Cidade peruana recém-descoberta pode mudar a história da América Latina

A descoberta de Peñico mostra como a civilização Caral conseguiu sobreviver à mudanças climáticas sem violência

Cidade de Caral vista por cima. Créditos: Wirestock/Getty Images
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Laura Vieira

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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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Uma nova descoberta no deserto do Peru está mudando o que se sabia sobre as origens das civilizações nas Américas. Em julho deste ano, a arqueóloga Ruth Shady descobriu a cidade de Peñico, localizada a quatro horas da capital do país, Lima. Erguida há quase 4 mil anos pela civilização Caral, o achado traz pistas sobre o modo de vida desse povo que viveu sem guerras, sobreviveu a mudanças climáticas e deixou marcas culturais impressionantes.

Conheça Peñico, a cidade escondida do Peru

O mundo está repleto de curiosidades que não fazemos ideia. É o caso da cidade de Peñico, escondida no deserto peruano há aproximadamente 3,8 mil anos. Ela surgiu a poucos quilômetros (11 km) do sítio arqueológico de Caral, quando parte da população precisou se deslocar em busca de água durante uma longa seca, mas permaneceu soterrada durante séculos pela areia do vale do Supe. 

O grande diferencial de Peñico é que, diferente de outras cidades antigas marcadas por conflitos, ela apresenta sinais de ter sido uma sociedade pacífica. Os templos, casas e objetos encontrados revelam que a sociedade conseguiu manter suas tradições religiosas, artísticas e sociais sem violência, mesmo diante dificuldades, como longos períodos de seca. 

Para a arqueóloga Ruth Shady, que começou a escavar Caral em 1994, Peñico ajuda a compreender como uma das primeiras civilizações do continente reagiu às mudanças sem conflitos. Os Incas, Maias e Astecas, por exemplo, eram Estados militaristas que entravam em conflitos para dominar territórios e obter recursos, algo que não era feito pela civilização de Caral. 

Civilização de Caral: saiba mais sobre essa sociedade

Cidade de Caral. Créditos: 	Wirestock/Getty Images A civilização de Caral valorizava elementos artísticos e cultura, com anfiteatros, praças circulares e instrumentos musicais construídos na cidade. Wirestock/Getty Images

Antes de incas, maias ou astecas, o povo caral já tinha se estabelecido no litoral árido do Peru. Essa civilização viveu entre 3.000 a.C. e 1.800 a.C., em uma posição estratégica no litoral do Pacífico e terras férteis dos Andes, estabelecendo relação com rede de cidades interligadas pelo comércio e pela troca cultural

O detalhe que mais chamou atenção dos pesquisadores é que na cidade de Peñico não foram encontradas armas nem muralhas defensivas, mas elementos que valorizavam a arte e a cultura, como anfiteatros, praças circulares e instrumentos musicais. As escavações revelaram flautas feitas de ossos de aves e esculturas com símbolos ligados à natureza, demonstrando que a música e os rituais ocupavam papel central na vida coletiva. 

A descoberta de Peñico não é apenas mais um marco arqueológico, mas um ensinamento para o presente. Isso porque, há quase quatro mil anos, o povo Caral mostrou que era possível enfrentar uma crise climática com adaptação e cooperação ao invés de violência

Saiba como visitar Caral e Peñico 

Hoje, tanto Caral quanto Peñico estão abertos e podem ser visitados com guias locais. A experiência envolve conhecer as pirâmides de barro, as praças circulares e os templos onde a civilização de Caral realizavam cerimônias. Os guias, moradores locais treinados pela equipe de Shady, ajudam os visitantes a entender como essa sociedade se organizava, revelando detalhes sobre a política, religião, astronomia e agricultura local.

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