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O sonho de perder peso com pílulas está chegando: a ótima alternativa ao Ozempic é o GLP-1

Em um ensaio clínico, os participantes que tomaram a dose mais alta perderam uma média de 12,4% do peso corporal após 72 semanas (cerca de 12 quilos).

Versão em comprimido dos remédios GLP-1 podem substituir os injetáveis | Imagens: Unsplash
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Igor Gomes

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Igor Gomes

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Subeditor do Xataka Brasil. Jornalista há 15 anos, já trabalhou em jornais diários, revistas semanais e podcasts. Quando criança, desmontava os brinquedos para tentar entender como eles funcionavam e nunca conseguia montar de volta.

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Apesar da grande promessa de perda rápida de peso com injeções mínimas, muitas pessoas ainda rejeitam a ideia de injetar medicamentos como Ozempic ou Wegovy. Em resposta, as grandes empresas farmacêuticas estão aprimorando suas estratégias com versões em comprimidos baseadas no receptor GLP-1. No entanto, os números iniciais levantam uma questão incômoda: o que os pacientes estarão dispostos a sacrificar em troca de não se injetarem?

Em fase de testes

A Eli Lilly apresentou os resultados de seu ensaio clínico com orforglipron, um comprimido diário desenvolvido para induzir a perda de peso. De acordo com dados publicados pelo The Washington Post, os participantes que tomaram a dose mais alta perderam em média 12,4% do peso corporal após 72 semanas, o equivalente a cerca de 12 quilos, em comparação com menos de 1% no grupo placebo.

Este é um resultado clinicamente significativo, mas inferior ao alcançado com seu medicamento injetável tirzepatida — comercializado como Mounjaro ou Zepbound — que proporcionou uma perda de peso de 22,5% em um estudo anterior no mesmo período. A empresa afirmou que solicitará aprovação regulatória antes do final do ano e está confiante de que a praticidade da pílula compensará sua menor potência.

A Pfizer foi a pioneira

A corrida pelos comprimidos de GLP-1 não é exclusiva da Lilly e da Novo. Como noticiamos no Xataka, a farmacêutica americana Pfizer anunciou progresso no desenvolvimento do danuglipron, um agonista do receptor de GLP-1 que, ao contrário do Ozempic, Wegovy ou Zepbound, seria administrado apenas por via oral.

O medicamento está em uma nova fase de ensaios clínicos para avaliar sua segurança e farmacocinética, com o objetivo de adaptá-lo ao tratamento diário. Segundo a empresa, os testes já incluíram 1.400 adultos saudáveis em um ensaio clínico aberto e randomizado. Os dados preliminares impulsionaram as ações da Pfizer em 2% na bolsa, mas analistas citados pelo Xataka, como Umer Raffat, da Fortune, alertam que o progresso parece "provisório" e que, na melhor das hipóteses, o medicamento chegaria ao mercado em 2028.

Há mais apostas

A fabricante do Ozempic e do Wegovy também não quer ficar de fora da transição para os comprimidos. A Novo Nordisk espera uma decisão da FDA sobre sua versão oral da semaglutida antes do final de 2025. Paralelamente, seu candidato Cagrisema — uma combinação de semaglutida e cagrilintida — alcançou uma perda média de peso de 22,7% em ensaios clínicos, ligeiramente abaixo dos 25% que a empresa havia anunciado como meta inicial. Um número que, embora alto, mostra que mesmo na nova geração de tratamentos orais, a potência pode ficar abaixo das expectativas.

Conveniência versus eficácia

Os medicamentos GLP-1 têm demonstrado resultados sem precedentes no combate à obesidade, mas a via de administração faz a diferença. Conforme detalhado no Washington Post, injeções semanais de tirzepatida ou semaglutida alcançam níveis mais estáveis da molécula no sangue e, consequentemente, maior perda de peso. Em contrapartida, a administração oral requer formulações que resistam à digestão e sejam efetivamente absorvidas, o que impõe limitações técnicas. No caso do orforgliprona, o resultado é uma menor perda de peso do que seus equivalentes injetáveis.

A grande questão é se pacientes e médicos estarão dispostos a priorizar a conveniência em detrimento da eficácia. Para muitos, uma redução de 12% no peso corporal ainda é clinicamente relevante e pode significar melhorias substanciais na saúde cardiovascular e metabólica. Mas, em um mercado onde cada ponto percentual conta, a comparação com a redução de 20% a 22% nas injeções pode limitar a adoção.

Um mercado multimilionário com barreiras de entrada

O interesse por essas terapias não é coincidência. De acordo com estimativas divulgadas por este veículo, o mercado global de medicamentos para obesidade pode ultrapassar US$ 100 bilhões anualmente até 2030. Além da perda de peso, o GLP-1 melhora o controle glicêmico e reduz o risco cardiovascular, ampliando seu apelo clínico. No entanto, o preço continua sendo um obstáculo. De acordo com dados citados neste veículo, o Ozempic custa cerca de US$ 600 por mês nos Estados Unidos, em comparação com R$ 1000 no Brasil. Portanto, o debate permanece aberto para futuras versões orais.

Um futuro com mais opções e mais perguntas

Com a Lilly, a Pfizer e a Novo Nordisk preparando seus lançamentos, os comprimidos de GLP-1 podem expandir o alcance dos tratamentos para obesidade, especialmente entre aqueles que recusam injeções. Mas a transição não será automática. Em um mercado onde a eficácia tem sido o principal argumento de venda, a chegada de opções mais convenientes, mas potencialmente menos potentes, forçará uma reavaliação de estratégias, preços e expectativas. E embora o interesse seja evidente, a pergunta permanece: quanto vale para médicos e pacientes o simples fato de não precisar usar uma agulha?

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