NVIDIA pagou US$ 20 bilhões para "licenciar" tecnologia da Groq; mas, na verdade, a comprou

  • Empresa está reescrevendo regras de como se tornar um monopólio sem ser notada

  • Operação é uma aquisição completa, mas disfarçada de acordo de licenciamento

Imagem | Groq, NVIDIA
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PH Mota

Redator
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Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

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A NVIDIA chegou a um acordo para "licenciar" os ativos da Groq e pagará US$ 20 bilhões por eles. A empresa — que não deve ser confundida com o chatbot de Elon Musk, Grok — projeta e fabrica chips de IA para inferência de modelos há anos. As aspas em "licenciamento" são importantes, porque isso não é um apenas acordo: é uma aquisição disfarçada.

O que aconteceu

Na quarta-feira, foi noticiado que a NVIDIA havia concordado em assinar um acordo de licenciamento com a startup de IA Groq. Essa notícia foi confirmada pelos próprios gestores da Groq em seu blog, onde falaram de um "acordo de licença não exclusiva para tecnologia de inferência para acelerar a inferência de IA em escala global". Mas o que ambas as empresas dizem é uma coisa e o que isso realmente representa é outra bem diferente.

Como comprar uma empresa sem comprá-la

Como parte do acordo, o CEO e cofundador da empresa, Jonathan Ross, se juntará à NVIDIA, assim como Sunny Madra — seu atual presidente — e outros executivos seniores. Eles se juntarão à companhia para ajudar a NVIDIA a avançar e escalar essa tecnologia licenciada". A Groq ressalta que continuará operando como uma "empresa independente" liderada por Simon Edwards, que era seu diretor financeiro (CFO) e agora se tornará o CEO.

A NVIDIA fica com (quase) tudo

Em setembro, a Groq levantou US$ 750 milhões em uma rodada de financiamento, elevando seu valor de mercado para US$ 6,9 bilhões. A Disruptive, a BlackRock e outras empresas participaram da rodada. Alex Davis, CEO da Disruptive, indicou à CNBC que a NVIDIA manterá todos os ativos da Groq, exceto um: o recém-lançado negócio de nuvem da empresa.

A maior "pseudoaquisição" da NVIDIA

Esta operação é, de longe, a mais importante para a NVIDIA, que comprou a empresa israelense Mellanox — que projeta chips — por US$ 6,9 bilhões em 2019. Em um e-mail interno obtido pela CNBC, o CEO da NVIDIA, Jensen Huang, explicou que "embora estejamos adicionando funcionários talentosos às nossas fileiras e licenciando a propriedade intelectual da Groq, não estamos adquirindo a Groq como empresa". A frase é significativa, mas delicada, e a NVIDIA pode estar querendo evitar o escrutínio dos órgãos reguladores com esse tipo de pseudoaquisição.

Eles já fizeram outra pseudoaquisição antes

Em setembro passado, a NVIDIA fez um movimento idêntico ao "investir" US$ 900 milhões na startup de servidores Enfabrica. Neste caso, eles chamaram essa operação de acordo de licenciamento para sua tecnologia, mas, assim como neste caso, o que aconteceu foi que o CEO da Enfabrica, Rochan Sankar, e outros funcionários acabaram integrando a força de trabalho da NVIDIA.

O que é Groq?

Embora o nome seja confundido com o do chatbot xAI, esta startup de IA faz algo muito diferente desse modelo. A Groq foi fundada em 2016 por um grupo de ex-engenheiros do Google liderados por Jonathan Ross e Douglas Wightman. Ross foi um dos criadores das Unidades de Processamento Tensorial (TPUs), e Wightman fez parte da equipe do Google X, tornando-se o primeiro CEO da Groq até sua saída em 2016.

O que a Groq faz?

A empresa projetou chips de IA especificamente voltados para a interferência de modelos de IA, ou seja, para acelerar a execução desses modelos. Embora a NVIDIA e outras empresas estejam focadas em chips para treinamento de modelos – uma fase igualmente crítica –, elas não estão tão preparadas para a inferência.

Chatbots a todo vapor

É aí que entra a Groq, que permite acelerar extraordinariamente a inferência e garantir que, ao interagirmos com os modelos, eles "escrevam" em altíssimas velocidades. É assim que se obtém taxas de tokens por segundo muito altas, bem acima de outras infraestruturas. Além disso, a Groq também é mais barata graças aos seus chips especializados; portanto, se você quer que seu chatbot responda na velocidade máxima, os chips da Groq são uma opção fantástica.

Como ser um monopólio sem dizer isso

Este investimento da NVIDIA demonstra sua intenção de diversificar seus negócios e não ficar presa às suas próprias soluções. A enorme operação lhe confere uma vantagem competitiva significativa porque, até hoje, nenhuma das grandes empresas de IA havia se concentrado especificamente em chips de inferência. A Groq fez isso desde o início e, com este "acordo", fica claro que o domínio da NVIDIA neste setor pode ser fortalecido. Alguns analistas dizem que se trata de uma jogada defensiva, e não estratégica, e talvez não estejam errados: o Google está se fortalecendo cada vez mais com suas TPUs, e o fato de a Groq agora fazer parte da NVIDIA — embora eles não queiram admitir isso — permitirá que ela concorra melhor com o Google e os demais rivais que começam a desafiar esse domínio.

Imagem | Groq | NVIDIA

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