Guerra da Ucrânia registra avanço alarmante de doença letal da 1ª Guerra Mundial

Feridos de guerra passam horas, dias e até semanas para serem atendidos em unidades médicas equipadas, o que propicia o avanço da doença 

Soldados Ucranianos. Créditos:	NurPhoto //GettyImages
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Laura Vieira

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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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No front de guerra, não é só com tiro, porrada e bomba que os soldados precisam lidar. Também há riscos silenciosos que são tão perigosos quanto tomar um tiro. É o caso da gangrena gasosa, uma doença típica da 1ª Guerra Mundial, e que agora volta a assombrar os campos de batalha da Ucrânia. O retorno dessa infecção, antes praticamente erradicada na Europa, evidencia as falhas nas rotas de evacuação médica, hoje afetadas por ataques constantes, uso de drones e longos períodos de espera em abrigos improvisados. 

Gangrena gasosa: entenda o que é, quais os sintomas e os perigos

A gangrena gasosa é uma infecção bacteriana agressiva, que destrói o tecido muscular a uma velocidade devastadora. Ela é causada por bactérias do gênero Clostridium, muito comuns no solo e no intestino humano, e gostam de se alojar em feridas profundas, sujas, com pouco oxigênio e tecido morto. Até pouco tempo, quase não se ouvia falar dessa doença, mas parece que ela voltou com tudo na Ucrânia.

Além de ser perigosa, quando as bactérias da gangrena gasosa se instalam no corpo, elas causam uma dor sem igual. Bolhas de gás se acumulam sob a pele, produzindo uma sensação de estalo no corpo do ferido; e o músculo muda de cor, incha e se deteriora rapidamente. Após isso, vêm o choque séptico, as falhas respiratórias, circulatórias e, se nada for feito a tempo, a morte.

E por falar em tempo, ele é essencial no tratamento da gangrena gasosa. Sem tratamento imediato, a mortalidade é de quase 100%. Isso porque as bactérias se multiplicam rapidamente no tecido, o que pode ser fatal. Em relação ao tratamento, é feito uma combinação de cirurgia para remover o tecido necrosado e antibióticos intravenosos fortíssimos. Mas isso só é possível em hospitais equipados, exatamente o que falta em um país em guerra.

Soldados ucrânianos estão contraindo a infecção enquanto  esperam por socorro

A gangrena gasosa parecia estar restrita apenas ao período da 1° Guerra Mundial, devido às condições insalubres nas trincheiras, a natureza das lesões de guerra e a falta de tratamentos médicos eficazes e imediatos. Mas médicos estão vendo isso se repetir novamente no território ucraniano. A diferença é que, diferente da 1° Guerra Mundial, na guerra da Ucrânia já existem tecnologias que antes não existiam, como é o caso dos drones

Os drones mudaram totalmente as regras do campo de batalha. Isso porque mover um soldado ferido alguns metros já é o suficiente para atrair um ataque aéreo, então transportá-lo por quilômetros até uma unidade médica segura é quase uma missão impossível.

Por isso, muitos feridos acabam confinados por dias, às vezes semanas, em pontos de estabilização improvisados no subsolo. Ali, eles recebem apenas o básico para não morrer na hora, mas que não são o suficiente para impedir que a infecção se instale e avance. Quando finalmente chegam aos hospitais militares, alguns pacientes já não têm mais chances de recuperação. 

Cirurgiões relatam casos de feridas tão degradadas que as opções de reconstrução simplesmente deixam de existir. Em muitos deles, a gangrena gasosa já tomou o tecido muscular, e a única saída é amputar. Para outros, nem isso é o suficiente e a única opção é aguardar pelo fim da vida.

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