Um dos maiores golpes de inteligência contra o complexo militar-industrial russo desde o início da guerra na Ucrânia foi revelado pela rede internacional InformNapalm. Em uma operação cibernética, hackers se infiltraram nos sistemas da empresa russa OKBM, um fornecedor-chave para a aviação estratégica e o setor espacial, expondo informações técnicas confidenciais de dois dos projetos mais importantes de Moscou: o bombardeiro furtivo PAK DA "Poslannik" e o caça de quinta geração Su-57.
O vazamento não apenas entrega segredos aeronáuticos cruciais ao Ocidente, mas também expõe uma contradição que mina fundamentalmente o poderio militar russo: uma dependência crônica de tecnologia estrangeira.
Os arquivos, que segundo o InformNapalm já estão sendo usados pelas Forças de Defesa da Ucrânia e aliados, revelam a fragilidade estrutural por trás da fachada de soberania industrial do Kremlin.
Dependência do Ocidente
Documentação técnica com desenhos de engenharia e especificações para a caixa tipo RSh utilizada no sistema de casa de bombas do PAK DA.
O PAK DA "Poslannik" foi concebido pela Tupolev para ser o futuro da aviação estratégica russa, um bombardeiro furtivo intercontinental capaz de substituir os veteranos Tu-95 e Tu-160. No entanto, o projeto sofre com atrasos crônicos e problemas orçamentários há anos.
Os documentos vazados detalham especificações técnicas de componentes vitais, como o sistema hidráulico para a abertura do compartimento de bombas, além de um cronograma de produção que se estende até 2027.
O mais chocante, no entanto, é a revelação de que a OKBM, empresa vital para a produção desses componentes, depende inteiramente de máquinas CNC (Controle Numérico Computadorizado) de alta precisão importadas de Taiwan e da Sérvia. Esses equipamentos foram adquiridos com subsídios do próprio governo russo, financiando na prática a evasão das sanções internacionais. O vazamento expõe que a engenharia russa, por vezes, não consegue sustentar seus projetos mais ambiciosos sem tecnologia ocidental.
Modelo industrial comprometido
Acordo suplementar confirmando a continuidade do contrato do componente PAK DA sob o código técnico revisado 80RSh
O escândalo se aprofunda ao incluir o Su-57, o caça que Moscou apresenta como símbolo de sua independência tecnológica. Os e-mails e documentos internos confirmam que a produção do caça sofre dos mesmos gargalos do PAK DA: falta de peças críticas e atrasos causados pela saída de fabricantes internacionais após a invasão da Ucrânia. A discrepância entre a retórica de autossuficiência e a realidade de uma indústria sustentada por peças importadas tornou-se uma vulnerabilidade estratégica.
O impacto do vazamento, apelidado de OKBMLeaks, foi imediato. Após a análise dos documentos, a União Europeia incluiu oficialmente a OKBM em seu 19º pacote de sanções em outubro de 2025, reconhecendo seu papel central na produção de armamentos e na tentativa de burlar restrições.
A operação cibernética provou que expor vulnerabilidades industriais pode ser tão decisivo quanto um ataque físico, comprometendo (ao menos aparentemente) a capacidade da Rússia de concluir seus programas militares mais avançados.
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