Temos uma visão equivocada sobre o envelhecimento: cabelos grisalhos não são sinal de desgaste, mas uma limpeza de células tumorais

Cabelos grisalhos não são uma condenação do envelhecimento, mas sim uma alegria

Imagens | Alexandra Tran, Natasha Brazil
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PH Mota

Redator
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PH Mota

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Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

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Durante séculos, os cabelos grisalhos foram símbolo universal do envelhecimento, uma simples questão estética que denunciava a passagem do tempo ou excesso de estresse, às vezes disfarçado com tinturas. No entanto, ter cabelos grisalhos pode ser uma boa notícia para muitas pessoas, já que um estudo publicado na Nature Cell Biology acaba de mudar essa perspectiva: cabelos brancos podem, na verdade, ser um mecanismo de defesa biológico.

O aparecimento de cabelos brancos é, para muitas pessoas, uma grande condenação que nos lembra que a idade não perdoa ninguém, e vemos até mesmo jovens com muitos cabelos brancos em idade precoce. Mas ter cabelos brancos pode ser um sinal relacionado ao risco de melanoma, um dos cânceres de pele mais agressivos, especialmente quando não detectado precocemente.

O dilema da célula

Para entender por que ter muitos cabelos brancos é uma boa notícia, precisamos ir à raiz do cabelo. É lá que se localiza o bulbo do folículo piloso, onde o cabelo cresce.

Um de seus componentes fundamentais é a célula-tronco melanócita, responsável pelo pigmento que dá cor ao cabelo. Por isso, quando essas células são afetadas, começa a haver uma deficiência de pigmento.

As pesquisas apontam que, quando essas células sofrem danos em seu DNA, como a exposição ao sol ou o envelhecimento da pele, o corpo ativa um mecanismo de controle.

Mecanismos de ação

Quando uma célula com DNA danificado surge, existe a possibilidade de que um câncer se desenvolva se ela começar a se dividir descontroladamente. Para evitar isso, as células-tronco utilizam um processo chamado "diferenciação sensorial", que faz com que a célula pare de se dividir e seja eliminada do tecido.

Ao eliminar essas células-tronco, esgotamos nossas reservas de pigmento e o cabelo nasce branco, mas o corpo garante a eliminação de uma célula potencialmente perigosa que poderia ter gerado um tumor se esse sistema de defesa não existisse.

O sistema pode falhar

Embora nosso corpo possua muitos sistemas de defesa para impedir a proliferação de células tumorais, às vezes eles falham e o câncer se desenvolve. Especificamente, o estudo aponta para diferentes carcinógenos (incluindo substâncias químicas ou radiação UV) que podem "manipular" essa decisão celular.

Ao contrário do dano causado pela radiação pura (que causa cabelos brancos), os carcinógenos ativam vias metabólicas específicas (como o metabolismo do ácido araquidônico) que forçam as células-tronco a sobreviver e se reproduzir, apesar de terem DNA danificado.

Dessa forma, o estresse causado por esses carcinógenos estimula o nicho das células-tronco a secretar uma molécula chamada ligante KIT. Este sinal tem a capacidade de bloquear a "desdiferenciação" que mencionamos anteriormente, impedindo a eliminação de células danificadas. A "boa" notícia é que não aparecem cabelos brancos, mas a má notícia é que as células danificadas se acumulam e se multiplicam, aumentando consideravelmente o risco de melanoma.

Existe, portanto, uma relação antagônica: o destino das células-tronco determina se teremos cabelos brancos ou câncer. Se o sistema funciona bem, a célula é eliminada e surge um fio de cabelo branco. Se o sistema é burlado por um agente cancerígeno, a célula persiste e o fio de cabelo branco não surge, mas há um risco maior de aparecimento de um tumor.

Medicina estética

Um de seus objetivos atualmente pode ser prevenir o aparecimento de cabelos brancos sem a necessidade de tinturas artificiais, através da reativação dessas células-tronco que foram "desativadas" e não produzem pigmento. Mas, para esses pesquisadores, estamos diante de uma péssima ideia.

O que eles destacam é que a repigmentação dos cabelos brancos em certas áreas do couro cabeludo pode ser, paradoxalmente, um sinal precoce de melanoma, indicando que células que deveriam ter se "aposentado" estão voltando à atividade de forma descontrolada.

Em resumo, da próxima vez que você encontrar um fio de cabelo branco no espelho, não o veja apenas como um sinal de envelhecimento. Encare-o como uma pequena vitória para o seu corpo: uma célula-tronco que decidiu se "aposentar" a tempo de protegê-lo.

Imagens | Alexandra Tran, Natasha Brazil

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