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Há 60 anos descobrimos algo escondido na selva do Peru; agora sabemos que, na verdade, ele era muito maior

  • Arqueólogos descobriram mais de 100 estruturas no Gran Pajatén, no Peru

  • Descoberta revelou extensão do assentamento e fornece pistas sobre sua civilização, os Chachapoyas

Imagens | Fundo Mundial de Monumentos (Heinz Plenge Pardo)
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Entre os séculos VII e XVI, o nordeste dos Andes, onde hoje é o Peru, viu a prosperidade de uma rica civilização que enfrentou os Incas: os Chachapoyas, o "povo da floresta nublada". Ali, entre 2.000 e 3.000 metros acima do nível do mar, seus povos ergueram construções funerárias e cerimoniais que, ao longo dos séculos, acabaram sendo devoradas pela vegetação rasteira. Um de seus maiores legados é o Gran Pajatén, na região de San Martín. Os arqueólogos o conhecem há décadas, mas ao estudá-lo com novas técnicas, como o escaneamento LiDAR, ficaram surpresos. Conheciam apenas uma pequena parte do complexo.

O que encontraram é tão interessante que o Fundo Mundial de Monumentos (WMF) já fala sobre o maior marco arqueológico da região desde os anos 80.

O que aconteceu?

O Peru acaba de surpreender os historiadores. Especialmente aqueles dedicados ao estudo das civilizações pré-hispânicas. Há poucos dias, o WMF revelou que um grupo de pesquisadores identificou e documentou mais de cem estruturas arqueológicas no Gran Pajatén, um dos sítios arqueológicos mais importantes do Parque Nacional do Rio Abiseo, na Amazônia peruana. Na verdade, também é conhecida como "a cidade perdida dos Chachapoyas" ou "El Dorado del Antisuyo".

Por que é importante?

Por vários motivos. O estudo não só fornece informações que ajudam a compreender o assentamento, como também nos ajuda a aprender mais sobre a civilização que ele representa: os chachapoyas ("povo da floresta nublada"), uma cultura pré-colombiana que floresceu entre os séculos VII e XVI e se destacou, entre outras coisas, por suas construções, como a impressionante fortaleza de Kuélap, uma cidadela localizada a 3.000 metros acima do nível do mar no que hoje é a província de Luya; ou o Gran Pajatén, com suas construções circulares de pedra, terraços decorados, caminhos sinuosos e plataformas.

E quem eram os Chachapoyas?

Uma parte notável da história do Peru Antigo. Como lembra a WMF, a civilização floresceu entre os séculos VII e XVI no nordeste dos Andes, onde hoje é o Peru, organizando-se em torno de senhorios regionais. Apesar da inclinação do terreno, eles conseguiram se adaptar e demonstrar sua habilidade como arquitetos: construíram assentamentos com construções circulares características, frisos e mausoléus. Não só isso. Eles também conseguiram resistir à pressão dos incas, embora tenham sido subjugados no século XV.

O que exatamente eles descobriram?

O Gran Pajatén é conhecido há décadas, está localizado em um ambiente tombado pela UNESCO e arqueólogos já foram responsáveis ​​por examiná-lo antes. De fato, na década de 1960, eles documentaram 18 estruturas e, algum tempo depois, na década de 1980, expandiram a lista para 26 elementos. Agora, os especialistas descobriram que isso era apenas a ponta do iceberg.

Com a ajuda de novas técnicas e recursos, a expedição liderada pela WMF identificou mais de 100 estruturas arqueológicas que dão uma nova dimensão ao assentamento. A descoberta é tão relevante que a agência fala da "primeira descoberta importante na região desde a década de 1980". "Mais que dobra o número de estruturas arqueológicas conhecidas", comemoram.

O que tudo isso nos diz sobre o Gran Pajatén?

Muito. O sítio foi descoberto em 1963 e, desde então, os arqueólogos o consideram "um dos sítios Chachapoya mais notáveis ​​que se conservam", com edifícios cerimoniais decorados com frisos e mosaicos de pedra representando figuras humanas. O problema é que os especialistas não conseguiram obter uma visão geral do complexo Chachapoya ou de sua extensão. O motivo? Grande parte de sua arquitetura ainda estava oculta, coberta pela exuberante vegetação da alta selva peruana.

Essa deficiência e a falta de perspectiva condicionavam até então a imagem que os especialistas tinham do sítio. "Sua escala, função e cronologia eram objeto de especulação contínua", aponta a WMF, lembrando o "ecossistema único e altamente frágil" que circunda o assentamento, no Parque del Río Abiseo. Para protegê-lo, as autoridades chegam a restringir o acesso de turistas.

E a que conclusões se chegou?

Para começar, os pesquisadores confirmaram que a presença Chachapoya em Gran Pajatén pode remontar ao século XIV. E isso é pelo menos. Há certas pistas que sugerem "ocupação significativamente anterior". Durante a expedição, eles também detectaram uma rede de estradas pré-hispânicas que conecta o complexo com La Playa, Las Papayas ou Los Pinchudos, o que, para a WMF, corrobora "uma interpretação mais ampla do complexo como parte de um território hierárquico e interconectado".

"A equipe documentou um conjunto arquitetônico composto por múltiplos setores interconectados. Isso nos permite compreender o Gran Pajatén em sua verdadeira magnitude, não como um grupo isolado, mas como parte de uma rede articulada de assentamentos pré-hispânicos de diferentes períodos", afirma Juan Pablo de la Puente, diretor da WMF. "Esta descoberta muda radicalmente a dimensão do sítio e levanta novas questões sobre o papel de Pajatén no mundo chachapoya."

Como o descobriram?

Se o Gran Pajatén é conhecido há mais de meio século,e até agora, a densa vegetação impediu os arqueólogos de se aprofundarem em seu estudo, a próxima pergunta é óbvia: o que mudou? Por que novas construções foram descobertas agora? A resposta é simples: os especialistas recorreram a novas ferramentas que lhes permitiram enxergar através desse manto verde sem a necessidade de alterar o ambiente ou danificar estruturas.

A chave está em varreduras aéreas e manuais com LiDAR, fotogrametria, registro topográfico e análises tecnomorfológicas. Graças a elas, os especialistas conseguiram levantar o denso manto de vegetação para observar o que se encontra por baixo, mapear tudo, estudar as técnicas arquitetônicas utilizadas no assentamento e como ele se adapta ao seu ambiente. "Tudo isso sem danificar a delicada paisagem ou seus vestígios arquitetônicos", insiste a federação internacional.

Eles fizeram algo mais?

"Graças ao uso de tecnologia avançada, nossa equipe conseguiu coletar documentação visual e científica extraordinária que dá vida ao Gran Pajatén, preservando seu delicado ambiente", comemora Bénédicte de Montlaur, presidente da WMF. "Embora o sítio ainda seja inacessível para a maioria das pessoas, essas ferramentas nos permitirão compartilhar seu significado." A equipe apresentou imagens de seu trabalho no Museu de Lima, entre 2023 e 2024.

Para completar sua missão, os pesquisadores também realizaram tarefas de conservação, limpando a vegetação de forma "controlada" e reforçando as escadas, os mosaicos e uma parede externa. Tudo, insiste a organização, "sem alterar sua autenticidade". "Este trabalho é uma intervenção pioneira que servirá de modelo para futuras ações de conservação na área", acrescenta o Dr. Ricardo Morales Gamarra, um dos especialistas que participaram do projeto.

Imagens | Fundo Mundial de Monumentos (Heinz Plenge Pardo)

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