É quase óbvio falar sobre o fim do "dinheiro em espécie" em vez de pagamentos por tela, mas no caso da Suécia, sempre foi mais especial. Com apenas 10% das transações feitas em dinheiro e a popularização de aplicativos móveis como o Swish, mais de 80% da população adotou os pagamentos digitais como norma, a ponto de se tornar, em breve, a primeira sociedade sem dinheiro em espécie. Agora, o governo percebeu os perigos que isso acarreta.
Problema da dependência digital
O modelo, baseado em eficiência e conveniência, parecia o caminho lógico para uma sociedade moderna e altamente digitalizada. No entanto, a crise geopolítica na Europa, o medo de ataques híbridos russos e a incerteza econômica expuseram uma vulnerabilidade fundamental: a dependência absoluta de pagamentos eletrônicos deixa o país exposto a falhas na infraestrutura digital, ataques cibernéticos e apagões.
A ameaça é tão grave que o Ministério da Defesa sueco começou a recomendar que os cidadãos voltem a usar dinheiro em espécie e mantenham reservas de pelo menos uma semana em diferentes notas como medida de defesa civil.
Mudança para o dinheiro em espécie
O banco central da Suécia afirmou que a eliminação do dinheiro em espécie aumentou a exclusão financeira e enfraqueceu a capacidade do país de responder a crises. Em seu último relatório, o banco central pede medidas para fortalecer a preparação e garantir que todos possam pagar, mesmo em situações de emergência.
Por sua vez, o governo sueco, em uma tentativa de corrigir o rumo, propôs uma lei que obrigaria certos estabelecimentos públicos e privados a aceitar dinheiro em espécie. Esta medida, impensável há alguns anos, responde às crescentes preocupações com a segurança dos pagamentos digitais. Além disso, a Noruega, que também avançou na eliminação do dinheiro físico, implementou medidas semelhantes. Lá, o governo aprovou uma lei que penaliza empresas que se recusam a pagar em dinheiro e recomendou que a população economize dinheiro em caso de crise digital.
As "bolhas de dinheiro"
Para o governo sueco, há outro problema. Pessoas sem acesso a contas bancárias, cartões de crédito ou celulares, como idosos, migrantes, moradores de rua e pessoas com problemas de saúde mental ou pobreza extrema, dependem exclusivamente de dinheiro. Essa dependência os confina a uma espécie de "bolhas de dinheiro", restringindo seu acesso a bens e serviços essenciais.
De fato, o caso de uma avó que economizou para comprar um presente para o neto e foi rejeitada no caixa viralizou, ilustrando a humilhação e o desamparo sentidos por aqueles excluídos desta economia digital.
Bancos e controle digital
É mais uma das pernas a serem tratadas. A rejeição ao dinheiro não é apenas uma questão econômica, mas também emocional e social. Eles disseram ao The Conversation que a digitalização gerou um sentimento de solidão e perda de senso de comunidade, com interações cada vez mais impessoais.
Assim, o que antes era visto como um movimento inevitável em direção a um mundo sem dinheiro está agora sendo reconsiderado como um risco estratégico. Suécia e Noruega, os países mais avançados na digitalização de pagamentos, tiveram que recuar para garantir a resiliência de suas economias a possíveis crises.
O caso sueco também mostra que, embora a digitalização de pagamentos ofereça eficiência e conveniência, depender totalmente dela pode colocar a estabilidade de um país em risco em tempos de crise. Ironicamente, os países mais próximos de erradicar o dinheiro agora estão promovendo seu uso como medida de segurança nacional.
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