A Ucrânia abriu o drone de Moscou imune à guerra eletrônica; de russo, só tem o nome, o resto é dos aliados

A Ucrânia precisa tanto de inovação tecnológica quanto de apoio industrial e financeiro de seus parceiros. A guerra de drones se apresenta como decisiva no conflito

Drone / Imagem: Wikimedia Commons, National Police of Ukraine
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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O mais recente drone de Moscou, o mais sofisticado, caiu em mãos ucranianas. O serviço de inteligência militar ucraniano HUR revelou informações detalhadas sobre o Geran-3, um novo drone de ataque russo a jato derivado do Shahed-238 iraniano.

Sua incorporação ao arsenal russo representa um salto qualitativo em relação ao Geran-2: alcança velocidades de até 370 km/h graças ao seu motor turbojato, possui um alcance de aproximadamente 1.000 quilômetros e conclui seus ataques com uma manobra de imersão terminal que o faz detonar ao impactar. Seu uso em grande escala neste ano reflete a aposta russa em drones kamikaze cada vez mais sofisticados e produzidos em grandes volumes.

Design e capacidades

O Geran-3 mantém a configuração básica de seu antecessor, incluindo câmeras e sistemas de transmissão de vídeo semelhantes, mas incorpora um sistema de navegação por satélite que, segundo a Ucrânia, é resistente às técnicas usuais de guerra eletrônica.

Essa blindagem contra interferências representa um desafio adicional, pois limita a eficácia dos métodos eletrônicos que, até agora, conseguiam neutralizar parte dos drones inimigos. O design interno segue esquemas anteriores, porém otimizados para maior velocidade e para atravessar áreas com forte cobertura antiaérea.

O surpreendente — ou, a esta altura, nem tanto — é que a investigação do HUR indica que o drone contém quase 50 peças de origem estrangeira, provenientes de países como Estados Unidos, Reino Unido, Suíça, Alemanha e China.

Esse fato revela as dificuldades de controlar a proliferação de tecnologia de uso dual: embora as sanções internacionais busquem limitar o acesso da Rússia a componentes críticos, as cadeias de suprimento globais permitem que peças fabricadas no Ocidente ou na Ásia acabem em sistemas militares por meio de intermediários. O caso evidencia, mais uma vez, os limites das sanções e a necessidade de reforçar a rastreabilidade tecnológica.

Drones

Produção em massa

A Rússia multiplicou a produção de drones da família Shahed, alcançando níveis industriais que permitem ataques massivos de enorme envergadura. Já foram registradas ofensivas com mais de 800 drones em uma única noite. Estimativas de inteligência ocidental consideram possível que Moscou possa lançar até 2.000 unidades em um único ataque coordenado.

Além disso, estão sendo construídos novos centros de lançamento, o que demonstra uma estratégia planejada de saturação para desgastar as defesas ucranianas e impor um alto custo econômico em sua resposta.

Diante desse cenário, a Ucrânia acelerou a produção de drones interceptores capazes de perseguir e derrubar alvos em voo. Esses sistemas, mais baratos que os mísseis antiaéreos convencionais, buscam equilibrar a equação custo-efetividade que atualmente favorece a Rússia.

Paralelamente, estão sendo implementados sensores acústicos e ópticos para detecção precoce, junto a adaptações táticas em campo. Kiev tenta criar um escudo antidrones flexível e de baixo custo, consciente de que a principal ameaça reside no volume e na persistência desses ataques.

Implicações estratégicas

O Geran-3 simboliza a nova fase da guerra de drones: sistemas baratos, rápidos e difíceis de neutralizar que obrigam os adversários a gastar recursos muito mais caros em sua defesa. Essa dinâmica corrói doutrinas militares clássicas e exige que o Ocidente coordene a produção, compartilhe inteligência e fortaleça os controles de exportação para evitar que peças sensíveis alimentem o arsenal russo.

O conflito evidencia que a guerra tecnológica já não se trava apenas com armas estratégicas de alto custo, mas com enxames de sistemas autônomos cuja proliferação é difícil de conter.

O surgimento do Geran-3 antecipa uma escalada em que a Rússia apostará em ataques massivos e persistentes para saturar as defesas ucranianas, enquanto Kiev e seus aliados buscam soluções econômicas e rápidas para contrabalançar.

Assim, cada avanço em velocidade, autonomia ou resistência a contramedidas eletrônicas multiplica o risco de que a balança se incline a favor de quem puder sustentar a produção em série. Nesse cenário, a Ucrânia precisa tanto de inovação tecnológica quanto de apoio industrial e financeiro de seus parceiros, porque a guerra de drones se desenha como um componente decisivo do conflito.

Imagem | Wikimedia Commons, National Police of Ukraine

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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