Homens mais velhos que decidem ter filhos enfrentam um problema extra: as mutações genéticas acumuladas

As mutações vão se acumulando e ter filhos aos 70 anos não é exatamente a melhor das ideias

Filhos de homens mais velhos / Imagem: Xataka Espanha
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Os homens não têm um limite natural definido que determine uma hora de parar de ter filhos (como acontece com as mulheres) — embora, aos poucos, vá se tornando mais complicado. Mas, mesmo sem esse limite, optar por ser pai em idades avançadas não é o mais recomendável devido aos grandes riscos envolvidos, como apontou um estudo publicado recentemente na revista Nature.

A ideia de que a idade da mãe é um fator crucial para a saúde do bebê está profundamente enraizada na consciência coletiva, e sabe-se que uma maior idade está associada a doenças como a síndrome de Down. No entanto, a ciência já acumula há anos evidências de que a idade do pai também desempenha um papel fundamental.

Já sabíamos que cerca de 80% das novas mutações genéticas (aquelas que não são herdadas de nenhum dos pais) provêm da linhagem germinativa paterna. O que não sabíamos era a magnitude do mecanismo que acelera esse processo.

Espermatozoides egoístas

A equipe de pesquisadores do Wellcome Sanger Institute, no Reino Unido, liderada por Raheleh Rahbari e Matthew Neville, deu nome ao problema: seleção egoísta de espermatogônias.

Em termos simples, isso significa que certas mutações genéticas não apenas alteram um gene, mas conferem uma vantagem competitiva às células-tronco que produzem os espermatozoides (as espermatogônias). Essas células mutadas se replicam mais rápido e com mais eficiência do que suas companheiras saudáveis, passando a predominar sobre os gametas adequados.

Como resultado, com o passar dos anos, a porcentagem de espermatozoides que carregam essas mutações “egoístas” aumenta de forma exponencial, não linear. Isso faz com que um homem na casa dos 30 anos tenha 1 espermatozoide mutado a cada 50, enquanto aos 70 anos esse número salta para 1 espermatozoide mutado a cada 20.

Para chegar a essa conclusão, os cientistas precisaram de uma tecnologia de altíssima precisão, já que os métodos padrão de sequenciamento atualmente apresentam uma taxa de erro que dificulta identificar mutações específicas.

É aqui que entra em cena uma técnica chamada sequenciamento duplex (NanoSeq). Seu funcionamento é bem simples: em vez de ler apenas uma das fitas do DNA, esse método lê ambas as fitas da dupla hélice. Se uma mutação for detectada nas duas fitas exatamente no mesmo ponto, é praticamente impossível que seja um erro da máquina — trata-se de uma mutação real. Graças a essa precisão, os pesquisadores puderam analisar mais de 35.000 mutações no esperma de 81 homens com idades entre 24 e 75 anos.

Nesse estudo, os resultados identificaram mais de 40 genes-chave nos quais essas mutações egoístas tendem a ocorrer. A maioria está associada a distúrbios graves do neurodesenvolvimento, como o próprio autismo, ou até mesmo a um aumento da probabilidade de desenvolver câncer ao longo da vida do descendente.

Santuário genético

Curiosamente, o estudo revelou um dado surpreendente ao comparar as mutações no esperma com as das células sanguíneas dos mesmos homens. No sangue, o impacto do estilo de vida era evidente: homens que fumavam, consumiam álcool em excesso ou eram obesos apresentavam uma carga muito maior de mutações.

No entanto, no esperma, não foi encontrada nenhuma correlação com esses fatores. As mutações se acumulavam a um ritmo oito vezes mais lento e pareciam imunes aos hábitos individuais. Isso sugere que os testículos funcionam como um “santuário” biológico, um nicho protegido que o corpo se esforça para manter a salvo de fatores ambientais prejudiciais.

Logicamente, na hora de decidir ter filhos, isso muda muitas coisas, já que, para evitar o acúmulo de mutações, seria interessante fazê-lo o quanto mais jovem melhor — tanto para homens quanto para mulheres.

Mas a realidade em nossa sociedade é que a conciliação familiar ainda não está plenamente alcançada, o que faz com que o momento de se tornar mãe ou pai seja adiado. Nesse sentido, o estudo sugere a possibilidade de considerar a criopreservação de esperma em idade mais jovem caso se planeje ter filhos, ou mesmo técnicas de triagem genética para pais mais velhos. Embora tudo isso envolva custos associados.

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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