Há anos usamos adoçantes sem calorias; agora entendemos por que eles nem sempre ajudam na perda de peso

A sucralose adoça sem fornecer calorias, mas um novo estudo pode estar nos deixando com fome

O mocinho virou vilão? Adoçante pode estar deixando as pessoas com mais fome, aponta estudo / Imagem: Faran Raufi
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

O açúcar é um dos alimentos mais comuns e um dos que mais gera polêmica na alimentação. O consumo excessivo de açúcar pode estar ligado a diversos problemas, desde os bucais até o diabetes. Os adoçantes artificiais, usados às vezes para reduzir o consumo de açúcares convencionais, podem ser mais saudáveis, mas não menos controversos.

Menos açúcar, mais fome

Um estudo recente descobriu que alguns adoçantes artificiais podem afetar os sinais que regulam nosso apetite a nível cerebral. A equipe responsável pelo estudo observou que a sucralose tem um efeito menos saciante do que a sacarose, o açúcar convencional de mesa.

A sucralose é um adoçante artificial, um dissacarídeo — um açúcar composto pela união de dois açúcares simples. Sua capacidade adoçante é até 600 vezes maior que a da sacarose, mas nosso corpo não a absorve da mesma forma. Isso implica que esse adoçante não fornece calorias ao nosso organismo.

Isso poderia explicar o fenômeno observado: nosso corpo percebe o sabor doce e se prepara para a ingestão de calorias. O corpo simplesmente estaria respondendo à ausência de energia recebida.

75 participantes

No estudo, participaram 75 pessoas que atuaram tanto como grupo experimental quanto como grupo controle em sessões distintas, separadas por dias ou semanas. Os participantes, homens e mulheres, alguns com peso “saudável” e outros com sobrepeso ou obesidade, consumiram três bebidas preparadas nas diferentes sessões experimentais às quais foram submetidos.

Essas preparações eram uma bebida adoçada com sucralose, outra com açúcar convencional (sacarose) e outra apenas água. A ordem em que cada bebida era oferecida foi aleatória. A equipe então estudou a resposta dos participantes a cada bebida. Antes e depois do teste, realizaram ressonâncias magnéticas funcionais, coletaram amostras de sangue e perguntaram aos participantes sobre a sensação de fome.

Observaram que a sucralose aumentava o apetite e a atividade no hipotálamo, e que esse efeito era mais acentuado entre os participantes com obesidade. A equipe também detectou mudanças na forma como o hipotálamo se comunicava com outras regiões do cérebro. Os detalhes do estudo foram publicados em um artigo na revista Nature Metabolism.

Velhas conhecidas

A chave pode estar nos hormônios que nosso corpo produz ao comer, como a insulina e o GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1). Esse último é produzido no estômago quando comemos e tem uma dupla função: por um lado, avisa o pâncreas de que vamos precisar de insulina para lidar com a glicose digerida; por outro, transmite ao cérebro a mensagem de que nos alimentamos e estamos saciados.

“O corpo usa esses hormônios para dizer ao cérebro que você consumiu calorias, para reduzir a fome”, explicou em um comunicado Kathleen Alanna Page, coautora do estudo. “A sucralose não teve esse efeito e as diferenças nas respostas hormonais à sucralose em comparação ao açúcar foram ainda mais pronunciadas em participantes com obesidade”, disse ela.

Segundo explica a própria equipe, ainda restam algumas incógnitas a serem resolvidas nesse contexto. Uma das perguntas, por exemplo, é como esse adoçante afeta nossa atividade cerebral a longo prazo. Para isso, explicam, serão necessários estudos longitudinais que também analisem o peso e os comportamentos alimentares dos pacientes.

Outra questão a ser esclarecida é como outros fatores, como o sexo, influenciam essa relação. A equipe observou que, durante o experimento, a atividade cerebral das mulheres mostrava uma variabilidade maior que a dos homens, o que indica a possibilidade de existirem diferenças a serem estudadas.

Imagem | Faran Raufi

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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