Eu sempre gostei de falar com desenvolvedores. Gente que, além de criar mundos digitais, coloca um pedaço de si em cada linha de código, em cada frame de animação. Quando conversei com Juno Cecilio, CEO da Gixer Entertainment, ficou claro que ele é exatamente esse tipo de criador.
Com mais de 60 títulos no currículo e uma carreira que inclui passagens por gigantes como Wildlife Studios e DX Gameworks, Juno decidiu transformar uma paixão de infância em algo único: Changer Seven, um jogo que mistura heróis japoneses com a cultura brasileira. O resultado é uma obra que carrega o DNA de quem cresceu com Jaspion, Changeman e Cavaleiros do Zodíaco, mas que também valoriza o som do funk carioca e a energia das ruas de São Paulo.
De onde veio a ideia de criar um "Power Rangers brasileiro"?
Quando perguntei sobre a inspiração para Changer Seven, Juno não precisou pensar muito:
“Quando eu era moleque, curtia muito esses heróis japoneses. Na minha época era Jaspion, Changeman, Flashman… Mas eu sempre me perguntava: por que eles só salvam Tóquio e Nova York? Por que não salvam o Bixiga?”
Essa pergunta virou o conceito central do jogo: um grupo de super-heróis que luta contra o mal em cenários que misturam tokusatsus japoneses com a estética urbana brasileira.
“Eu sempre achei que o Chapolin era brasileiro, porque era o mais próximo da nossa realidade. Então pensei: e se eu criasse meus próprios heróis, com a nossa cara?”
O jogo é recheado de referências que só quem cresceu no Brasil vai entender. Uma das chefes, por exemplo, é inspirada na Xuxa e na lenda urbana do boneco Fofão. “Ela pega o boneco, arranca a cabeça e transforma num punhal. É o tipo de coisa que só faz sentido pra quem cresceu aqui”, diz Juno, rindo.
O desafio de fazer tudo isso acontecer
Quando perguntei sobre os maiores desafios no desenvolvimento, a resposta foi direta: “Dinheiro!”, soltou Juno, sem rodeios.
Ele me explicou que a Gixer trabalha principalmente com projetos B2B, e foi desse caixa que ele conseguiu tirar os recursos para investir no jogo. “Quando tinha um pouco mais de grana, contratava gente. Quando apertava, segurava. Foi assim o tempo todo.”
Um dos maiores perrengues foi na área de animação. “A gente contratou animadores, mas a verba era curta e o prazo apertado. Aí consegui um apoio da Black House, um estúdio de mocap. Eles curtiram o projeto e fizeram um preço camarada.” Isso, segundo ele, salvou a produção das animações que são essenciais para um jogo de ação com combate estilizado.

O apoio da NVIDIA e a importância de ser visto
Ver Changer Seven no estande da NVIDIA foi um marco para o estúdio. “Foi surreal. Minha placa de vídeo é muito ruim. Rodar Unreal era um tormento”, confessou, arrancando risadas minhas durante a entrevista. “Agora parece que tô jogando no Easy. Tudo flui.”
Mas Juno sabe que a visibilidade não é tudo. “É hardware, é acesso. Quando você não tem nem equipamento pra testar, é difícil competir. E agora a gente tá podendo entregar com a qualidade que o pessoal lá de fora entrega.”
Onde encontrar o jogo?
Changer Seven ainda está em produção, mas já pode ser adicionado à wishlist na Steam. Além disso, Juno e sua equipe estão lançando mangás que expandem o universo do jogo — mais uma camada criativa nesse ecossistema que mistura paixão, cultura e identidade brasileira.
“É só procurar por Changer7 nas redes sociais. A gente tá construindo uma comunidade em torno do jogo. E o mais bonito é ver que tem gente se identificando. É pra isso que a gente faz.”
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