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"Estamos na internet de 1995": por que a revolução da IA pode criar mais empregos do que destruir

Apesar da atmosfera nebulosa e potencialmente sombria que paira sobre o assunto, há quem tenha visões otimistas e de longo prazo

Foto: Nitat Termmee/Getty Images
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Matheus de Lucca

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Matheus de Lucca

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Editor-chefe do Xataka Brasil. Jornalista há 10 anos, entusiasta de tecnologia, principalmente da área de computação e componentes de PC. Saudosista da época em que em vez de um celular fazer tudo que se possa imaginar, tínhamos MP3, alarme e relógio.

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O medo de que a inteligência artificial vai eliminar empregos em massa domina o debate na atualidade. A Microsoft já demitiu 15 mil funcionários só em 2025. A Intel mandou embora 21,400 trabalhadores em julho. Em empresas de tecnologia o número chega a mais de 130 mil empregos perdidos neste ano, de acordo com o site Trueup, que tem um contador de demissões em massa para o setor.

Mas tudo isso realmente têm à ver só com inteligência artificial? A tecnologia é, sim, um fator, mas está longe de ser a única culpada. Uma reportagem recente da Associated Press aponta que CEOs querem colocar tudo na conta das IAs, mas a realidade é outra — muitas posições vão acabar sendo substituídas, principalmente as de nível júnior, mas muitas das demissões têm a ver com mudança de curso de onde o dinheiro começará a ser alocado ou até mesmo para ter uma margem positiva de lucro no próximo ano fiscal.

Apesar da atmosfera nebulosa e potencialmente sombria que paira sobre o assunto, há quem tenha visões otimistas e de longo prazo, sugerindo o contrário: que as IAs poderão gerar mais empregos no futuro, comparando o momento atual com o advento da Internet em massa em 1995.

"Nós criamos a Internet, criamos a nuvem, tínhamos o Hotmail, mas no começo tudo era acessível a uma pequena fração da população", diz Rajesh Ganesa, CEO global da ManageEngine, divisão de cibersegurança e gestão de TI da Zoho Corporation. "30 anos depois, essa mesma infraestrutura básica se expandiu de forma inimaginável, com redes 5G, múltiplos dispositivos por pessoa e uma dependência total em nosso dia a dia. A quantidade de empregos criados para construir e dar suporte a essa infraestrutura foi imensa".

A IA, segundo essa visão, está em um estágio similar. "Nós apenas começamos a arranhar a superfície do que é a IA", continua Ganesa. "A infraestrutura para dar suporte a IA em escala de massa ainda não foi construída, e isso exigirá alguns trilhões de dólares de investimentos nos próximos 10 a 15 anos. É esse investimento massivo que vai criar muitos empregos".

Tá, mas quais serão esses empregos?

A resposta honesta é que ainda não sabemos ao certo. Assim como em 1995 não era possível imaginar profissões como engenheiro de nuvem ou especialista em virtualização, hoje estamos em um cenário parecido. Uma das novas funções que já surgem é a de “engenheiro de prompt”, responsável por otimizar as tarefas para a IA.

A IA certamente substituirá tarefas, especialmente as repetitivas. Um desenvolvedor, por exemplo, gasta 80% do seu tempo escrevendo códigos que são como “modelos prontos” (boilerplate code); isso será substituído, liberando-o para focar nos 20% do trabalho que é realmente original, por exemplo.

Tonimar Dal Aba, gerente técnico da ManageEngine no Brasil, completa: "Precisamos de um engenheiro de prompts para otimizar os comandos para que as IAs executem as tarefas. Quem administrará a infraestrutura? No fim das contas, pessoas serão necessárias para otimizar e treinar os modelos. Não acredito em sistemas totalmente autônomos".

Dal Aba vai além e busca um exemplo direto da nossa história industrial: "A montagem de veículos antigamente era toda manual. Agora quantas pessoas estão ali botando a mão na massa? Tem o controle de qualidade, mas a produção bruta é automática. Pessoas serão necessárias para ajudar as máquinas a cuidarem dos processos".

"Quando você tiver 80 anos, talvez serão robôs ajudando, e não enfermeiras humanas”, especula Ganesan. "Mas imagine a infraestrutura e os empregos necessários para que isso aconteça". A IA, portanto, pode não ser vista como o fim da linha, mas uma oportunidade para construir o próximo capítulo da nova infraestrutura tecnológica. "Esse é o otimismo que precisamos vindo de líderes", finaliza Ganesan.

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