A epidemia dos médicos falsos: investigação revela centenas de vídeos clonados enganando pacientes online

Perfis falsos de profissionais de saúde usam IA para vender suplementos duvidosos e colocam em xeque a confiança na informação médica online

Crédito de imagem: Xataka Brasil
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João Paes

Redator
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João Paes

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Escreve sobre tecnologia, games e cultura pop há mais de 10 anos, tendo se interessado por tudo isso desde que abriu o primeiro computador (há muito mais de 10 anos). 

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A internet já viu de tudo — golpes mirabolantes, gurus do bem-estar e teorias conspiratórias que brotam como spam. Mas a nova onda de desinformação mira diretamente um ponto sensível: a saúde pública. Uma investigação publicada pelo The Guardian, baseada no trabalho da organização britânica Full Fact, revelou que TikTok, X, Facebook e YouTube estão abarrotados de deepfakes de médicos reais promovendo suplementos sem comprovação científica. E não é exagero: são centenas de vídeos espalhados por múltiplas plataformas.

A estratégia é tão simples quanto perigosa. Criadores anônimos pegam vídeos verdadeiros de especialistas reconhecidos, alteram áudio e imagem com inteligência artificial e fazem esses profissionais “recomendarem” produtos como probióticos e compostos exóticos — caso do Himalayan shilajit — vendidos no site de uma empresa chamada Wellness Nest. Tudo isso direcionado especialmente a mulheres na menopausa, um grupo frequentemente alvo de soluções mágicas e promessas de cura rápida.

Entre as vítimas está o professor David Taylor-Robinson, especialista em saúde infantil da Universidade de Liverpool. Ele descobriu por acaso que sua imagem estava sendo usada em pelo menos 14 vídeos falsos no TikTok. Em um deles, o “clone digital” falava sobre um suposto efeito colateral da menopausa chamado thermometer leg — algo que simplesmente não existe. Em outro, aparecia fazendo comentários misóginos enquanto empurrava suplementos “naturais” com uma lista de ingredientes digna de bula de farmácia paralela.

O mais surreal? O material original para esses deepfakes veio de palestras oficiais de saúde pública: um evento da Public Health England em 2017 e uma audiência parlamentar em 2024. Ou seja: o golpe usa justamente a credibilidade institucional como matéria-prima para enganar.

Taylor-Robinson levou seis semanas para conseguir que o TikTok removesse os vídeos. No início, parte do conteúdo foi considerada aceitável pela plataforma — mesmo sendo tudo manipulado. Duncan Selbie, ex-chefe da Public Health England, também apareceu falsificado em vídeos sobre menopausa, assim como outros nomes de peso, incluindo o renomado professor Tim Spector e até o falecido Dr. Michael Mosley.

A Wellness Nest nega qualquer envolvimento e diz não ter controle sobre afiliados ao redor do mundo. Mas isso não ameniza o problema: conteúdos assim circulam rápido, parecem legítimos e exploram justamente quem está buscando ajuda.

O caso reacendeu o debate sobre a responsabilidade das plataformas e a necessidade de regras mais duras para IA generativa em conteúdos de saúde. Parlamentares britânicos já pedem punições criminais para quem cria deepfakes de médicos e defendem que usuários que busquem orientações médicas online sejam encaminhados automaticamente para serviços oficiais de saúde.


Crédito de imagem: Xataka Brasil


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