Crise de demência no Japão: como robôs, IA e GPS se tornaram a linha de frente de um desafio bilionário

Mais um fator na crise demográfica do país

Idosos | Fonte: Getty Images
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Vika Rosa

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Vika Rosa

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Jornalista com mais de 5 anos de experiência, cobrindo os mais diversos temas. Apaixonada por ciência, tecnologia e games.


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O Japão enfrenta uma das crises demográficas mais urgentes do mundo. Com quase 30% da população com 65 anos ou mais, o país lida com um número crescente de casos de demência: apenas no ano passado, mais de 18 mil idosos com a condição desapareceram, e quase 500 foram encontrados mortos.

Diante do aumento dos custos com saúde e assistência social – que devem atingir 14 trilhões de ienes (cerca de US$ 90 bilhões) até 2030 – e das restrições para a entrada de cuidadores estrangeiros, o governo japonês adotou a tecnologia como uma estratégia central para aliviar a pressão social.

Rastreamento e redes de segurança comunitária

Para combater o desaparecimento de idosos, o Japão está adotando sistemas de rastreamento baseados em GPS. Algumas regiões oferecem dispositivos vestíveis que emitem alertas imediatos às autoridades assim que a pessoa sai de uma área pré-determinada.

Em algumas cidades, a vigilância se transformou em uma rede de segurança comunitária: funcionários de lojas de conveniência recebem notificações em tempo real, permitindo que uma pessoa desaparecida seja localizada e resgatada em questão de horas.

IA para detecção precoce e monitoramento

A tecnologia também está sendo usada para o diagnóstico mais rápido e eficaz. O aiGait, desenvolvido pela Fujitsu e Acer Medical, utiliza inteligência artificial para analisar padrões de marcha e postura.

A IA consegue identificar sinais sutis de demência – como arrastar os pés, fazer curvas mais lentas ou ter dificuldade para se levantar – e gerar contornos esqueléticos que ajudam os médicos a intervir mais cedo. Segundo a Fujitsu, a detecção precoce é fundamental para que as pessoas permaneçam ativas por mais tempo.

Robôs cuidadores: do preparo de ovos a abraços de bolso

O Japão é o epicentro do desenvolvimento de robôs cuidadores, destinados a complementar o trabalho humano.

Pesquisadores da Universidade de Waseda estão desenvolvendo o AIREC, um robô humanoide de 150 kg capaz de realizar tarefas complexas como dobrar roupas, preparar refeições e, no futuro, trocar fraldas e prevenir escaras.

Para combater o isolamento social, a Sharp desenvolveu o Poketomo, um pequeno robô de 12 cm que cabe no bolso. Ele lembra os usuários de tomar medicamentos, informa sobre o clima e oferece conversas, funcionando como um alívio para quem vive sozinho.

Em lares de idosos, robôs já estão sendo colocados sob os colchões para monitorar o sono e as condições de saúde, reduzindo a necessidade de checagens humanas frequentes.

No entanto, especialistas como o Professor Assistente Tamon Miyake alertam que a precisão e a inteligência necessárias para que humanoides interajam de forma totalmente segura com humanos levarão pelo menos cinco anos para serem alcançadas.

A conexão humana é insubstituível

Apesar da inovação tecnológica, a pesquisa e as iniciativas sociais reforçam que a conexão humana permanece insubstituível.

Cientistas da Universidade de Waseda enfatizam que "os robôs devem complementar, e não substituir, os cuidadores humanos". Seu papel principal é auxiliar, e não tomar o lugar do afeto e do envolvimento social.

Essa ideia é ilustrada pelo "Restaurante dos Pedidos Equivocados" em Tóquio. O local é atendido por pacientes com demência e foi criado para que essas pessoas se mantenham engajadas e se sintam realizadas. 

Mesmo com o declínio cognitivo, o garçom Toshio Morita aprecia a interação social, provando que, embora a tecnologia forneça ferramentas, o apoio comunitário e a conexão são o que realmente sustentam as pessoas que vivem com demência.

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