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A China tem um enorme problema de desemprego juvenil. Pasme: algumas pessoas pagam para fingir que trabalham

Alguns vão para “procurar trabalho”, outros para se desconectar da pressão social que implica não ter um emprego

Escritórios onde você paga para fingir que trabalha / Imagem: Marc Mueller
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Victor Bianchin

Redator
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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China e União Europeia têm algo em comum: a taxa de desemprego juvenil. 14,5% dos jovens chineses não têm emprego, enquanto, na União Europeia, o número é ligeiramente maior, 14,7%. A diferença, claro, é que na União Europeia vivem cerca de 448 milhões de pessoas, enquanto na China são mais de 1,4 bilhão de habitantes.

Não conseguir um emprego é ruim para qualquer pessoa, mas, na China, a pressão familiar e social é enorme. É um mercado muito competitivo, e espera-se que o jovem, se não encontrar trabalho, faça tudo o que for possível para consegui-lo: formação, estudos, estágios, empregos temporários, qualquer coisa. Não trabalhar ou, pior, não buscar emprego, tem um impacto negativo na percepção social. Nesse contexto, quase faz sentido o surgimento de um fenômeno bastante peculiar: pagar para fingir que se trabalha.

China e o trabalho

Quando um estudante se forma, espera-se que ele trabalhe, seja útil e não dependa da família. É possível que isso não seja imediatamente viável. Alguns estudantes podem optar por uma “transição deliberada” (慢就业), ou seja, tirar um tempo enquanto se formam e exploram opções de forma ativa; outros podem fazer um pós-graduação (考研) ou estudar para concursos públicos (考公); e outros, aceitar um emprego temporário, ajudar no negócio da família etc., enquanto buscam algo mais estável.

Imagem: Marc Mueller Imagem: Marc Mueller

Resumindo, espera-se que a busca por emprego seja ativa e proativa. Não fazê-lo tem efeitos negativos na percepção social. Depender dos pais sem contribuir ou buscar algo (啃老, Kěn lǎo, que poderíamos traduzir literalmente como “morder os velhos”) é algo mal visto. Mas as situações nem sempre são favoráveis e, diante da pressão social, pode ser mais fácil fingir que se trabalha enquanto se procura emprego do que ter que dar explicações.

Trabalhar fingindo trabalhar

Diante dessa complexa situação social e laboral, em algumas regiões da China surgiram empresas que alugam um local para ir “trabalhar” quando não se tem emprego. Uma delas é a Pretend to Work Company, que, por 3,5 euros por dia, permite acessar um escritório falso com computadores, internet, salas de reunião, etc. Algo como um coworking, mais ou menos. Essas empresas se anunciam em redes sociais como o Xiaohongshu.

Imagem: Xataka Imagem: Xataka

E por que ir? Existem vários motivos. A BBC traz o testemunho de Shui Zhou, uma pessoa de 30 anos que vai todos os dias ao “escritório” para fazer networking, treinar sua disciplina e, de certa forma, acalmar seus pais. Atualmente, ele está aproveitando para melhorar suas habilidades com IA.

Outros, como Xiaowen Tang, recém-formado de 23 anos, se inscreveram porque sua universidade tem uma espécie de regra não escrita: se não enviar o contrato ou uma prova de que está fazendo estágio um ano após se formar, não recebem o diploma. Ele se inscreveu na empresa, tirou uma foto do escritório e a usou como prova.

Outra jovem cantonesa, cuja identidade permanece anônima, deixou seu emprego em 2024 devido à pressão do mundo financeiro, explicou ao El País. Ela se inscreveu em um escritório falso porque não se atreve a contar a verdade à família. Começou frequentando cafeterias, mas, por 400 yuans mensais, pode ir a um escritório de mentira para passar o dia enquanto busca emprego.

“Fingir que se trabalha é um refúgio que os jovens encontram para si mesmos, criando uma leve distância em relação à sociedade majoritária e se dando um pouco de espaço”, afirma à BBC o Dr. Biao Xiang, diretor do Instituto Max Planck de Antropologia Social na Alemanha. O dono da Pretend to Work Company, um rapaz de 30 anos, pensa o mesmo e afirma que “o que vendo não é um emprego, mas a dignidade de não ser uma pessoa inútil”.

Segundo ele relata, 40% de seus clientes são recém-formados que precisam provar aos seus tutores que estão fazendo estágio. Alguns também vão para fugir da pressão familiar. Outros são autônomos ou nômades digitais que veem esse espaço como um coworking. A idade média é de 30 anos.

O outro lado da moeda

A pandemia afetou o emprego juvenil na China, que, em 2023, após anos de recorde de empregabilidade, foi estimado em 46,5%, segundo Zhang Dandan, professor de economia da Universidade de Pequim. A situação foi tão desastrosa que as estatísticas deixaram de ser publicadas. O país enfrenta um desemprego juvenil de 14,5%, número que provavelmente aumentará quando os 12,2 milhões de novos formados tentarem entrar no mercado. A pressão para conseguir um emprego é tão grande que, nos últimos anos, surgiu um movimento que segue a direção oposta.

Em vez de ser ambicioso, levar tudo ao extremo e fazer do trabalho o eixo central da vida, como propunha antigamente a jornada 996 (e que agora parece estar mudando), o movimento 躺平, literalmente “deitar-se”, promove exatamente o contrário: críticas à competição extrema, trabalhar apenas o necessário para cumprir, levar um ritmo de vida mais lento, aproveitar mais a vida, mesmo que isso implique um trabalho de menor relevância ou salário mais baixo. É o que o Ocidente chama de “quiet quitting” ou “demissão silenciosa”.

Imagem de capa | Marc Mueller

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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