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A Ucrânia entrou em uma fase tão descontrolada que seus próprios drones estão se abatendo entre si

A Ucrânia é um laboratório de guerra tecnológica em que cada erro, cada interferência e cada inovação são uma antecipação de conflitos futuros

Guerra de drones fica caótica / Imagens: State Emergency Service of Ukraine, National Police of Ukraine
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Victor Bianchin

Redator
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Já se passaram mais de seis meses desde que a guerra na Ucrânia entrou de vez em uma das fases mais descontroladas do conflito. Estamos falando de uma cena que, à época, parecia mais própria da ficção científica: drones lançando drones para atacar outros drones. Com o tempo, esses drones “mãe” se tornaram parte do dia a dia nas ofensivas. O que ninguém previu é que haveria um tráfego tão caótico que ninguém sabe a bandeira do drone que vem pela frente.

Sim, a saturação de drones na guerra da Ucrânia gerou um cenário sem precedentes em que a guerra eletrônica se transforma em uma arma de dois gumes: na tentativa de bloquear drones russos, as forças ucranianas frequentemente interferem em seus próprios aparelhos, provocando perdas e falhas em plena operação. No pior dos casos, abatendo-se entre si.

Isso acontece porque muitos drones de ambos os lados utilizam as mesmas frequências, como ocorre com os Zala russos e os Shark ucranianos. Quando as unidades de guerra eletrônica buscam neutralizar os Zala, também deixam inoperantes os Shark, imprescindíveis para detectar alvos que depois são atacados por artilharia e mísseis. A confusão é tamanha que, em alguns setores de apenas um quilômetro de frente, pode haver mais de 60 drones no ar, exigindo uma coordenação constante que raramente é perfeita.

O risco da saturação

O Business Insider reporta que as condições na linha de frente geram situações de pânico em que soldados, incapazes de distinguir rapidamente se um drone é aliado ou inimigo, optam por bloquear todas as frequências disponíveis ou até mesmo atirar contra qualquer aparelho em voo. Essa incerteza se agrava porque muitos drones carregam explosivos improvisados ou lançam granadas, um verdadeiro caos que deixa à infantaria apenas segundos para decidir.

A sobreposição de sinais também permite que operadores, sem intenção, se conectem à transmissão de drones inimigos, recebendo involuntariamente informações sobre seus movimentos e objetivos. Sem dúvida, o fenômeno reflete os limites técnicos da guerra eletrônica em um ambiente onde a densidade de drones supera qualquer registro anterior em conflitos bélicos.

A magnitude do uso de drones transformou o campo de batalha em um laboratório de inovação em tempo real. A Ucrânia, carente de armas ocidentais suficientes e superada pelo tamanho do exército russo, apostou na produção massiva de drones de todo tipo, desde modelos industriais até criações em oficinas improvisadas, alcançando 2,2 milhões em 2024 e com o objetivo de dobrar esse número em 2025.

Paralelamente, a Rússia aumentou seu investimento em produção e implantação, utilizando enxames de drones tanto na linha de frente quanto em ataques combinados contra cidades ucranianas, onde mistura drones kamikazes com mísseis para dificultar a defesa aérea. O resultado é uma dinâmica de ação e reação em que ambos os lados testam sistemas alternativos, como drones de fibra óptica resistentes a interferências, blindagens improvisadas contra ataques aéreos e plataformas potencializadas por inteligência artificial.

Consequências para a guerra atual

A experiência ucraniana mostra que a guerra moderna é travada não apenas com projéteis, mas também com sinais eletrônicos que podem decidir a eficácia ou o fracasso de uma ofensiva. A chamada “névoa da guerra” foi transferida para o espectro eletromagnético, onde a saturação de frequências transforma o céu em um espaço ingovernável.

Ao mesmo tempo, os erros de interferência, a vulnerabilidade dos sistemas e a criatividade improvisada dos combatentes estão estabelecendo precedentes que influenciarão os exércitos do futuro. As lições aprendidas na Ucrânia (desde a necessidade de protocolos de identificação mais sólidos até o redesenho de drones resistentes à guerra eletrônica) moldarão a forma como as potências integrarão enxames e contramedidas eletrônicas em suas doutrinas.

Imagem | State Emergency Service of Ukraine, National Police of Ukraine

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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