Há quem diga que Pokémon Go já passou do auge e é um jogo morto hoje em dia. Mas a verdade é que a parceria o aplicativo da Niantic com a Pokémon Company ainda possui uma comunidade engajada, mesmo que não seja tão grande quanto na época do lançamento em 2016. O segredo para manter essa comunidade é a atualização frequente do jogo e o calendário de eventos variados. Esses acontecimentos periódicos são tão atraentes o interesse dos jogadores que compram ingressos para participar e até viajam para outros países. Nem sempre fisicamente.
Viajando sem sair do lugar
A mecânica de Pokémon Go é baseada em andar por aí capturando os monstrinhos conforme os encontra pelo caminho. Diferentes pokémons aparecem em diferentes lugares, tendo espécies exlusivas de certos países. O único jeito de consegui-las é trocando com outro jogador ou indo até o país capturá-la. Ou pelo menos deveriam ser as únicas maneiras. Alguns jogadores burlam essa restrição utilizando VPN para simular que estão em outro país e poder capturar monstrinhos. Eles são conhecidos como no Brasil como Fly.
Esse "vôos" não são motivados apenas pela variedade dos pokémons locais, mas também pela duração dos eventos promovidos pela Niantic. A programação tem início ligado à hora local, então ela começa antes nos países mais à frente no fuso horário. Isso tornou Kiribati, um país composto de 33 ilhas no Oceano Pacífico, o principal destino dos jogadores Fly. O país é um dos lugares mais isolados do mundo e o menos visitado. Então com a chegada do Pokémon Go Fest 2025, o youtuber Nick Oyzon, dos Estados Unidos decidiu ir fisicamente até Kiribati para conferir se alguém no país jogava mesmo Pokémon Go. E depois de chegar com muito esforço, o que ele viu o levou a uma conclusão inesperada.
Difícil de chegar até Kiribati
As dificuldades de Nick começaram no planejamento da viagem. De acordo com o que ele fala no vídeo, não foi possível comprar uma passagem para chegar no dia do evento. Depois de muita pesquisa, ele chegou no site do governo local, e soube que há apenas dois voos semanais para lá: um saindo de Fiji e outro do Havaí. Isso significava que ele teria que passar uma semana inteira no país.
Com a passagem comprada, a outra dificuldade foi encontrar um lugar para ficar. Nem mesmo o site do país ajudou, já que a página chamada "Onde Ficar" estava vazia. Ele só conseguiu encontrar um teto depois de acessar o Google Maps, encontrar hotéis no mapa e conseguir entrar em contato com eles. Alguns não tinham site, nem telefone, restando apenas entrar em contato por email.
Um detalhe importate
Com tudo combinado, era hora de voar. Durante a espera para embarcar, Nick decidiu checar a Wikipedia da ilha onde iria ficar e leu algo que o deixou preocupado: a conexão com internet dependia de satélite e era bem lenta. Esse registro foi feito em 2023. Isso seria um grande empecilho, já que é necessário estar conectado para jogar Pokémon GO. Depois de três horas atravessando o Oceano Pacífico, Nick chega à ilha e é buscado por um dos filhos do dono do hotel onde ia ficar. Durante o trajeto até a hospedaria, ele descobriu que o hotel possuía wi-fi via Starlink. Isso permitiria que ele jogasse enquanto estivesse no quarto, mas não poderia se afastar.
Para conseguir ter mais mobilidade, ele resolveu comprar um Sim Card local, que desse acesso à internet 3G local. Nos últimos dois anos, várias operadoras instalaram antenas de transmissão para oferecer o serviço de telefonia celular na ilha. Mas até mesmo adicionar crédito no chip para poder acessar a internet era difícil: foi preciso comprar um cartão, raspar o um código, ligar para o telefone da operadora, e digitar o código.
Ilha deserta
Com tudo certo, Nick então saiu para explorar a ilha e tentar encontrar algum jogador de Pokémon Go de Kiribati ou que pelo menos estivesse jogando ali. E durante todo o tempo, mesmo perguntando para moradores, crianças e adultos, não conseguiu encontrar nenhum. E faz sentido que não haja tantos jogadores em um lugar onde o acesso à internet móvel seja limitado, ou smartphones não sejam tão democratizados. Mas o que impressionou Nick de verdade foi como os moradores conseguiam sair, interagir e se divertir sem a mediação de um aparelho eletrônico ou jogo.
Esse lugar não precisa de Pokemon Go. As pessoas saem de casa, nadam, praticam esportes, se encontram com os amigos. Nós do mundo superdesenvolvido cronicamente online que precisamos de monstros imaginários para nos fazer sair de casa. Já existe uma cultura de comunidade aqui. E eles não precisam que alguém como eu desça da minha torre 5G de mármore para mostrar como se divertir.
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