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China está parando de emprestar dinheiro e começando a receber: isso não é uma boa notícia para muitas nações

China abandonou papel de credora generosa após a Rota da Seda e se tornou credora implacável, priorizando cobrança em vez de novos empréstimos.

Imagem | f erickin no Unsplash
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

A era de ouro do financiamento chinês acabou. Pequim não oferece mais financiamentos para construir portos e ferrovias; agora exige o pagamento do que emprestou.

A China emprestou mais de US$ 800 bilhões a 150 países desde 2013 com sua iniciativa "Rota da Seda". Hoje, 60% desse conjunto de créditos está nas mãos de países em incapacidade financeira ou à beira do colapso.

O dinheiro que os países devem devolver à China a cada ano já excede o "novo" dinheiro que a China empresta. É o fim do modelo expansivo da última década: o país está deixando de ser um credor generoso para se tornar um credor implacável.

A estratégia

A China dividiu seus devedores em duas categorias, e cada grupo é tratado de forma radicalmente diferente:

  • Países grandes com dívidas enormes (80% do valor total): recebem resgates, empréstimos-ponte e linhas de crédito especiais. Paquistão, Sri Lanka, Venezuela, Argentina, Angola.
  • Países pequenos com dívidas menores (20%): apenas prorrogações de pagamento. Nenhum dinheiro novo. Zâmbia, Gana, Mongólia, Tajiquistão, República do Congo.

É claro que a abordagem do primeiro grupo não se resume à generosidade, mas sim à autopreservação. A China está resgatando aqueles que, se falirem, podem levar seus bancos estatais ao colapso.

Os demais são abandonados à própria sorte.

Crise começou cedo

Especificamente em 2015, dois anos após o início dessa estratégia, quando os preços de algumas matérias-primas despencaram.

A COVID-19 acelerou os problemas, assim como a guerra na Ucrânia. O aumento das taxas de juros em nível global foi a gota d'água.

O rastro do dinheiro

Agora, a China está replicando o modelo dos bancos ocidentais das décadas de 1980 e 1990, quando Wall Street e City emprestaram maciçamente petrodólares após as crises do petróleo da década de 1970. Quando a crise da dívida da década de 1980 chegou, eles deixaram de financiar o desenvolvimento e passaram a exigir programas de ajuste estrutural.

Os mesmos bancos que haviam impulsionado a dívida tornaram-se os credores mais difíceis. A China está nessa transição: de um "parceiro estratégico para o desenvolvimento" para um credor que prioriza seus balanços bancários em detrimento da estabilidade dos países devedores. Esse é o mercado.

Em suma, a China completou sua transformação de potência emergente para potência estabelecida, e sua política financeira reflete isso.

A Rota da Seda foi o último grande projeto expansivo de um país que buscava influência global assegurando apoios com dinheiro barato.

Agora que tem essa vantagem, age como qualquer credor maduro: exigindo o pagamento.

É o fim de uma era e o início de uma ordem financeira global mais previsível, mas também mais implacável.

Imagem em destaque | f erickin no Unsplash

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