De maneira inusitada, foto de brasileira vai parar na Índia e vira centro de acusação de fraude eleitoral

A imagem foi retirada de um banco de imagens e utilizada  indevidamente na Índia

22 eleitores da Índia em um telão. Créditos: : Partido do Congresso da Índia via BBC
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Laura Vieira

Redatora
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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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Larissa Nery é uma cabeleireira brasileira de 27 anos que reside na cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Na quarta-feira passada (05/11), ela saiu do salão em que trabalhava para almoçar em um restaurante quando descobriu que virou alvo de um escândalo político bem distante do Brasil, na Índia. Larissa, que nunca nem pisou no país, teve uma foto sua exibida durante uma coletiva de imprensa que revelava um suposto caso de fraude política na Índia. A seguir, entenda qual é a relação de Larissa com o caso e como sua foto foi parar a quilômetros de distância do seu país de origem. 

Foto de brasileira vira escândalo político na Índia 

Imagina acordar um dia e descobrir que o seu rosto está estampado em todos os jornais da Índia, após uma denúncia de fraudes no sistema eleitoral do país? Agora imagine que você não é indiano, nunca pisou no país e muito menos votou nas eleições. Foi exatamente esse desespero que Larissa sentiu quando descobriu que a sua foto foi parar em uma coletiva de imprensa que denunciava um suposto caso de fraude.

A coletiva foi organizada por Rahul Gandhi, líder da oposição na Índia, após o político suspeitar de irregularidades nas eleições. Durante o evento, ele apresentou um slide mostrando o registro de 22 eleitores com nomes e endereços diferentes. No entanto, o que chamou a atenção de Rahul é que todos eles foram cadastrados com a foto de Larissa.

Uma coincidência maior ainda é que todos esses 22 eleitores cadastrados na Comissão Eleitoral Indiana votaram justamente no partido do primeiro-ministro Narendra Mod, o  Bharatiya Janata Party (BJP). Apesar disso, tanto a Comissão Eleitoral quanto o BJP negam qualquer envolvimento em fraudes eleitorais no país. 

Larissa passou a ser assediada depois da acusação 

Imagem de Larissa Nery Essa é a foto de Larissa Nery usada por 22 eleitores na Índia. Créditos: Reprodução/redes sociais via BBC

Quando Larissa descobriu o que estava acontecendo, ela jurava que tudo não passava de uma brincadeira produzida por inteligência artificial. Mas depois que começou a receber milhares de mensagens em suas redes, ela começou a entender melhor a proporção do caso e percebeu que as notícias eram verdadeiras. Daí em diante, a vida de Larissa virou de cabeça para baixo.

A cabeleireira passou a ser importunada em suas redes sociais com uma série de mensagens e menções sobre o caso. E como se já não bastasse, o estabelecimento onde Larissa trabalha também passou a ser assediado por internautas. Isso acabou incomodando a chefe de Larissa e afetando a vida profissional da cabeleireira, sem que ela tivesse culpa alguma. 

Banco de imagens e o uso indevido de imagens

Mas afinal, como a foto de Larissa foi parar há quilômetros de distância do Brasil? Com a internet, é cada vez mais comum o compartilhamento de fotos e vídeos em perfis nas redes sociais e em bancos de imagens. E foi mais ou menos assim que a foto de Larissa foi parar na Índia. 

Em 2017, aos 18 anos, Larissa fez um ensaio fotográfico na frente de casa. Na época, o fotógrafo Matheus Ferrero queria trabalhar profissionalmente na área e convidou Larissa para participar tirar algumas fotos. Depois do ensaio, ele decidiu enviar as fotos para um banco de imagens para promover o seu trabalho, com o consentimento de Larissa. O que ele não esperava é que, anos depois, essas fotos seriam usadas para fraudar o sistema eleitoral de um país. 

Casos como esse levantam um assunto muito importante na era da internet: o uso indevido de imagens. As fotografias compartilhadas em redes sociais abertas estão sujeitas a serem apropriadas e usadas indevidamente por usuários, mas bancos de imagem deveriam oferecer proteção de imagem. No caso de Larissa, isso não aconteceu, e a consequência disso ela está sentindo hoje, 9 anos depois. 


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