Ele não queria uma família, queria uma dinastia: o plano do magnata chinês que gastou uma fortuna para ter 100 filhos em solo americano

Xu Bo, empresário chinês dos games, recorreu a múltiplas agências de barriga de aluguel nos EUA e agora é pai de mais de 100 crianças com cidadania americana

Mulher grávida. Créditos: Shutter
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
laura-vieira

Laura Vieira

Redatora
laura-vieira

Laura Vieira

Redatora

Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

359 publicaciones de Laura Vieira

Na realidade socioeconômica de hoje, ter um filho já é visto por muita gente como um ato de coragem. Mas agora imagina ter mais de 100, todos nascidos em outro país, por meio de barrigas de aluguel e com cidadania garantida desde o nascimento? Segundo uma investigação do Wall Street Journal, o bilionário chinês do setor de videogames, Xu Bo, foi atrás de várias agências de barriga de aluguel nos Estados Unidos para construir uma grande família em solo americano, explorando uma brecha da legislação que garante cidadania automática a qualquer criança nascida em solo americano, mesmo quando os pais são estrangeiros e o parto ocorre por meio de barriga solidária.

Bilionário chinês vai a várias agências de reprodução nos EUA e agora é pai de 100 crianças com cidadania americana

Ninguém imagina a ideia de conceber centenas de filhos, mas o chinês Xu Bo, fundador da empresa chinesa de jogos Duoyi Network, é pai de mais de 100 crianças geradas por meio de barrigas de aluguel nos Estados Unidos. Ainda que o número seja impressionantemente alto, pode piorar: a ex-namorada do bilionário, Tang Jing, alega que o número de filhos ultrapassa os 300. Mas, de acordo com a matéria do Wall Street Journal, a própria Duoyi Network confirmou oficialmente a existência de mais de 100 filhos.

Mas como Xu Bo conseguiu engravidar tantas mulheres? A resposta está na combinação entre reprodução assistida e uma brecha legal específica dos Estados Unidos. Como a barriga de aluguel comercial é proibida na China, Xu recorreu a agências de reprodução assistida em estados americanos onde a prática é permitida. Ao mesmo tempo, a legislação dos Estados Unidos garante cidadania a qualquer criança nascida em seu território, independentemente da nacionalidade dos pais.

Na prática, isso permitiu que cada gestação resultasse não apenas em um filho, mas também em um cidadão americano desde o nascimento. Xu teria contratado diversas agências simultaneamente, o que dificulta qualquer tipo de rastreamento. Além disso, esses processos costumam correr sob sigilo, e as empresas não compartilham informações entre si, criando um sistema fragmentado que facilita a multiplicação de contratos sem supervisão central.

Justiça dos EUA nega pedidos de paternidade de bilionário e expõe falhas no sistema

O processo de reconhecimento da paternidade dos mais de 100 filhos do bilionário não é de agora. Em 2023, um juiz da Califórnia negou a Xu Bo o reconhecimento legal de paternidade sobre várias crianças ainda não nascidas, uma decisão rara em um sistema onde esse tipo de solicitação costuma ser tratado como formalidade. Com isso, alguns bebês acabaram ficando em uma espécie de “limbo jurídico”, sob os cuidados de babás nos Estados Unidos, enquanto o processo corre na justiça.

O caso acabou expondo uma falha no sistema dessas agências e da legislação americana: quando contratos falham ou disputas surgem, são as crianças que ficam sem proteção clara. Além disso, apesar do crescimento desse mercado, não existem leis federais nos Estados Unidos que priorizem explicitamente o interesse do menor em arranjos internacionais de barriga de aluguel, o que faz com que decisões judiciais variem de estado para estado e criem “zonas sem lei”, exatamente como a enfrentada agora pelas crianças ligadas a Xu Bo.

Um artigo publicado pela revista Fertility and Sterility comprova que esse não é um caso isolado. Os pesquisadores analisaram os contratos internacionais de barriga de aluguel entre 2014 e 2019 nos Estados e concluíram que esse mercado quadruplicou, e quase 40% dos pais estrangeiros vinham da China.

Barriga de aluguel e cidadania “automática”: por que os EUA virou destino da reprodução sob encomenda

Para muitos clientes estrangeiros interessados em contratar o serviço de barriga de aluguel, o principal atrativo não é apenas ter filhos, mas garantir um passaporte americano. Crianças nascidas nos EUA podem, ao atingir a maioridade, solicitar residência permanente para os pais, transformando as barrigas de aluguel em uma alternativa mais barata aos programas tradicionais de imigração, mesmo que isso só vá acontecer 18 anos depois. No entanto, para bilionários como Xu Bo, esse arranjo funciona como uma forma de garantir vínculos permanentes com os EUA, acesso a sistemas legais mais previsíveis e liberdade de circulação internacional.

Em um país que vem endurecendo o discurso e as políticas contra a imigração, esse cenário começou a provocar reação política. Legisladores americanos passaram a discutir regras mais rígidas para limitar o acesso de estrangeiros à barriga de aluguel comercial, especialmente em casos ligados à obtenção de cidadania por nascimento. 


Inicio