Europa toma medidas contra os submarinos “invisíveis” da Rússia navegando pelo Báltico

O novo sistema representa o reconhecimento de que a competição submarina voltou com força total… com a ajuda da IA

Submarino / Imagem: SEVMASH/VKONTAKTE
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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O lançamento do Khabarovsk, o novo e ultrassilencioso submarino russo capaz de empregar torpedos nucleares Poseidon, reativou um temor que permanecia latente havia décadas em cidades como Londres: a possibilidade de que o equilíbrio naval do Atlântico esteja voltando a pender a favor de Moscou.

A resposta do Reino Unido foi contundente e atende pelo nome de Atlantic Bastion.

Embora a imagem pública da ameaça russa costume girar em torno de navios de pesquisa como o Yantar, suspeito de mapear e potencialmente manipular cabos e dutos submarinos, especialistas europeus sabem que o que realmente assusta está muito mais abaixo.

A Rússia investiu décadas em reduzir a assinatura acústica de seus submarinos a níveis que beiram a invisibilidade, combinando novos sistemas de propulsão, revestimentos compostos e bombas de refrigeração praticamente indetectáveis. Nesse ambiente em que o silêncio é poder, um submarino fantasma com capacidade nuclear altera não apenas as rotas marítimas, mas o próprio coração das infraestruturas estratégicas que conectam a Europa ao mundo.

O Reino Unido se reinventa

Diante da ameaça ressurgente representada pelo Khabarovsk, a Royal Navy colocou em marcha o que denominou Atlantic Bastion, um plano concebido para restaurar a vantagem estratégica britânica em águas próprias e aliadas. Sua origem não é nova: o Reino Unido monitora a lacuna Groenlândia–Islândia–Reino Unido (GIUK gap) desde antes da criação da OTAN, e a Segunda Guerra Mundial já demonstrou que controlar esse corredor marítimo seria essencial para impedir que forças inimigas se infiltrassem no Atlântico Norte.

Mas o que antes eram destróieres e varreduras acústicas está se transformando em uma malha híbrida que combina fragatas Type 26 equipadas com sonar de nova geração, aeronaves P-8 Poseidon capazes de patrulhar milhares de quilômetros e, sobretudo, enxames de drones submarinos dotados de inteligência artificial. Segundo o Ministério da Defesa britânico, essa arquitetura busca detectar, classificar e acompanhar qualquer submarino inimigo que tente penetrar em águas britânicas ou irlandesas, fazendo isso de forma contínua, autônoma e com um alcance sem precedentes.

O núcleo do projeto será o Atlantic Net, uma rede distribuída de planadores submarinos autônomos equipados com sensores acústicos e guiados por sistemas de inteligência artificial capazes de reconhecer assinaturas sonoras com um nível de precisão que, até poucos anos atrás, beirava a ficção científica. Diferentemente do SOSUS da Guerra Fria, baseado em gigantescos hidrofones fixos instalados no fundo do mar, a nova geração será móvel, expansível e adaptável às rotas e aos comportamentos de submarinos cada vez mais silenciosos.

A ambição final é colocar no mar centenas de unidades baratas e persistentes que, em conjunto, criem uma malha de vigilância muito mais difícil de ser contornada. A metáfora é reveladora: se encontrar um submarino silencioso é como procurar uma agulha em um palheiro oceânico, a tecnologia moderna permite multiplicar exponencialmente o número de mãos que vasculham.

O desafio tecnológico de caçar sombras

No entanto, mesmo com essa revolução tecnológica, especialistas alertam que detectar os novos submarinos russos continuará sendo uma tarefa extremamente complexa. Desde os anos 1980, Moscou reduziu drasticamente as emissões acústicas de sua frota, o que obriga à combinação de sensores passivos, ativos e configurações complexas como o sonar biestático, no qual um navio emite o pulso e outro capta o eco.

Essas técnicas exigem coordenação, múltiplas plataformas e uma densidade significativa de sensores — algo que o Atlantic Bastion pretende oferecer, mas que ainda está longe de ser implantado em escala total. A chegada das fragatas Type 26, projetadas para serem o carro-chefe da guerra antissubmarino britânica, é fundamental para esse objetivo, assim como a cooperação com a Noruega e outros aliados que também estão reforçando sua capacidade no Atlântico Norte.

Mesmo que o Atlantic Bastion consiga limitar a presença de submarinos de ataque russos no Atlântico, existe uma dimensão que nenhum sistema ocidental consegue resolver: os submarinos estratégicos russos já não precisam deixar o próprio bastião no Ártico para ameaçar a Europa ou os EUA. Seus mísseis balísticos intercontinentais podem atingir alvos a milhares de quilômetros sem sair do Mar de Barents ou do Mar Branco, protegidos por camadas de defesa e por condições geográficas favoráveis.

Ali, joga-se um jogo letal de esconde-esconde no qual o Ocidente não pode penetrar sem escalar significativamente o conflito. O entrave é claro: o Reino Unido pode reforçar suas águas e vigiar cada metro do GIUK gap, mas não pode negar a capacidade nuclear russa implantada em seu refúgio natural, uma realidade que enquadra todo o esforço britânico muito mais numa lógica de contenção do que de dominação.

O Atlantic Bastion representa, em última instância, o reconhecimento de que a competição submarina voltou com força, agora alimentada por capacidades digitais, sensores distribuídos e plataformas autônomas que transformam a natureza da vigilância oceânica. O Atlântico Norte volta a se converter em um cenário de manobras silenciosas, no qual Rússia e Reino Unido medem sua resistência tecnológica em um ambiente que remete à Guerra Fria, mas com algoritmos e autonomia como novas armas.

Imagem | SEVMASH/VKONTAKTE

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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