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Em meio a tumulto sobre corte de cabos submarinos, China revela arma definitiva: uma furadeira radial com esteroides

Pesquisadores chineses acabam de detalhar uma nova ferramenta que serve para cortar cabos submarinos a profundidades de até 4.000 metros

China cria ferramenta para cortar cabos submarinos e alega  que o uso é apenas civil - será mesmo? / Imagem: AKAMGO yalms (2), What's Inside
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Os cabos submarinos são um dos elementos mais importantes da atualidade. Não se trata apenas de um componente de infraestrutura que organizações e empresas desenvolvem, mas também de algo que ganhou destaque por causa da guerra na Ucrânia e de manobras no mar do Sul da China. Foi nesse conflito que alguns cabos cortados desencadearam o temor de ficar sem internet.

Esses cabos são protegidos, mas podem ser danificados por navios. Agora, a China apresentou um dispositivo projetado para uma tarefa específica: cortar cabos submarinos. E esta é a primeira vez que alguém anuncia ter uma ferramenta capaz de interromper as redes submarinas críticas.

A importância dos cabos

Há mais de 1,4 bilhão de metros de cabos submarinos que conectam todos os países. Outros milhares de quilômetros estão planejados e a grande maioria das comunicações de alguns países depende desses cabos. No caso da Austrália, por exemplo, 95% das comunicações passam por eles e estima-se que 95% dos dados manejados pela população dos EUA e 75% dos manejados pela população chinesa também dependam desses cabos. Eles são vitais para a internet e tudo o que isso envolve, como streaming, inteligência artificial e servidores. Agora, tornaram-se protagonistas em cenários de conflito.

Países em conflito perceberam que podem causar grandes danos cortando esses cabos com navios ou por meio de técnicas mais sofisticadas, como ataques com som. Às vezes, tratam-se de simples acidentes, mas a suspeita de que um cabo submarino danificado seja resultado de um ataque inimigo está sempre presente. E ainda mais agora, com o que a China acaba de anunciar.

O dispositivo chinês

Conforme noticiado pelo South China Morning Post, o Laboratório Estatal Chave de Veículos Tripulados de Águas Profundas e o Centro de Pesquisa Científica de Navios da China desenvolveram uma ferramenta descrita como “compacta” e que é capaz de cortar as linhas de comunicação ou de energia submarinas mais sofisticadas do mundo.

Por se tratar de uma ferramenta projetada especificamente para esse fim, ela foi concebida para cortar cabos a profundidades de até 4.000 metros. Atualmente, não há cabos localizados em tal profundidade, mas seus criadores dotaram o dispositivo de uma carcaça de liga de titânio totalmente selada para resistir à enorme pressão.

O submersível Haidou é capaz de transportar o cortador O submersível Haidou é capaz de transportar o cortador

O dispositivo está equipado com um motor de um quilowatt e, como ferramenta de corte, utiliza uma roda de diamante de 150 milímetros que gira a 1.600 rotações por minuto. Pode-se dizer que é uma mistura entre um drone protegido para suportar altíssimas pressões e uma serra radial. Essa ferramenta de corte permite destruir até mesmo os cabos blindados que possuem camadas de aço, borracha e revestimento polimérico.

Sua forma foi projetada para que possa ser integrada tanto a submersíveis tripulados quanto não tripulados da China. Por exemplo, os veículos Haidou ou Fendouzhe poderiam ter essa ferramenta como um de seus equipamentos. O Haidou, por curiosidade, é um submersível não tripulado em forma de peixe, com desenhos de olhos e nadadeiras, criado para exploração. O Fendouzhe é um submarino tripulado, também voltado para pesquisa e exploração.

Ordem mundial

Como dissemos, ameaçar cortar cabos submarinos não é algo novo. Vimos isso na guerra da Ucrânia, mas é a primeira vez que um país revela oficialmente contar com uma ferramenta projetada exclusivamente para essa tarefa. Ainda assim, os responsáveis afirmam que a ferramenta foi criada para fins civis.

Esses fins seriam operações de resgate e mineração no leito marinho. No entanto, é evidente que se trata de uma ferramenta que, com certeza, está provocando certa inquietação em governantes ao redor do mundo. Está claro que um equipamento como esse pode desestabilizar as comunicações durante uma crise e ser empregado estrategicamente em um ataque. E não se trata apenas da comunicação, mas de tudo o que depende da internet, como servidores e os serviços que dependem deles.

Debate e consequências

Quando um cabo é cortado, as comunicações são rapidamente redirecionadas por outro, já que esses sistemas são preparados para suportar grande largura de banda. Por isso, geralmente não ocorrem interrupções significativas, mas o cabo precisa ser reparado — um processo bastante caro. No entanto, quando não se trata de um único cabo, e sim de vários cortados ao mesmo tempo, essa conexão pode, sim, ser comprometida.

É isso que tem gerado um debate sobre a necessidade de proteger essa infraestrutura. A OTAN lançou a missão “Baltic Sentry” para patrulhar regiões sensíveis com aviões, drones e navios de guerra. Também há empresas oferecendo serviços avançados de monitoramento dos cabos, com todas essas medidas respondendo a uma única preocupação: proteger a infraestrutura e garantir a detecção precoce para evitar cortes.

O fato de já haver países que tornaram público o desenvolvimento de ferramentas sofisticadas para cortar cabos submarinos e interferir na geopolítica mundial é uma nova dor de cabeça.

Imagens | AKAMGO yalms (2), What's Inside

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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