A rotulagem de dados é uma etapa necessária para que os modelos de aprendizado de máquina entendam e aprendam. Este é o negócio da ScaleAI, empresa de Alexandr Wang, recentemente avaliada em US$ 29 bilhões (cerca de R$ 156,2 bilhões). No entanto, nem todos os envolvidos na rotulagem de dados desfrutam desse status. Grande parte desse trabalho é realizado por trabalhadores em países pobres e mal pagos e envolve tarefas muito desagradáveis.
O que está acontecendo?
O avanço da inteligência artificial exige uma enorme quantidade de rotulagem de dados. A AFP relata que esse trabalho é frequentemente realizado por trabalhadores que vivem em países pobres como Quênia, Colômbia ou Índia. Além de ser muito mal pago, o trabalho costuma exigir a revisão de imagens muito desagradáveis. Por exemplo, para uma IA escrever um relatório de autópsia, os rotuladores precisam visualizar centenas de imagens de crimes reais.
O trabalho
Consiste em revisar e rotular arquivos, na maioria das vezes imagens. Não é necessário diploma; basta saber usar um computador e demonstrar pensamento analítico. A facilidade de acesso leva muitas pessoas vulneráveis a esse tipo de trabalho. O problema é que, para ganhar um salário decente, eles precisam trabalhar longas horas, até 16 horas por dia em alguns casos, e o conteúdo que precisam rotular costuma ser violento e extremo.
Moderadores de IA
Esta é uma situação semelhante à que moderadores de diversas plataformas vêm denunciando há anos. Recentemente, discutimos o processo que um ex-moderador do Chaturbate moveu contra a empresa. Há outros casos, como o de moderadores do Facebook em Barcelona, que processaram a empresa pelo trauma psicológico causado pela filtragem de todo aquele conteúdo.
Invisível
O mercado de rotulagem de dados gerou US$ 3,8 bilhões (cerca de R$ 20,4 bilhões) em 2024 e deve crescer para US$ 17 bilhões (cerca de R$ 91,6 bilhões) nos próximos cinco anos. No entanto, aqueles que o tornam possível trabalham em condições muito precárias. Um trabalhador colombiano disse à AFP que os rotuladores de dados são "como fantasmas. Ninguém sabe que existimos, embora estejamos contribuindo para o progresso tecnológico da sociedade".
Melhores condições
No Quênia, não havia legislação, mas os rotuladores de dados se organizaram para que ela fosse regulamentada e para que houvesse melhores condições de trabalho. Eles denunciam falta de apoio psicológico e reivindicam contratos de trabalho formais, um salário justo e condizente com seu trabalho e o direito fundamental ao descanso. Essa mobilização busca garantir um ambiente de trabalho mais digno e proteger os direitos desses trabalhadores essenciais na indústria de inteligência artificial.
Plataformas
A mais citada é a Remotasks, subsidiária da Scale AI, que tem sido alvo de protestos em países como Quênia, Venezuela e Filipinas devido à falta de pagamento e práticas problemáticas. A empresa se defende e afirma oferecer "remuneração justa e competitiva". No ano passado, fechou as portas no Quênia após reclamações públicas de trabalhadores. Há outras, como a australiana Appen ou a Sama, subcontratada de empresas como Meta e OpenAI, que foi processada no Quênia por más condições de trabalho, e também encerrou suas operações.
O custo humano
Há uma preocupação crescente com o impacto ambiental da inteligência artificial, que requer grandes quantidades de energia para operar, especialmente devido ao treinamento e operação de modelos complexos. No entanto, não há apenas um custo de energia e recursos naturais, mas também um custo humano significativo que parece estar passando cada vez mais despercebido.
Imagem | Christina Morillo, Pexels
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