A guerra da Ucrânia entrou em sua fase Mad Max: a Rússia está lançando investidas de motocicletas para romper a linha de frente

Soldados têm apenas três segundos para reagir e quem sobreviver só ganha o direito de ir na próxima onda

Mad Max? Rússia está enviando soldados em motocicletas para poupar blindados / Imagem: Telegram/Ministério da Defesa da Rússia
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Os drones mudaram tanto as táticas de combate que a guerra na Ucrânia se tornou um laboratório de testes onde tecnologias de ponta e armamentos do passado se misturam na tentativa de encontrar uma vantagem sobre o inimigo. Já vimos como a Primeira e a Segunda Guerra Mundial são reconhecíveis em algumas práticas. A mais recente: uma ofensiva russa que a Ucrânia não viu chegar — ondas ofensivas de tropas sobre duas rodas.

As investidas suicidas

As imagens que têm sido exibidas em diversos canais parecem mais com cenas da saga Mad Max do que com a vida real. E não apenas pela aparência e pelo ambiente desses esquadrões, mas também pelo tipo de ofensiva e o desfecho na maioria dos casos. O que se observa é uma perigosa evolução das táticas de assalto, em que o exército russo começou a usar motocicletas como principal ferramenta para avançar sobre as linhas ucranianas, numa tentativa de evitar a destruição de seus blindados modernos diante do poder dos drones de ataque de precisão.

O Telegraph mostra que um quarto dos soldados russos que participam das ofensivas terrestres agora o fazem sobre duas rodas — um dado que ressalta o desespero estratégico de Moscou diante de um inimigo que domina o ar com enxames de drones FPV.

Essas incursões, que frequentemente envolvem mais de 100 motociclistas simultaneamente, têm uma taxa de mortalidade extremamente alta, razão pela qual os próprios combatentes russos começaram a compartilhar nas redes guias de sobrevivência com conselhos que parecem tirados de um cenário de guerra pós-apocalíptico.

Uma lógica brutal

A lógica por trás desses ataques de moto é tão simples quanto aterrorizante: tanques são alvos fáceis e soldados a pé são lentos demais. As motocicletas, por outro lado, podem se mover rápido, dispersar-se, ziguezaguear e, com sorte, escapar dos drones antes de serem detectadas. Porém, velocidade não é proteção e os FPVs, com velocidades de até 190 km/h e autonomia de vários minutos, transformam qualquer erro em sentença de morte.

O guia compartilhado no canal russo do Telegram Rambo School resume de forma clara: “Sua moto é velocidade, não armadura. Um erro é a morte”. A recomendação: evitar estradas retas, deslocar-se por terrenos acidentados, reagir em menos de três segundos, livrar-se de qualquer peso extra e, se um drone for detectado, afastar-se dos companheiros para dividir o risco. “Não freie. Ou você morre”, repete o lema central.

A pequena chance de sobrevivência aumenta se rotas de fuga forem exploradas e se o soldado dirigir entre árvores, prédios ou diretamente pela mata, esperando que o drone colida antes de atingir o alvo.

Táticas sem retorno

A Forbes relata que esses ataques não buscam tomar território estratégico em larga escala, mas ganhar alguns metros e pressionar as linhas defensivas. Seu sucesso, portanto, é marginal e quase sempre temporário, mas reflete uma realidade brutal: a vida do soldado russo é tratada como descartável em uma guerra de desgaste onde a prioridade é o volume, não a eficiência.

Diferentemente de qualquer exército ocidental, que dificilmente aceitaria tal nível de baixas em uma única operação, a Rússia parece confortável em presumir que 80-90% desses motociclistas não retornarão. Sobreviver a um desses ataques não é uma recompensa, mas sim ser o primeiro na próxima onda.

A mudança de paradigma militar na linha de frente ucraniana mostra uma guerra que está reinventando suas formas em tempo real. Dos tanques transformados em caixões móveis, passou-se para veículos leves como buggies, quadriciclos e motocicletas, que oferecem um pouco mais de mobilidade, mas perdem em proteção. A tendência parece clara: priorizar a evasão em vez da resistência.

No entanto, a evolução é recíproca. Se as investidas de motocicletas representam uma ameaça tática real, possivelmente não demorará muito para que a Ucrânia introduza contramedidas específicas, como drones “antimotos” com campos de visão mais amplos ou cabeças explosivas de fragmentação projetadas para neutralizar esses alvos móveis, e então surgirá a contrarresposta russa, e assim por diante. Por enquanto, a Ucrânia já triplicou sua produção de drones em um ano, alcançando 4,5 milhões em 2025, com operadores cada vez mais capacitados para interceptar e eliminar motociclistas antes que se aproximem da linha de frente.

Sacrifício perpétuo

Em resumo, o fenômeno das investidas suicidas de motocicleta não apenas evidencia o alto custo humano que se está disposto a pagar, mas também o caráter cada vez mais assimétrico e tecnológico do conflito. A imagem de soldados sem armadura avançando por estradas de terra para escapar dos drones como se fossem projéteis inteligentes retrata uma guerra que deixou para trás toda noção tradicional de confronto bélico.

O que acontece na linha de frente é mais parecido com um experimento letal de evolução militar, onde a adaptação significa a diferença entre ser pulverizado em segundos ou durar tempo suficiente para, talvez, morrer na próxima onda.

Imagem | Telegram/Ministério da Defesa da Rússia

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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