Nesta terça-feira (27/10), o Rio de Janeiro vivenciou a operação mais letal de sua história. Batizada de Operação Contenção, a ação foi conduzida pelas polícias Civil e Militar do Rio, com o objetivo de cumprir 100 mandados de prisão contra lideranças criminosas e conter a expansão territorial do Comando Vermelho, uma das maiores facções do país. O resultado da operação, no entanto, foi devastador: segundo informações da Agência Brasil, até o momento, estima-se que 119 pessoas morreram durante o confronto, um recorde histórico de mortes ocorridas durante uma operação policial no Brasil.
Mas além do grande número de mortes, um detalhe inusitado chamou a atenção: o uso de drones pela facção criminosa para lançar explosivos e tentar conter o avanço policial. As imagens rapidamente se espalharam nas redes e lembram muito cenas de um outro cenário de guerra: o conflito entre Rússia e Ucrânia. A seguir, entenda como funcionam os drones utilizados pelo grupo e se eles são parecidos com os da Ucrânia.
Operação Contenção: entenda como funcionou a ação
A Operação Contenção começou ainda na madrugada de terça-feira, com o deslocamento de cerca de 2,5 mil agentes das polícias Civil e Militar para os complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O objetivo era desarticular lideranças do Comando Vermelho e impedir a ampliação do domínio da facção para outras regiões e estados.
Mas, ao longo da operação, o Rio de Janeiro viveu momentos de tensão extrema. Ônibus e caminhões foram tomados e atravessados em vários pontos importantes da cidade, como Linha Amarela, Grajaú-Jacarepaguá e até a rua Riachuelo, localizada no centro, um dos pontos mais movimentados do Rio. Esse bloqueio impediu a circulação de ônibus e carros nas vias, deixando parte da população isolada em meio aos intensos tiroteios.
Além disso, muitas escolas, comércios e empresas fecharam pouco antes da hora do rush da cidade, por volta das 15 horas da tarde, pensando na segurança dos alunos e funcionários. Como consequência, as estações de metrô ficaram muito mais lotadas do que o normal, além das barcas, que levam para a região metropolitana do Rio, como Niterói, São Gonçalo e Itaboraí. Como muitas linhas de ônibus deixaram de rodar na cidade devido a confusão nas ruas, muitos que dependiam desse meio de transporte para voltar para suas residências não tiveram outra opção senão esperar até que tudo passasse.
Já na região onde o confronto começou, o terror foi ainda maior. Moradores das comunidades da Penha e do Complexo do Alemão viveram momentos de puro terror em meio aos milhares de disparos de fuzis e explosões de granadas. Muitas balas atingiram a casa de pessoas das comunidades, colocando a vida de milhares de inocentes em risco. Após o conflito, os moradores das comunidades resgataram mais de 60 corpos na área de mata da Serra da Misericórdia, entre os complexos do Alemão e da Penha, local em que muitos envolvidos da facção tentaram escapar. Muitos desses corpos, segundo os moradores, apresentavam sinais de tortura e execuções, como facadas pelo corpo, decapitação e tiros na nuca. Isso acabou aumentando ainda mais as críticas sobre a condução da operação.
Por outro lado, as forças de segurança alegam que os suspeitos reagiram com violência e estavam fortemente armados, o que teria resultado no alto número de mortes. Já entidades de direitos humanos e organizações internacionais classificaram o episódio como um massacre, questionando a proporcionalidade da ação e o risco imposto aos civis. As autoridades do estado, como o governador do Rio, Cláudio Castro, defendem que a operação foi legítima e planejada durante um ano.
Como funcionam os drones usados pelo Comando Vermelho na operação mais letal do Rio? Saiba as diferenças dos drones ucranianos
Um dos detalhes que mais chamou a atenção das autoridades foi o enorme poder bélico dos criminosos. Além dos drones e das granadas, o grupo também possui em seu arsenal fuzis antidrones, projetados para neutralizar equipamentos da polícia.
Segundo investigações, os drones utilizados pelo Comando Vermelho são modelos comerciais adaptados com dispositivos improvisados, uma espécie de garra mecânica que permite carregar e soltar explosivos, como granadas e artefatos caseiros. Ele funciona assim: o operador do equipamento, à distância, libera o mecanismo no momento desejado, fazendo o explosivo cair sobre o alvo. Essa adaptação, embora seja uma gambiarra, transforma drones comuns em armas letais perigosíssimas. Confira a seguir um vídeo publicado nas redes sociais mostrando o exato momento em que o drone lança uma granada:
Especialistas apontam que o uso desse tipo de tecnologia representa uma nova fase do conflito urbano. Em entrevista à BBC, o ex-policial e pesquisador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Roberto Uchôa, afirmou que o campo de batalha no Rio de Janeiro mudou de lugar. Agora, ele também pode ocorrer no céu. Segundo ele, o Estado deixou de ter o domínio absoluto do espaço aéreo urbano, uma vez que o acesso a drones e ao conhecimento técnico para modificá-los se tornou amplamente disponível.
O uso desses drones lançadores de granadas lembram muito o conflito que ocorre entre a Rússia e a Ucrânia, onde drones são usados em larga escala para ataques precisos. A diferença é que os equipamentos utilizados pela facção no Rio têm capacidades muito mais limitadas. Na Ucrânia, as forças utilizam drones do tipo FPV (First Person View), guiados em tempo real por óculos especiais que permitem manobras rápidas e ataques diretos. Já os drones brasileiros operam de forma mais simples, sem sistemas de navegação avançados. Porém, esse detalhe não diminui seu potencial de dano.
 
  
     
     
    
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