A China ficou sem acesso a uma de suas principais vias de internet por uma hora; não está claro se foi um teste ou um erro

  • Por 74 minutos, a principal rota de tráfego criptografado entre a China e o mundo exterior foi interrompida.

  • O bloqueio foi cirúrgico, deixou rastro técnico e não foi explicado por nenhuma autoridade.

  • Ninguém sabe se foi um teste, uma falha ou um sinal, mas o Grande Firewall ainda está operacional.

Motivo do apagão de internet na China ainda está sendo investigado | Imagem: Leon Seibert, Xataka com Gemini 2.5
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Igor Gomes

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Igor Gomes

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Subeditor do Xataka Brasil. Jornalista há 15 anos, já trabalhou em jornais diários, revistas semanais e podcasts. Quando criança, desmontava os brinquedos para tentar entender como eles funcionavam e nunca conseguia montar de volta.

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Há interrupções perceptíveis na internet. E há também o que aconteceu na China. Por uma hora inteira, um dos principais canais de tráfego criptografado para o mundo exterior caiu sem explicação. Não foi um apagão total, mas foi uma interrupção visível em muitos lugares: aplicativos que travaram, sites que não responderam, serviços que falharam logo na fronteira. A falha não se enquadrava em uma interrupção local típica ou em um problema com uma única operadora. Durou 74 minutos, perturbou as redes e deixou um silêncio constrangedor para trás.

O que caiu não foi toda a internet, mas uma parte específica e amplamente utilizada dela: o canal que permite que conexões criptografadas operem com segurança. De acordo com o Relatório GFW, entre 00h34 e 01h48 do dia 20 de agosto, horário de Pequim (UTC+8), houve um bloqueio generalizado na porta 443, usada pela maior parte do tráfego HTTPS. O efeito foi amplo e prolongado, mas não afetou outros canais. O mais impressionante é que, até o momento, ninguém explicou o que causou essa interrupção ou por que ela ocorreu durante esse período.

A análise técnica aponta para um padrão muito específico

Sempre que uma conexão tentava ser estabelecida naquela porta, pacotes especiais apareciam — RST+ACK — que agiam como uma ordem de desligamento. Eles eram o equivalente digital a desligar o telefone antes que alguém atendesse. Esses pacotes não foram enviados por engano: estavam sendo injetados em grandes quantidades no momento crucial da troca entre cliente e servidor. Segundo especialistas, essa alteração não condiz com uma queda devido ao congestionamento e afetou tanto as conexões que saíam da China quanto as que tentavam entrar.

Apesar da gravidade da interrupção, nem tudo parou de funcionar

As conexões internas na China permaneceram ativas, e outras portas, como a porta 80 (para tráfego não criptografado) ou a porta 22, destinada a conexões remotas, não apresentaram sinais de bloqueio. O problema estava centrado na porta 443. Isso explica por que alguns serviços conseguiram continuar funcionando enquanto outros ficaram inacessíveis: não foi uma desconexão total, mas sim uma interrupção altamente direcionada do caminho criptografado através da fronteira digital do país.

Não há relatos públicos indicando que plataformas como WeChat, Baidu ou Weibo tenham sofrido uma interrupção generalizada nesse período; sua infraestrutura principal está localizada principalmente no país e não depende de tráfego internacional para funções básicas. Mas muitos aplicativos chineses incorporam componentes que dependem de servidores fora da China — atualizações, miniprogramas, APIs externas ou funções em nuvem — e essas chamadas podem ter falhado quando a conexão criptografada foi bloqueada.

Não há relatórios públicos indicando que plataformas como WeChat, Baidu ou Weibo sofreram uma queda generalizada nesse período.

O impacto foi mais perceptível nos serviços internacionais. De acordo com o The Register, algumas conexões com serviços estrangeiros — incluindo alguns recursos da Apple e da Tesla — podem ter sido interrompidas para usuários na China durante o período de bloqueio. Outros serviços internacionais que dependem de HTTPS, como certas CDNs ou conexões VPN que usam TCP/443, também ficaram indisponíveis. Em resumo: a rede interna não foi interrompida; o canal criptografado para o exterior foi cortado, o que foi suficiente para deixar muitos de fora.

Uma das pistas mais relevantes é justamente essa impressão digital técnica

Todo sistema que filtra ou interrompe conexões deixa um rastro — uma impressão digital — reconhecível pela ordem dos pacotes, o TTL ou o tamanho da janela TCP. Nesse caso, esses valores diferiram de documentos anteriores, então os pesquisadores propõem duas hipóteses: um novo dispositivo implantado para testes ou um dispositivo conhecido que estava em um estado anômalo ou mal configurado. As conclusões permanecem condicionais até que mais dados estejam disponíveis.

O tráfego voltou ao normal e não houve consequências visíveis em larga escala.
Mas a interrupção foi real, documentada e deixou um mistério no ar. Não houve declarações ou explicações oficiais. De qualquer forma, a Grande Muralha ainda está lá, operando normalmente e com uma capacidade de intervenção que foi documentada desta vez.

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