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A viagem secreta dos seus dados: o que realmente acontece quando você clica em "Conectar" na sua VPN?

Tecnologia virou sinônimo de privacidade online, mas opera como uma "caixa-preta" para a maioria

Foto: NicoElNino/Getty Images
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Matheus de Lucca

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Matheus de Lucca

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Editor-chefe do Xataka Brasil. Jornalista há 10 anos, entusiasta de tecnologia, principalmente da área de computação e componentes de PC. Saudosista da época em que em vez de um celular fazer tudo que se possa imaginar, tínhamos MP3, alarme e relógio.

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Para muitos usuários assíduos de Internet, é quase um reflexo. Antes de se conectar à rede Wi-Fi de um aeroporto, cafeteria ou de hotel, a mão já busca o ícone familiar no celular ou no computador. Um clique em "Conectar" e, como mágica, uma pequena chave ou um cadeado aparece na barra de status. Você se sente mais seguro. Mas o que de fato aconteceu nesse milissegundo? Para onde seus dados estão indo agora?

A VPN (Virtual Private Network, ou Rede Privada Virtual) se tornou uma ferramenta falada comumente, uma espécie de amuleto digital contra os perigos da internet aberta. Contudo, por trás da simplicidade do "liga/desliga", opera uma complexa criptografia e roteamento projetados para um único fim: criar uma conexão privativa e segura dentro da supervia expressa mais pública que existe, a Internet.

Mas o que acontece no meio disso tudo?

O cofre na origem: seus dados são lacrados antes de sair de casa

Antes que qualquer informação sua – seja o site que você quer acessar ou o e-mail que está enviando – saia do seu dispositivo, o software da VPN age como um guarda de segurança particular. Ele pega esses dados e os tranca dentro de um cofre digital usando criptografia pesada.

Pense em padrões como a criptografia AES-256, o mesmo nível de segurança usado por bancos e governos. Nesse processo, suas informações legíveis são embaralhadas em um código indecifrável para qualquer um que tente interceptá-las no caminho, seja o provedor da rede Wi-Fi ou até mesmo a sua operadora de Internet. A partir desse momento, seus dados estão ilegíveis para o mundo exterior.

Com os dados devidamente criptografados dentro do "cofre", a VPN executa seu grande truque: o tunelamento.

Imagine que seu pacote de dados criptografado é colocado dentro de outro pacote, um envelope externo. Esse novo pacote não tem as suas informações de remetente (seu endereço de IP real), mas sim as do servidor da VPN para onde ele será enviado. É o equivalente a colocar seu cofre dentro de um carro-forte anônimo e blindado.

Esse carro-forte digital viaja pela internet aberta. Ninguém sabe o que ele carrega (graças à criptografia), e ninguém sabe sua origem real, apenas o seu destino intermediário: o servidor VPN. É por isso que essa tecnologia é chamada de "túnel": ela cria uma passagem exclusiva e segura para seus dados através da infraestrutura pública.

A porta de saída: emergindo em outro lugar do mundo

O carro-forte chega ao seu destino: um servidor localizado em outra cidade ou, mais comumente, em outro país. Este servidor, operado pela tecnologia de VPN, é a sua porta de saída para a internet.

Aqui, o processo se inverte. O "pacote" externo é descartado. O cofre interno é aberto com a chave criptográfica correta, e seus dados originais – agora seguros e intactos – são finalmente enviados ao seu destino final (o site, o serviço de streaming, o servidor de jogos).

A grande diferença? Para o site de destino, a sua requisição não veio do seu endereço de IP real no Brasil, mas sim do endereço de IP daquele servidor na Suécia, no Japão ou nos Estados Unidos. É por isso que, de repente, você consegue acessar catálogos de streaming ou serviços que antes estavam geograficamente bloqueados. Você não está mais "saindo" da sua casa para a internet, mas sim da "casa" do servidor VPN.

Onde a VPN não protege você

É aqui que o entendimento da tecnologia se torna crucial. Uma VPN é uma ferramenta extraordinária para proteger a privacidade do seu tráfego em trânsito. Ela impede que seu provedor de Internet saiba o que você está fazendo e protege seus dados em redes públicas.

Contudo, ela não é uma capa de invisibilidade mágica.

O destino final ainda vê você: se você se conectar à sua conta do Google ou do Facebook com a VPN ligada, o Google e o Facebook ainda saberão que é você. A VPN mascara sua localização, não sua identidade dentro das plataformas que você já usa.

O ponto de confiança se desloca: você esconde seus dados do seu provedor de Internet, mas os entrega ao provedor da tecnologia de VPN. Por isso, o conceito de "não manter registros" (no-logs policy) é fundamental na arquitetura de uma VPN confiável. Você está trocando a confiança de um pelo outro.

Além disso, uma VPN não é um antivírus. Se você baixar um arquivo malicioso ou clicar em um link de phishing, a VPN não poderá salvar você. A proteção dela é na estrada, não no ponto de chegada ou de partida.

No fim das contas, a pequena chave no seu celular representa uma proeza da engenharia de redes. É um sistema que lhe devolve uma camada de privacidade e liberdade em um mundo digital cada vez mais vigiado.

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