Nem sempre estamos afim de receber visitas em casa quando estamos doentes. Mas, se quem aparece é seu chefe para verificar se você está realmente doente, a situação pode ficar ainda mais tensa. Os funcionários da fábrica da Tesla em Grünheide (Alemanha) que estão de licença médica têm recebido visitas de diretores da empresa, e não é para levar sopa ou remédio.
Visitas indesejadas
Segundo o jornal alemão Handelsblatt, alguns diretores da fábrica da Tesla deixaram seus escritórios para visitar pessoalmente os colaboradores que estavam de licença médica.
Os funcionários não gostaram do fato de a empresa enviar “inspetores” para verificar se eles estavam realmente doentes. A Fortune relatou que alguns trabalhadores optaram por não abrir a porta, enquanto outros consideraram chamar a polícia caso alguém, em nome da Tesla, batesse à sua porta.
O motivo: faltas excessivas
A inesperada visita dos diretores da Tesla aos seus funcionários doentes não se deve a uma preocupação genuína com o estado de saúde dos colaboradores.
Em agosto, 17% da equipe que trabalha na fábrica alemã declarou estar doente, um número que representa mais que o triplo da média da indústria alemã. Em certos momentos, essa taxa chegou a 30% dos funcionários em licença médica.
O índice de absenteísmo foi tão alto que até Elon Musk comentou em sua conta no X, afirmando que tomaria providências. "Isso é uma loucura. Estou investigando", escreveu Musk.
Licença médica e faltas
Neste contexto, é importante lembrar que uma licença médica é uma causa justificada de afastamento. A incapacidade temporária por motivos médicos é um direito trabalhista garantido aos empregados, que deve ser concedido por profissionais da Saúde Pública ou por uma entidade assistencial.
Esse período de afastamento é destinado ao tratamento médico até que o funcionário possa retornar às suas atividades, e deve ser sempre validado por profissionais de saúde autorizados.
Por outro lado, o afastamento injustificado ocorre quando o funcionário não cumpre seu compromisso de comparecer ao trabalho nos horários ou prazos acordados, sem apresentar uma justificativa médica ou qualquer outro tipo de justificativa válida.
A sobrecarga de trabalho como detonador
Dirk Schulze, diretor regional do sindicato IG Metall, que representa grande parte dos 12.000 trabalhadores da fábrica da Tesla, apontou à Fortune que a sobrecarga de trabalho e as longas jornadas são as principais razões para o aumento nas ausências.
Em sua opinião, a Tesla precisaria fazer mudanças em sua cultura de trabalho se quiser reduzir as licenças médicas de seus funcionários. "Funcionários de quase todas as áreas da fábrica relataram uma carga de trabalho extremamente alta", destacou o sindicalista ao The Guardian.
Em resposta, André Thierig, diretor sênior de fabricação, afirmou ao The Guardian: "Nossos levantamentos sobre a presença no trabalho revelaram alguns fenômenos: nas sextas-feiras e nos turnos noturnos, aproximadamente 5% a mais de funcionários se ausentam por doença em comparação com os demais dias da semana", disse ele.
Na visão do executivo, isso não é um indicador de más condições de trabalho, pois as condições são as mesmas em todos os dias úteis e turnos. Trabalhadores temporários que compartilham turnos com contratados em tempo integral apresentam uma taxa de ausências de apenas 2%.
Tesla considera um abuso da legislação
Thierig acredita que os funcionários estão fazendo uso indevido do sistema assistencial alemão, que prevê que as empresas cubram integralmente os custos das primeiras seis semanas de licença médica dos funcionários. "O sistema social alemão está sendo explorado até certo ponto. Precisamos fazer um apelo à ética de trabalho dos funcionários", afirmou o executivo à Fortune.
No entanto, essa não é a primeira vez que a Tesla enfrenta problemas com a retenção de seus colaboradores. Apenas algumas semanas após o início das atividades na fábrica de Berlim, já surgiram os primeiros problemas relacionados às demissões em sua equipe.
Imagem | Tesla
Ver 0 Comentários