Uso massivo de pagamentos móveis levou Suécia a tomar uma decisão: recomendar sempre levar dinheiro em espécie.

Caso sueco mostra que, embora a digitalização dos pagamentos ofereça eficiência e conveniência, depender inteiramente dela pode ser um risco

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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

É quase óbvio falar sobre o fim do "dinheiro em espécie" em vez de pagamentos por tela, mas no caso da Suécia, sempre foi mais especial. Com apenas 10% das transações feitas em dinheiro e a popularização de aplicativos móveis como o Swish, mais de 80% da população adotou os pagamentos digitais como norma, a ponto de se tornar, em breve, a primeira sociedade sem dinheiro em espécie. Agora, o governo percebeu os perigos que isso acarreta.

Problema da dependência digital

O modelo, baseado em eficiência e conveniência, parecia o caminho lógico para uma sociedade moderna e altamente digitalizada. No entanto, a crise geopolítica na Europa, o medo de ataques híbridos russos e a incerteza econômica expuseram uma vulnerabilidade fundamental: a dependência absoluta de pagamentos eletrônicos deixa o país exposto a falhas na infraestrutura digital, ataques cibernéticos e apagões.

A ameaça é tão grave que o Ministério da Defesa sueco começou a recomendar que os cidadãos voltem a usar dinheiro em espécie e mantenham reservas de pelo menos uma semana em diferentes notas como medida de defesa civil.

Mudança para o dinheiro em espécie

O banco central da Suécia afirmou que a eliminação do dinheiro em espécie aumentou a exclusão financeira e enfraqueceu a capacidade do país de responder a crises. Em seu último relatório, o banco central pede medidas para fortalecer a preparação e garantir que todos possam pagar, mesmo em situações de emergência.

Por sua vez, o governo sueco, em uma tentativa de corrigir o rumo, propôs uma lei que obrigaria certos estabelecimentos públicos e privados a aceitar dinheiro em espécie. Esta medida, impensável há alguns anos, responde às crescentes preocupações com a segurança dos pagamentos digitais. Além disso, a Noruega, que também avançou na eliminação do dinheiro físico, implementou medidas semelhantes. Lá, o governo aprovou uma lei que penaliza empresas que se recusam a pagar em dinheiro e recomendou que a população economize dinheiro em caso de crise digital.

As "bolhas de dinheiro"

Para o governo sueco, há outro problema. Pessoas sem acesso a contas bancárias, cartões de crédito ou celulares, como idosos, migrantes, moradores de rua e pessoas com problemas de saúde mental ou pobreza extrema, dependem exclusivamente de dinheiro. Essa dependência os confina a uma espécie de "bolhas de dinheiro", restringindo seu acesso a bens e serviços essenciais.

De fato, o caso de uma avó que economizou para comprar um presente para o neto e foi rejeitada no caixa viralizou, ilustrando a humilhação e o desamparo sentidos por aqueles excluídos desta economia digital.

Bancos e controle digital

É mais uma das pernas a serem tratadas. A rejeição ao dinheiro não é apenas uma questão econômica, mas também emocional e social. Eles disseram ao The Conversation que a digitalização gerou um sentimento de solidão e perda de senso de comunidade, com interações cada vez mais impessoais.

Assim, o que antes era visto como um movimento inevitável em direção a um mundo sem dinheiro está agora sendo reconsiderado como um risco estratégico. Suécia e Noruega, os países mais avançados na digitalização de pagamentos, tiveram que recuar para garantir a resiliência de suas economias a possíveis crises.

O caso sueco também mostra que, embora a digitalização de pagamentos ofereça eficiência e conveniência, depender totalmente dela pode colocar a estabilidade de um país em risco em tempos de crise. Ironicamente, os países mais próximos de erradicar o dinheiro agora estão promovendo seu uso como medida de segurança nacional.

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