de mais e mais pessoas.

Resultado: o hábito cresce e se retroalimenta até virar tradição. A equação se completa com a busca pela melhor selfie, o desejo de voltar das férias com fotos icônicas e o efeito amplificador das redes sociais.

A grande pergunta, no caso da estátua da Puerta del Sol, é… quem foi o primeiro a tocar a escultura? Quando isso virou uma tradição? E como se espalhou tão rápido? Recentemente, o jornal elDiario.es foi até a praça para conversar com turistas e até com um guia e descobriu várias coisas.

Para começar, o apalpar do urso parece ter começado há alguns anos, pelo menos antes da pandemia. O historiador José Manuel Moreno afirma, na verdade, que “não é uma moda nova” e destaca que há outras esculturas que também são alvo de toques, como El Vecino Curioso, localizada na Calle Mayor com a Catedral da Almudena. As pessoas tocam nas nádegas dela buscando o mesmo: sorte.

Outra conclusão ao conversar com as pessoas que se aproximam da estátua para tocá-la é que, embora o hábito do apalpamento talvez venha de anos atrás, ele se espalhou basicamente graças às redes sociais. “Vi no TikTok”, admite uma jovem de Jaén. E o fato é que basta uma busca rápida para encontrar uma série de vídeos com pessoas tocando a escultura e falando de seus supostos efeitos para voltar a Madri ou ter sorte.

É certo apalpar estátuas instaladas em espaços públicos, mesmo a ponto de afetar sua pintura? As instituições devem impedir isso? No caso da estátua de Malone, as autoridades de Dublin têm uma posição clara — embora, nesse caso, tenha pesado o fato de os turistas se concentrarem (com piadas incluídas) no busto da figura.

“Eu não gosto e colocaria limites… onde realmente possa ser um problema. Mas, claro, é difícil definir isso”, admite Moreno. No caso específico da escultura de Navarro, um dos fatores que pode ter influenciado o aumento dos toques foi a última reforma do entorno, que acrescentou bancos e deslocou o monumento.

Imagens | TikTok 1 e 2

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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