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EUA já têm seu primeiro smartphone fabricado localmente. Más notícias para o sonho de um "iPhone 100% americano"

Governo Trump está determinado a fabricar iPhone nos EUA, mas há dados que indicam o contrário

Liberty Phone é (quase) made in the USA
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PH Mota

Redator
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PH Mota

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Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

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A Purism o chamou de Liberty Phone, mas, além desse nome libertador, este telefone se destaca por algo muito especial: foi montado nos Estados Unidos. A boa notícia é que isso prova que é possível fabricar um iPhone dentro das fronteiras dos EUA. Isso pode deixar o governo desse país satisfeito, mas, na realidade, praticamente todo o resto são más notícias.

Celular (mais ou menos) "made in the USA"

Conforme explicado pelo The Wall Street Journal, a placa-mãe do Liberty Phone é fabricada nas instalações da Purism, o chip principal vem do Texas e a montagem é feita na fábrica da empresa em Carlsbad, Califórnia. Outros componentes vêm da China e de outros países asiáticos, mas, em essência, estamos lidando com um celular que atende às exigências do governo de Donald Trump.

Todd Weaver, CEO da Purism, explicou ao WSJ como vem trabalhando nisso há 10 anos e fez todo o possível para ter um celular composto por 100% de componentes dos EUA, "mas há algumas peças que simplesmente não têm cadeia de suprimentos". Sua intenção, no entanto, é continuar trabalhando para que, no final, todos os componentes venham de fornecedores americanos.

Escala insignificante

Mesmo com essas dificuldades, a Purism consegue lidar com o processo de fabricação, pois produz cerca de 10 mil unidades por mês e vendeu menos de 100 mil no total. Em 2024, a Apple vendeu pouco mais de 230 milhões de celulares, cerca de 19 milhões por mês. A fabricação de todos eles nos EUA deixa claro o volume de recursos necessários para migrar a produção para o país. No entanto, o CEO da Purism esclarece que poderia aumentar a produção para 100 mil unidades por mês em seis meses, se necessário.

Não é um celular de última geração.

O chip do Liberty Phone é um 8M i.MX da empresa holandesa NXP Semiconductors, produzido em uma fábrica em Austin, Texas, e não foi projetado para celulares, mas sim para carros. Outros componentes, como a tela e a bateria, vêm da China, enquanto a câmera traseira vem da Coreia do Sul. O sistema operacional é o Pure OS, uma variante do Debian Linux que não é compatível com Android ou iOS e possui um catálogo de aplicativos muito limitado.

E custa US$ 2 mil

Weaver afirma que o Liberty Phone custa US$ 650 para ser fabricado (cerca de R$ 3,58 mil) — o custo estimado do hardware do iPhone 16 Pro é de US$ 550 (cerca de R$ 3 mil) —, mas a Purism o vende por um preço muito mais alto. Segundo ele, os US$ 1.999 que ele custa (cerca de R! 11 mil) — e isso em sua versão com 4 GB de RAM e 128 GB de armazenamento — refletem sua orientação: é um celular especialmente preparado para manter a privacidade do usuário. Aliás, metade dos clientes da Purism são agências governamentais dos EUA.

iPhone e tarifas

O Liberty Phone é um exemplo claro de como a exigência do governo Trump de fabricar o iPhone nos Estados Unidos pode afetar a Apple e seus usuários. Um dos grandes problemas é o fato de que os componentes de que esse telefone precisa não são fabricados nos EUA, ou não o são em larga escala. Os esforços de empresas como a TSMC para criar fábricas nos EUA atenuarão o problema, mas não o eliminarão.

Mão de obra especializada

Mas há um problema ainda maior: fabricar milhões de iPhones nos EUA exigiria mão de obra qualificada. A China tem sido a maior fábrica mundial de dispositivos tecnológicos há anos, não apenas por sua mão de obra barata – o que originalmente era – mas por sua qualificação. Diante de uma situação praticamente intransponível, a Apple optou por fabricar na Índia a maioria dos iPhones que acabam sendo vendidos nos EUA. Isso a expõe a tarifas elevadas, mas ainda será mais barato do que fabricá-los nos EUA ou enfrentar as enormes tarifas aplicadas às importações chinesas.

Missão quase impossível

O exemplo do iPhone é claro, mas há outro especialmente marcante: o T1 Phone, anunciado recentemente, foi apresentado como um celular totalmente montado nos EUA, e que também teria especificações impressionantes (embora não se diga qual SoC o controlará). O surpreendente é que o telefone teoricamente custará US$ 499 (cerca de R$ 2,75 mil) e estará disponível em agosto, mas parece absolutamente impossível que consigam produzi-lo cumprindo todas essas promessas. Tudo aponta para uma solução óbvia: que, na realidade, aquele celular que se diz fabricado nos EUA não seja, de fato, fabricado nos EUA, mas sim – como quase sempre – na China.

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