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Guerra na Ucrânia está sendo travada, antes de tudo, com drones; e isso está deixando um rastro infinito de fibra óptica

O que começou como uma solução para limitações dos drones convencionais tornou-se uma mudança estrutural na forma como a guerra é travada

Imagem | 12ª BRIGADA AZOV
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Entre as tecnologias aplicadas no campo de batalha na Ucrânia, poucas se comparam àquela atualmente reconhecida como uma das armas mais mortais. Estamos falando de drones e cabos de fibra óptica, uma combinação letal que tem o potencial de mudar a dinâmica do conflito. Na Ucrânia, cada drone russo que alça voo se torna uma aposta silenciosa entre a vida e a morte se for acompanhado por um cabo.

Agora, além disso, a tecnologia está deixando um rastro sem precedentes.

Verão invisível

A Forbes explicou isso recentemente. A Ucrânia está entrando em uma nova fase da guerra tecnológica com a implantação em massa de drones de ataque guiados por cabos de fibra óptica, marcando o que já é conhecido como o "verão dos drones de fibra". Assim, em campos e aldeias, os restos desses sistemas, que deixam faixas de fibra espalhadas como teias de aranha no chão, tornaram-se onipresentes.

O impacto ambiental imediato e a longo prazo dos quilômetros de cabeamento permanece incerto, mas a CEOBS está explorando diversas preocupações, como a possível liberação de microplásticos de cabos degradados, a contaminação por produtos químicos perigosos como PFAS, os riscos à vida selvagem devido a emaranhamentos físicos e as complicações que podem representar para atividades como a desminagem.

Não é só isso

Imagens recentes mostram até ninhos de pássaros construídos com fragmentos de arame, um símbolo do impacto dessa nova tecnologia. O que começou como uma inovação tática agora está transformando a forma como as batalhas são travadas: operadores ucranianos e russos podem contrabandear drones por janelas e portas para localizar e destruir veículos ocultos, superando as limitações dos drones convencionais que dependem de sinais de rádio vulneráveis ​​a interferência eletrônica.

Evolução de um conceito esquecido

Como quase tudo na guerra, a ideia não é inteiramente nova: já na década de 2000, a DARPA havia concebido drones guiados por cabo de fibra óptica para evitar interferência eletrônica. Mas foi somente na guerra na Ucrânia que esse conceito encontrou aplicação real. A Rússia foi a primeira a implantar drones de fibra óptica em pequena escala há pouco mais de um ano e rapidamente passou para uma produção mais ampla.

A Ucrânia, com o apoio de voluntários internacionais, como o ex-fuzileiro naval americano Troy Smothers, acelerou o plano: 15 empresas locais já estão fabricando esses drones (embora distantes das máquinas russas). O Ministro da Transformação Digital, Mykhailo Fedorov, liderou o esforço, fomentando a colaboração entre a iniciativa privada e as capacidades de defesa. Ao contrário dos drones tradicionais, que podem perder a comunicação se voarem sob ou atrás de uma colina, os drones de fibra óptica mantêm uma conexão ininterrupta por dezenas de quilômetros, sem emitir sinais que possam ser detectados pelo inimigo.

Táticas letais

Os primeiros drones de fibra óptica mal ultrapassavam 3 quilômetros de alcance, mas hoje missões de até 41 quilômetros foram documentadas. De fato, um vídeo russo mostra uma bobina de 50 km que pesa menos de 4 quilos, compatível com modelos maiores. Graças ao baixo consumo de energia da conexão com fio, alguns drones podem pousar e permanecer em modo de emboscada por longos períodos, prontos para serem ativados conforme a passagem de um alvo.

A Rússia também exibiu protótipos de pequenos robôs terrestres que funcionam como plataformas móveis para lançar drones de fibra óptica, expandindo sua autonomia e capacidade de ataque coordenado. O conceito de uma "operação teia de aranha", com múltiplos drones conectados e lançados de veículos não tripulados, está perigosamente perto de se tornar realidade.

Como impedir o impossível

Há alguns dias as tropas ucranianas tentaram de tudo para lidar com a situação, inclusive tesouras. Mas as medidas defensivas atuais são ineficazes diante da nova ameaça. Redes físicas podem deter alguns drones, mas uma rachadura é suficiente para permitir sua entrada, como mostram vídeos em que drones ucranianos passam por malhas russas sem resistência. Além disso, rastrear o cabo até seu operador tornou-se impraticável diante da paisagem emaranhada de fibras abandonadas.

Cortar o cabo também é uma opção teórica, e não prática: há um vídeo mostrando um quadricóptero conseguindo tal feito, mas isso requer uma combinação de precisão e timing extremamente complexa. Drones equipados com espingardas demonstraram eficácia em abater outros drones, mas são de pouca utilidade diante da velocidade e discrição dos FPVs de fibra. Algumas unidades ucranianas, como os Pássaros de Magyar, conseguiram interceptar dispositivos russos com a ajuda de radares táticos, mas seu alcance, novamente, é limitado e não escalável.

Sem regras claras

A proliferação de drones de fibra óptica está se acelerando em ambos os lados, e as defesas ainda não estão acompanhando sua implantação. Assim, as batalhas do futuro imediato podem incluir combates entre drones autônomos no ar, onde o tempo de reação humana não é mais suficiente.

Portanto, a necessidade de desenvolver interceptadores automáticos capazes de detectar e neutralizar esses drones em tempo real tornou-se urgente. O problema? Que o desenvolvimento de contramedidas está atrasado em relação à inovação ofensiva, e ninguém pode prever quanto tempo durará esta era de supremacia tática baseada em fios invisíveis, nem qual será o gatilho que a encerrará.

Imagem | 12ª BRIGADA AZOV

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