China realizou sonho da ficção científica: canhão eletromagnético capaz de atingir 3 mil disparos por minuto

Militarização deste tipo de armamento pode marcar antes e depois na forma como armas leves são concebidas

Imagem | CFTV
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

'Doom', 'Fallout', 'Halo' ou 'Crysis' são alguns dos videogames que brincaram com a ideia dos chamados rifles Gauss, armas que utilizam campos magnéticos para tornar o impossível possível: lançar projéteis metálicos a uma velocidade extrema. Em universos como "Ghost in the Shell" ou filmes como "Minority Report", vimos ideias semelhantes, mas sempre dentro da ficção científica.

É por isso que o que a China anunciou é extraordinário.

A arma do futuro

Em um avanço que pode transformar radicalmente o conceito de armamento moderno, cientistas do Exército de Libertação Popular da China revelaram o desenvolvimento do primeiro canhão de bobina sem capacitor do mundo, um canhão eletromagnético capaz de atingir uma cadência de 3 mil tiros por minuto.

Esse número, inatingível para armas de fogo tradicionais e bem acima dos modelos comerciais americanos como o GR-1 "Anvil" (limitado a 100 tiros por minuto), foi possível graças a uma reformulação radical do sistema de energia: em vez de usar capacitores tradicionais para armazenar e liberar energia, a nova arma é alimentada diretamente por conjuntos de baterias de lítio de alto desempenho. A abordagem elimina os tempos de recarga entre disparos, até então considerados o calcanhar de Aquiles das armas eletromagnéticas, e abre caminho para atingir fogo contínuo em velocidades até então exclusivas da ficção científica.

Precisão milimétrica

O protótipo experimental (revelado em um estudo publicado no Journal of Gun Launch & Control) apresenta um design compacto semelhante ao de um bullpup, inspirado na submetralhadora belga P90, e utiliza 20 bobinas de cobre de 25 mm cada. Seu funcionamento é baseado em sensores que ativam com precisão semicondutores de potência de nanossegundos (IGBT), energizando cada bobina apenas 2 milímetros antes do projétil entrar nela e cortando a energia 35 milímetros após sua saída.

Essa ativação sequencial permite maximizar a aceleração sem gerar resistência reversa, aumentando assim a eficiência energética do sistema. A arma pode disparar projéteis metálicos a velocidades de 86 m/s. Além disso, inclui algoritmos de mapeamento de posição temporal, simulações de elementos finitos para otimizar o disparo e sistemas de dissipação térmica que evitam o superaquecimento das baterias, mesmo com picos de corrente de 750 amperes.

Vantagens táticas invisíveis

Os pesquisadores destacam uma série de vantagens importantes em relação aos protótipos iniciais de anos anteriores (vídeo acima) que podem tornar a tecnologia uma referência em futuras operações militares: não há flash de disparo, ele é silencioso e o nível de letalidade pode ser ajustado dependendo da situação. Essas características tornam o canhão de bobina chinês um candidato ideal para, por exemplo, missões secretas, operações de supressão e ambientes urbanos.

Além disso, a cadência de tiro (cinco vezes maior que a de um fuzil AK-47) permite criar uma espécie de parede contínua de projéteis que pode saturar qualquer tentativa de resposta inimiga em situações de tumultos ou combate a curta distância. No entanto, os próprios autores do estudo reconhecem que ainda existem limitações importantes: a precisão ainda é baixa em comparação com as armas balísticas tradicionais e o tempo de recarga das baterias gira em torno de uma hora, o que condiciona seu uso contínuo em operações prolongadas.

Nova era?

No papel, a China alcançou com este canhão de bobina não apenas um marco técnico, mas também uma possível redefinição do armamento portátil de próxima geração. A conjunção entre eletrônica de potência, algoritmos de controle milimétrico e avanços em baterias de lítio e chips semicondutores nos permite pensar em um futuro próximo, onde armas eletromagnéticas não serão ficção científica, mas sim mais comuns em arsenais militares.

Os pesquisadores enfatizaram que o protótipo atual tem uma orientação não letal, mas seus fundamentos técnicos já permitem o design de variantes muito mais potentes, versáteis e difíceis de rastrear. Num contexto global onde a supremacia tecnológica é cada vez mais um fator decisivo em conflitos geopolíticos, o desenvolvimento da China marca um novo ponto de inflexão que pode alterar o equilíbrio de poder em termos de armas pessoais avançadas.

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