Em muitos campi universitários chineses, o uso de inteligência artificial já não é discutido: é praticado. Segundo uma pesquisa do instituto MyCOS, apenas 1% do corpo docente e discente afirmou não usar ferramentas generativas. Os outros 99% as utilizam e quase 60% declaram usá-las com frequência. Trata-se de uma mudança notável em relação a dois anos atrás, quando acessar o ChatGPT exigia o uso de espelhos e VPNs. Hoje, o movimento é inverso: as instituições incentivam o uso.
Como destaca a MIT Technology Review, a transição foi rápida, mas planejada. Na Universidade de Zhejiang, uma disciplina introdutória de IA é obrigatória para todos os estudantes a partir de 2024. Outras, como Fudan, Renmin e Nanjing, abriram cursos transversais para qualquer área, não apenas para informática ou engenharia.
Pequim dita o ritmo para a IA
O foco está no uso criterioso: orientações internas, exemplos concretos, recomendações sobre quais tarefas podem ser apoiadas por modelos generativos e em quais deve prevalecer o julgamento humano. A interação com a máquina é tratada como uma habilidade a mais, comparável a outras alfabetizações técnicas. A McKinsey estima que a China precisará de 6 milhões de profissionais com domínio em IA até 2030.
Diversas universidades estão desenvolvendo seus próprios cursos focados em alternativas locais ao ChatGPT. Instituições como Shenzhen e Zhejiang lançaram programas de ensino sobre o DeepSeek, um modelo que busca se posicionar como referência nacional em IA generativa. Outras já estão formando seus estudantes no uso do Doubao, o chatbot desenvolvido pela Baidu e um dos mais usados em ambientes acadêmicos.
Em abril de 2025, o Ministério da Educação da China publicou diretrizes nacionais de IA para o ensino fundamental e médio, voltadas a fomentar o pensamento crítico, a fluência digital e a aplicação prática nessas etapas escolares.
Por sua vez, Pequim já tornou obrigatória o ensino de IA em todas as escolas da cidade, desde o ensino fundamental até o ensino médio. Para as universidades, essas recomendações gerais foram traduzidas em planos próprios de cada instituição, com a criação de cursos e regulamentos internos.
A Espanha já está se mexendo
Na Espanha, há universidades que saíram do debate para a ação: novos cursos de graduação focados em IA e tutores baseados em IA que acompanham o estudo sem entregar a resposta pronta. Tudo com um objetivo: formar profissionais que trabalhem com IA sem perder o pensamento crítico.
Se olharmos para o resto do Ocidente, o uso é massivo, mas as regras nem tanto.
- No Reino Unido, 92% dos estudantes universitários usam IA generativa para estudar; apenas um terço recebeu formação formal.
- Nos EUA, 63% das universidades R1 incentivam o uso da IA, mas apenas 41% possuem diretrizes institucionais ativas.
- Segundo a Tyton Partners, na primavera de 2025, apenas 28% das instituições tinham uma política formal sobre IA.
Vamos aprofundar um pouco.
- EUA: A Ohio University tornou obrigatória a formação em IA para todos os alunos do primeiro ano. Na Califórnia, programas como o ChatGPT Edu estão chegando às universidades públicas para oferecer acesso gratuito a modelos generativos.
- Europa: A Comissão Europeia promove o Plano de Ação para Educação Digital 2021–2027, com diretrizes éticas e formação para professores. Universidades como Maastricht, Gotemburgo e Edimburgo aprovaram seus próprios marcos. Redes como YERUN e EUA trabalham para harmonizar critérios e compartilhar boas práticas.
Por enquanto, as decisões ainda são, na maior parte, descentralizadas: dependem de cada instituição, de cada faculdade e, em muitos casos, até de cada professor. É um modelo flexível, com vantagens e desvantagens, em contraste com a abordagem mais estruturada adotada pela China.
Dois caminhos diferentes para lidar com a mesma realidade: a IA chegou para ficar e dominar essas ferramentas será fundamental. O que ainda está em definição é como ensiná-las, quando e sob quais critérios.
Imagens | Xataka com Gemini 2.5 Flash | Igor Omilaev
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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