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Conhecido como "um dos melhores jogadores de videogame do mundo", ele arrecadou dinheiro para criar seu próprio "culto"

Onur Binay Unsplash videogame culto melhor jogador do mundo. Imagem: Onur Binay Unsplash
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência, gamer desde os 6 e criadora de comunidades desde os tempos do fã-clube da Beyoncé. Hoje, lidero uma rede gigante de mulheres apaixonadas por e-Sports. Amo escrever, pesquisar, criar narrativas que fazem sentido e perguntar “por quê?” até achar uma resposta boa (ou abrir mais perguntas ainda).

No início dos anos 2000, um nome se destacou na esfera dos videogames online: Athene, pseudônimo de Bachir Boumaaza. Este jogador belga se destacou em "World of Warcraft", um jogo de RPG online massivamente multiplayer (MMORPG), onde milhões de jogadores em todo o mundo encarnam heróis em um universo fantástico. Athene rapidamente se tornou conhecido por suas performances extraordinárias.

Ele alcançou o nível máximo do jogo em tempo recorde, várias vezes, graças a uma organização detalhada e uma estratégia coletiva bem elaborada com sua equipe. Ele teria sido o primeiro a atingir o nível 70 em "World of Warcraft: Burning Crusade". Em 2008, ele também foi quase o primeiro a atingir o nível 79 (um mal-entendido aconteceu com a Blizzard, banindo Athene e sua equipe antes do Graal) na expansão "Wrath of the Lich King".

Provavelmente decepcionado por ter perdido a oportunidade de brilhar, ele tentou novamente e se tornou o primeiro a atingir o nível 85 durante "Cataclysm" em 2010 com seu camarada Forscience (também um Paladino).

Suas conquistas foram divulgadas no YouTube, onde ele publicava vídeos com um tom humorístico e provocador, o que contribuiu para construir sua notoriedade além do círculo de jogadores experientes. Esses conteúdos mesclavam demonstrações de jogabilidade e sequências mais pessoais, onde ele interpretava um personagem narcisista e excêntrico.

Em uma entrevista concedida à CNN (disponível aqui), ele explicou que fazia "a caricatura do jogador de videogame competitivo que polariza, mas atrai uma audiência fiel". Para entender bem sua notoriedade na época, podemos lembrar que ele teria sido expulso de um torneio na Suécia por razões de segurança: muitos fãs se reuniam por onde o jogador passava.

Uma causa humanitária através do jogo

Após vários anos gravitando no meio dos videogames em nível competitivo (um item nomeado em sua homenagem em "League of Legends", atingindo o ranque nº 1 em "Hearthstone"), Athene se voltou para um projeto de outro tipo: usar sua notoriedade para servir a causas humanitárias.

Em 2013, ele lançou a plataforma "Gaming for Good". Seu princípio: permitir que jogadores fizessem doações para ONGs como a Save the Children, em troca de chaves de videogames oferecidas por desenvolvedores parceiros. Durante uma entrevista concedida à CNN, ele explicou:

Como surgiu a ideia de arrecadar fundos?

Quando organizamos um torneio, arrecadamos US$ 25.000 e, a partir daí, pensei que talvez pudesse elevar a meta para um milhão, depois 10 milhões e agora mais de 20 milhões (...) Espero realmente poder alcançar o máximo de pessoas possível e fazer a diferença.

Este modelo atípico de arrecadação de fundos obteve certo sucesso. Durante um evento de caridade batizado de "The Siege", duas guildas de jogadores profissionais se enfrentaram por uma boa causa. Essa iniciativa permitiu arrecadar mais de dois milhões de dólares. No total, "Gaming for Good" teria permitido arrecadar mais de US$ 10 milhões para diversas organizações. Em 2015, Athene também criou um coletivo de streamers chamado "The Avengers", mobilizado para intervir em crises humanitárias.

Ele convocou streamers do mundo todo a participar. Na França, o chamado não passou despercebido por Adrien "Zerator" Nougaret.

Uma guinada controversa, entre admiração e desconforto

Paralelamente aos seus projetos de caridade, Athene começou a modificar a natureza de seu conteúdo. Com o tempo, ele gradualmente deixou o universo dos jogos para se dedicar a conteúdos mais focados em desenvolvimento pessoal e espiritualidade. Ele desenvolveu um discurso filosófico em torno do despertar da consciência e da busca por verdades universais.

Essa nova orientação, embora apreciada por alguns de seus fãs, preocupou parte de sua audiência. Por exemplo, no vídeo intitulado "Why Are We Here? Athene on TEDx", ele compartilha sua visão pessoal da realidade, influenciada por leituras científicas e metafísicas. O discurso mudou, e a comunidade online começou a se questionar. Mas foi seu documentário chamado "Athene's Theory of Everything" que explodiu.

Em um registro similar, em 2011, ele iniciou um projeto batizado de "The Singularity Group". Apresentado como um coletivo de voluntários engajados, esse grupo visa usar a tecnologia para ações filantrópicas. Baseado perto de Berlim, ele oferece um ambiente de vida e trabalho colaborativo onde os voluntários podem se dedicar a projetos com um impacto social positivo.

O grupo desenvolveu várias iniciativas, incluindo jogos mobile como "Mobile Minigames", permitindo aos jogadores gerar uma renda básica universal através da tecnologia blockchain. Eles também lançaram projetos como PRPS (Purpose) e DubiEx, focados na criação de soluções tecnológicas para o bem comum.

Algumas pessoas consideram essa evolução como o resultado de uma busca sincera por sentido. Outras veem nela uma liderança carismática. Testemunhos surgem em fóruns e redes sociais, evocando manipulações psicológicas, um discurso desconectado e uma comunidade agrupada em torno da figura central de Athene.

Um documentário publicado no YouTube em 2021, "Investigating Athene: The YouTuber Who Started a Religion", analisa essa transformação. Ele compila trechos de seus vídeos, entrevistas com ex-colaboradores e análises externas.

Algumas declarações feitas por Athene são interpretadas como tentativas de controle sobre seus seguidores, em um ambiente isolado do mundo exterior.

A figura de Athene continua complexa

Para parte da comunidade gamer, ele é um precursor e um filantropo que soube transformar sua popularidade em alavanca de solidariedade. Para outros, ele encarna um caso de estudo sobre os perigos da ultraexposição digital e do poder carismático na internet.

Embora o termo "seita" permaneça controverso, as práticas de Athene claramente provocaram uma ruptura com o público em geral. Hoje, ele continua publicando conteúdo em seus canais, mas sua audiência é bem menor do que na época de seus recordes em "World of Warcraft".

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