A mais recente tática da Rússia não são drones kamikaze, mas soldados com capacetes com antenas que surpreendem a Ucrânia

Se a aposta se mostrar viável em combate, poderá inaugurar uma nova era em que cada combatente carregará, junto com seu fuzil, um escudo invisível contra drones

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PH Mota

Redator
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PH Mota

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Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

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Uma vez que ficou claro que os drones são a base das ofensivas na Ucrânia, surgiu um “lado B”: a busca por táticas para conter exércitos compostos por enxames de drones. A Ucrânia, por exemplo, conquistou um escudo inesperado: as redes de pesca de uma vila na Dinamarca. Por sua vez, soldados russos revelaram a mais recente tática contra os drones de Kiev.

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia entrou em uma fase marcada pela hegemonia dos drones, que deixaram de ser armas táticas contra veículos blindados para se tornarem carrascos de soldados individuais. Em cidades devastadas como Chasiv Yar ou nas planícies perto de Kupiansk e Kharkiv, enxames de drones FPV tornaram-se onipresentes, tornando qualquer movimento de tropas um alvo imediato.

Essa nova realidade impôs um cenário de estagnação: qualquer avanço ofensivo é detectado, rastreado e destruído em minutos. A consequência estratégica é clara: o lado que conseguir proteger seus soldados contra drones obterá uma vantagem decisiva na frente de batalha. Ciente disso, a Rússia apresentou um sistema de guerra eletrônica portátil inédito, projetado especificamente para cada combatente — um passo a mais na miniaturização da defesa antidrone.

Design do novo sistema

Em vídeo publicado nas redes sociais, um soldado russo mostrou um dispositivo compacto integrado ao seu equipamento. O sistema consiste em um módulo com duas antenas acopladas ao capacete, um arnês para conexões, um visor montado no antebraço e uma bateria de energia. O processo é simples na aparência, mas complexo na execução: o dispositivo detecta passivamente o sinal de rádio do drone, intercepta o sinal de vídeo transmitido ao operador e o reproduz na tela do soldado.

A partir daí, a interferência direcionada pode ser ativada, cegando o piloto inimigo. A inovação reside no fato de que esse mecanismo não visa cortar o link de controle ou de navegação (o objetivo usual dos bloqueadores tradicionais), mas sim atacar diretamente a transmissão de vídeo — um canal que opera com maior potência e é mais resistente a ruídos. Esse direcionamento preciso reduz a necessidade de emitir grandes níveis de energia, diminui o risco de interferência nas próprias comunicações russas e mantém a pegada eletromagnética do sistema baixa, dificultando sua detecção e destruição pela Ucrânia.

Tela montada para cada soldado Tela montada para cada soldado

Coragem tática

O método oferece diversas vantagens em relação aos sistemas convencionais de supressão. Primeiro, evita a ativação dos protocolos de segurança dos drones ucranianos mais avançados, que geralmente entram em modo autônomo ou de retorno quando a navegação ou o controle são interrompidos. Ao manter esses canais intactos e simplesmente cegar o operador, a confusão é imediata: o piloto perde repentinamente a visão do alvo, mas nenhuma defesa automática é ativada.

Segundo, a portabilidade permite que cada soldado tenha uma bolha mínima de proteção contra drones hostis, em vez de depender exclusivamente de sistemas montados em veículos ou em plataformas fixas. Isso é especialmente relevante em ambientes urbanos ou florestais, onde os confrontos são descentralizados e dispersos.

Limitações e vulnerabilidades

Apesar de sua engenhosidade, o sistema russo não está isento de fragilidades. Por exemplo, é ineficaz contra drones com fibra óptica, que transmitem suas imagens por meio de cabos físicos e, portanto, são imunes a interferências de rádio.

Além disso, não seria surpreendente se a evolução das táticas ucranianas acabasse neutralizando-o, seja com a adoção de canais de vídeo mais seguros, criptografia reforçada ou mesmo a implementação de modos de emergência quando o sinal visual é perdido — o que poderia reduzir sua eficácia em questão de meses. Da mesma forma, depender de atualizações técnicas contínuas para acompanhar o adversário envolverá custos logísticos e de produção significativos.

Consequências estratégicas

Dito isso, se a Rússia conseguir implantar essa tecnologia em larga escala, mesmo que parcialmente eficaz, poderá transformar o equilíbrio em setores-chave da frente. Neutralizar drones, mesmo que temporariamente, abre a possibilidade de manobras ofensivas que hoje são suicidas sob o olhar constante de aeronaves não tripuladas inimigas.

A capacidade de avançar centenas de metros sem ser imediatamente detectado pode significar a diferença entre manter a iniciativa ou ser pego em uma guerra de desgaste sem fim. E, se ampliarmos o foco, a tendência reflete a transição de sistemas antidrone de longo alcance montados em veículos para soluções portáteis e individuais adaptadas à guerra de proximidade. Nesta corrida tecnológica, cada inovação determina não apenas a sobrevivência de soldados isolados, mas a viabilidade de operações ofensivas inteiras.

Evolução da guerra eletrônica

O surgimento deste bloqueador portátil confirma uma profunda mudança doutrinária: a guerra eletrônica, antes domínio de grandes estações e plataformas aéreas estratégicas, agora desce ao nível do soldado. O que antes era utilizado em radares de longo alcance e antenas potentes agora se concentra em um dispositivo acoplado a um capacete.

Se se generalizar, o combate moderno ficará ainda mais vinculado à capacidade dos engenheiros de miniaturizar as defesas eletrônicas e adaptá-las ao soldado individual. A Rússia deu um passo significativo nessa direção e, se sua aposta se mostrar viável em combate, poderá inaugurar uma nova era em que cada combatente carregue, junto com seu fuzil, um escudo invisível contra os drones que dominam os céus do século XXI.

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