Baby boomers criaram a "crise dos 40". A geração Z enfrenta algo muito diferente: a depressão dos 20 anos

Mulheres com menos de 30 anos são o grupo que apresenta maior infelicidade.

Imagens | Mathias Reding, Anthony Tran
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PH Mota

Redator
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Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

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Por décadas, a psicologia e a economia tomaram como certa uma "verdade universal" sobre nossa satisfação com a vida: a felicidade tem formato de U. Segundo essa teoria, somos felizes na juventude, atingimos o fundo do poço na meia-idade (a famosa crise dos 50) e recuperamos a alegria na velhice. Mas isso acaba de ser completamente desmentido.

Um estudo publicado na PLOS ONE veio para abalar o consenso existente. Após analisar dados de mais de um milhão de pessoas em 44 países diferentes, a conclusão é clara: a curva da infelicidade desapareceu.

Adeus à crise dos anos 50

O que foi constatado é uma grande mudança estrutural na forma como vivenciamos a vida ao longo do nosso ciclo. Isso marca o fim do formato de corcova, onde, ao representar graficamente a infelicidade, o pico máximo se dava entre os 40 e 50 anos. Agora, o gráfico é uma linha descendente.

Os dados apontam para uma situação bastante preocupante nos Estados Unidos. Em 1993, apenas 2,9% dos jovens com menos de 25 anos relataram ter experimentado "desespero", definido como um mês inteiro de saúde mental debilitada. Em 2023, esse número saltou para 8%, ultrapassando os grupos de meia-idade que historicamente lideravam as estatísticas.

Disparidade de gênero

Embora a deterioração seja generalizada entre os jovens, o estudo de Blanchflower concentra-se em uma disparidade alarmante. No Reino Unido, dados do UKHLS coletados entre 2009 e 2023 mostram que a porcentagem de mulheres jovens com problemas graves de saúde mental aumentou de 4,4% para 12,7%.

Nesse caso, não estamos falando de uma tristeza passageira, mas de indicadores clínicos de ansiedade e depressão, que são doenças mentais extremamente sérias. Dessa forma, o estudo aponta que a chamada "crise do quarto de vida" suplantou completamente a crise da meia-idade.

É tentador culpar a COVID-19 por todo esse fenômeno e por como ele afetou a saúde mental, mas os dados sugerem que a pandemia foi apenas um acelerador que intensificou algo que já estava em curso.

Há muitos pontos importantes a serem considerados para entender o que está acontecendo na mentalidade dos jovens, como a precariedade econômica, a incerteza no emprego ou mesmo a dificuldade de acesso à moradia. Um terreno fértil para que os jovens comecem a apresentar grandes problemas de saúde mental quando percebem que não conseguem alcançar seus objetivos, como ter um emprego estável e uma casa.

Impacto da tecnologia

Não se deve esquecer que a geração Z nasceu praticamente com um celular debaixo do braço, mas isso também a tornou uma das gerações mais isoladas. No caso da Espanha, estudos sugerem que 69% dos jovens já se sentiram sozinhos em algum momento, independentemente do número de seguidores que têm nas redes sociais ou da quantidade de interações sociais.

Entre os fatores que contribuem para isso está a dificuldade de se emancipar, mas também a dificuldade de criar laços de qualidade com outras pessoas, tudo isso devido à instabilidade de não se manter sempre no mesmo emprego ou de ter que mudar de cidade para realizar estudos específicos.

Um grande desafio

Estamos diante de uma mudança de paradigma global, que gera grande pressão sobre os sistemas de saúde pública. Essa crise da geração dos 25 anos coincide também com um aumento nos suicídios entre jovens espanhóis, portanto, os serviços de saúde mental precisam ser reforçados para lidar com essa epidemia de infelicidade que se observa entre a população mais jovem.

Em resumo, estamos vivenciando uma mudança de paradigma global, o que também condiciona mudanças nos níveis de felicidade nas diferentes faixas etárias.

Imagens | Mathias Reding, Anthony Tran

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