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Na Coreia do Sul a competição começa aos 5 anos de idade: 84% das crianças já frequentam cursos para se destacar

Coreia do Sul infância competição estudos. Imagem: Xataka
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Sofia Bedeschi

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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência, gamer desde os 6 e criadora de comunidades desde os tempos do fã-clube da Beyoncé. Hoje, lidero uma rede gigante de mulheres apaixonadas por e-Sports. Amo escrever, pesquisar, criar narrativas que fazem sentido e perguntar “por quê?” até achar uma resposta boa (ou abrir mais perguntas ainda).

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Entrar em uma universidade já é complicado. Bancar os estudos, então, nem se fala. Isso acontece em várias partes do mundo, mas na Coreia do Sul o nível de exigência do sistema educacional é tão alto que tirar boas notas no ensino médio não é suficiente — a preparação começa aos cinco anos de idade.

A disputa por uma vaga em uma escola de qualidade é acirrada. Por isso, as crianças sul-coreanas acabam sendo pressionadas a se destacar desde muito cedo, frequentando aulas extracurriculares. Além de desenvolverem suas habilidades enquanto brincam, o principal objetivo é prepará-las para o futuro.

Conhecidos como hagwons, esses centros acadêmicos privados oferecem aulas voltadas para esportes, música e outras atividades culturais. No entanto, segundo um relatório da Deutsche Welle, as disciplinas mais procuradas são inglês e matemática. O motivo? A promessa de garantir a aprovação no vestibular.

Um exemplo disso foi destacado pela Creatrip: um menino de apenas oito anos frequentava 11 aulas extras por semana. Entre lições de inglês, chinês, história, violino, balé, matemática e composição musical, ele representa apenas um dos muitos casos de crianças submetidas a uma rotina escolar extremamente exigente desde cedo.

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Mas a pressão não para por aí

Na Coreia do Sul, o futuro das crianças começa a ser moldado antes mesmo do nascimento. Segundo informações do The Korean Herald, existem centros especializados para que mães que acabaram de dar à luz recebam o melhor cuidado no pós-parto. O problema está no preço e na alta demanda.

Esses locais, chamados joriwon, custam entre 8 e 10 milhões de wons (algo entre R$ 32 mil e R$ 40 mil). A concorrência é tão grande que muitas mulheres já começam a enviar pedidos de reserva assim que descobrem a gravidez.

Só que, além da cobrança para que crianças se destaquem desde cedo, há outro desafio que preocupa a sociedade sul-coreana: a crise demográfica. Com a menor taxa de natalidade do mundo, o governo tem adotado medidas desesperadas, como oferecer cerca de R$ 38 mil para casais que desejam ter filhos.

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Ainda assim, muitos outros fatores como as longas jornadas de trabalho e o alto custo da moradia também pesam nessa equação. Garantir uma boa qualidade de vida para uma criança na Coreia do Sul se tornou algo difícil. Entre o preço elevado da educação e a pressão acadêmica extrema, esses dois problemas levam a uma decisão cada vez mais comum: é melhor não ter filhos.

O mais curioso é que tudo isso acaba formando uma espécie de paradoxo educacional que se mostra contraproducente. Vale lembrar que, em meados do século XX, reformas no sistema de ensino impulsionaram drasticamente a taxa de alfabetização no país. O salto foi impressionante: de 22% da população com estudos em 1945 para 87% em 1970, chegando a 93% em 1980.

Hoje, a Coreia do Sul é o país com o maior número de formados no mundo. Cerca de 70% da população entre 25 e 34 anos tem diploma universitário. De forma quase irônica, a sociedade sul-coreana se tornou tão eficiente academicamente que o problema deixou de ser a falta de educação e passou a ser o excesso de exigência.

Mas até agora, nem tocamos no ponto mais importante: a saúde mental das crianças. Com tanta competição e o estresse acadêmico cada vez mais presente já no ensino fundamental, crianças entre 7 e 12 anos vêm enfrentando quadros de depressão e ansiedade. De forma geral, cerca de 270 mil menores de 18 anos procuraram clínicas psiquiátricas em 2024 — quase o dobro do número registrado em 2020.

Hoje, a Coreia do Sul tem dois grandes desafios pela frente: reverter a queda na taxa de natalidade e tornar o acesso à educação mais leve e acolhedor. Tudo isso sem comprometer a saúde mental das novas gerações.

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