O supercomputador de Harvard chegou a uma conclusão: não há necessidade de instalar painéis solares em todos os lugares

Para otimizar a energia solar, é preciso escolher bem onde os painéis serão instalados | Imagem: Rawpixel
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Igor Gomes

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Igor Gomes

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Subeditor do Xataka Brasil. Jornalista há 15 anos, já trabalhou em jornais diários, revistas semanais e podcasts. Quando criança, desmontava os brinquedos para tentar entender como eles funcionavam e nunca conseguia montar de volta.

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Nossa estratégia para a implantação de energia solar poderia ser muito mais inteligente. Não é isso que este humilde escritor está dizendo, mas sim um modelo computacional avançado desenvolvido pelas universidades Harvard, Rutgers e Stony Brook, nos Estados Unidos, após o processamento de cinco anos de dados da rede elétrica.

Rentabilidade climática

Essa é a chave para uma pesquisa recente publicada na revista Science Advances. Os autores identificaram as regiões do país onde cada novo painel solar oferece o maior retorno em termos de redução de dióxido de carbono.

A conclusão é clara: para maximizar a redução de emissões, em vez de instalar painéis solares em todos os lugares, é melhor instalá-los nos lugares certos.

O "onde" antes do "quantos"

Nem todos os megawatts de energia solar são gerados da mesma forma. O impacto da adição de energia fotovoltaica à rede depende fortemente da matriz energética existente na região. O estudo deixa isso claro após usar IA para processar dados horários de geração, demanda e emissões de 13 regiões dos Estados Unidos entre 2018 e 2023.

As regiões onde a energia solar tem um impacto descomunal são aquelas que ainda dependem fortemente de combustíveis fósseis altamente poluentes, como o carvão. Em lugares como Califórnia, Flórida, Centro-Oeste, Texas e Sudoeste, cada quilowatt-hora de energia solar injetado na rede substitui diretamente a energia gerada por usinas a carvão ou a gás. O resultado é uma redução maciça e imediata nas emissões de CO₂.

O que está acontecendo em outras regiões?

Em lugares como Nova Inglaterra, Centro-Oeste e Tennessee, o efeito é mínimo. O motivo? Eles já têm uma matriz energética mais limpa, com forte presença de energia nuclear, hidrelétrica e gás natural (que, embora seja um combustível fóssil, emite aproximadamente metade do CO₂ do carvão).

Nessas regiões, a adição de mais energia solar praticamente não altera as emissões, pois a energia substituída pelos painéis solares já era relativamente limpa. Em um mundo com recursos limitados, esse tipo de otimização pode ajudar a tornar os investimentos em energia limpa o mais eficazes possível. Mas, mesmo assim, existem padrões que só a IA consegue detectar.

O efeito contágio

Uma das descobertas mais fascinantes do estudo é que o modelo foi capaz de quantificar efeitos que antes eram difíceis de mensurar, revelando dinâmicas contraintuitivas na rede elétrica. Por exemplo, o estudo mostra que a instalação de painéis solares em uma região pode limpar o ar em outra.

O caso da Califórnia é paradigmático: um aumento de 15% em sua capacidade solar não só beneficiou o estado, como também reduziu as emissões diárias na região Noroeste em 913 toneladas e no Sudoeste em impressionantes 1.942 toneladas. Conclusão: investir em energia solar no deserto do Arizona pode ser uma das maneiras mais eficientes de reduzir as emissões no Oregon.

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